Por Eduardo Athayde
O semiárido abrange mais de 20% dos municípios brasileiros (1.135) e ocupa 18,2% (982.566 km²) do território nacional. Abrigando cerca de 11,84% da população do país, 24 milhões de brasileiros vivem na região, sendo 63% urbanos e 37% rurais (IBGE). 42% da população é formada por crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 17 anos, a geração que brevemente estará sentada nas cadeiras de comando.
Dos nove estados nordestinos, metade tem mais de 85% de sua área caracterizada como semiárida, estendendo-se pelo Norte mineiro e o Vale do Jequitinhonha, ocupando 18% do território daquele estado. Feira de Santana, com uma população de 622.639 habitantes (IBGE 2016), PIB de R$ 10,8 bilhões, um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM/ONU - 0,712) é a maior, mais rica cidade e capital do semiárido brasileiro, um status que não pode ficar despercebido.
O I Fórum de Cidade Solar, em 14/2, promovido pela Prefeitura de Feira de Santana, Sudene e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da ONU, deu mostras do poder do semiárido lotando o auditório da Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Feira, recebendo 18 prefeitos, recepcionados pelo prefeito anfitrião, Jose Ronaldo, além de universidades, empresários locais e nacionais, superintendente da Sudene, Marcelo Neves [primeira vez que um superintendente da Sudene vai à Capital do Semiárido desde 1969], Vivaldo Mendonça, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia da Bahia, e o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) que, com apenas 3 anos de fundada, já conta com 190 empresas associadas.
Durante o evento, Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, destacou o potencial do Brasil para a instalação de placas solares em telhados, setor que cresceu 322% entre 2015 e 2016, anos de crise. Com potencial de 180 gigawatts (GW), o Brasil atingirá 1 GW de energia solar fotovoltaica instalados em 2017, mesmo com os painéis solares custando até 40% mais que a importação da China, devido aos impostos. A participação da energia solar na matriz energética brasileira é estimada pular de 0,02%, em 2015, para mais de 10%, em 2030. Mostrando o potencial explosivo desse mercado, China e Índia planejam chegar a 100 GW solar fotovoltaicos instalados, em 2018 e 2022, respectivamente.
O lago de Pedra do Cavalo, com 420 km² de área, responsável por 60% do abastecimento de água de Salvador e região metropolitana - esquecido diante do seu imenso potencial “eco-nômico”, como transporte aquaviário, produção agrícola e de pescados, energia das algas, eólica e solar e vocação especial para o mercado imobiliário -, é quase dez vezes maior que o Lago Paranoá (48 km²) de Brasília e maior que a Baía de Guanabara (415 km²). A Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo, que gera 160 MW de energia limpa (Grupo Votorantin), é um dos poucos usos eco-nômicos do seu potencial.
O rico semiárido, historicamente divulgado apenas pela pobreza e a ignorância, está recebendo a luz nova do conhecimento e começa a inovar sustentavelmente, destravando seus potenciais e exibindo suas imensas riquezas. Fontes energéticas eólica, solar e hídrica são apenas três dos inúmeros potenciais. A biodiversidade, os saberes e a cultura semiáridos são um rico capitulo à parte. Parcerias com outros locais semiáridos do planeta, como a Califórnia, por exemplo (PIB de 2,5 trilhões de dólares), para troca de informações, ajudará a transferir conhecimentos e fortalecer redes de cooperação. Em visita a Pedra do Cavalo, dirigentes da Universidade de Berkeley manifestaram interesse em parcerias. A hora é chegada. Para firmar-se como Capital do Semiárido, Feira de Santana, além de ser a maior, terá que atrair inovação, ciência e tecnologia e investir em conhecimento, para ser a melhor.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. eduathayde@gmail.com
Publicado na edição desta quinta-feira do "Correio da Bahia"
O semiárido abrange mais de 20% dos municípios brasileiros (1.135) e ocupa 18,2% (982.566 km²) do território nacional. Abrigando cerca de 11,84% da população do país, 24 milhões de brasileiros vivem na região, sendo 63% urbanos e 37% rurais (IBGE). 42% da população é formada por crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 17 anos, a geração que brevemente estará sentada nas cadeiras de comando.
Dos nove estados nordestinos, metade tem mais de 85% de sua área caracterizada como semiárida, estendendo-se pelo Norte mineiro e o Vale do Jequitinhonha, ocupando 18% do território daquele estado. Feira de Santana, com uma população de 622.639 habitantes (IBGE 2016), PIB de R$ 10,8 bilhões, um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM/ONU - 0,712) é a maior, mais rica cidade e capital do semiárido brasileiro, um status que não pode ficar despercebido.
O I Fórum de Cidade Solar, em 14/2, promovido pela Prefeitura de Feira de Santana, Sudene e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da ONU, deu mostras do poder do semiárido lotando o auditório da Câmara de Dirigentes Logistas (CDL) de Feira, recebendo 18 prefeitos, recepcionados pelo prefeito anfitrião, Jose Ronaldo, além de universidades, empresários locais e nacionais, superintendente da Sudene, Marcelo Neves [primeira vez que um superintendente da Sudene vai à Capital do Semiárido desde 1969], Vivaldo Mendonça, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia da Bahia, e o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) que, com apenas 3 anos de fundada, já conta com 190 empresas associadas.
Durante o evento, Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, destacou o potencial do Brasil para a instalação de placas solares em telhados, setor que cresceu 322% entre 2015 e 2016, anos de crise. Com potencial de 180 gigawatts (GW), o Brasil atingirá 1 GW de energia solar fotovoltaica instalados em 2017, mesmo com os painéis solares custando até 40% mais que a importação da China, devido aos impostos. A participação da energia solar na matriz energética brasileira é estimada pular de 0,02%, em 2015, para mais de 10%, em 2030. Mostrando o potencial explosivo desse mercado, China e Índia planejam chegar a 100 GW solar fotovoltaicos instalados, em 2018 e 2022, respectivamente.
O lago de Pedra do Cavalo, com 420 km² de área, responsável por 60% do abastecimento de água de Salvador e região metropolitana - esquecido diante do seu imenso potencial “eco-nômico”, como transporte aquaviário, produção agrícola e de pescados, energia das algas, eólica e solar e vocação especial para o mercado imobiliário -, é quase dez vezes maior que o Lago Paranoá (48 km²) de Brasília e maior que a Baía de Guanabara (415 km²). A Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo, que gera 160 MW de energia limpa (Grupo Votorantin), é um dos poucos usos eco-nômicos do seu potencial.
O rico semiárido, historicamente divulgado apenas pela pobreza e a ignorância, está recebendo a luz nova do conhecimento e começa a inovar sustentavelmente, destravando seus potenciais e exibindo suas imensas riquezas. Fontes energéticas eólica, solar e hídrica são apenas três dos inúmeros potenciais. A biodiversidade, os saberes e a cultura semiáridos são um rico capitulo à parte. Parcerias com outros locais semiáridos do planeta, como a Califórnia, por exemplo (PIB de 2,5 trilhões de dólares), para troca de informações, ajudará a transferir conhecimentos e fortalecer redes de cooperação. Em visita a Pedra do Cavalo, dirigentes da Universidade de Berkeley manifestaram interesse em parcerias. A hora é chegada. Para firmar-se como Capital do Semiárido, Feira de Santana, além de ser a maior, terá que atrair inovação, ciência e tecnologia e investir em conhecimento, para ser a melhor.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. eduathayde@gmail.com
Publicado na edição desta quinta-feira do "Correio da Bahia"
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