Por Casimiro de Pina
A vitória de Trump, no escrutínio do
pretérito mês de novembro, provocou uma hecatombe nas redes sociais e,
digamo-lo com justiça, na cabeça de certos comentadores, palpiteiros e
analistas, cujos neurônios entraram, desde então, no modo… "desligado", que
aliás teima em persistir, até hoje. Dá que pensar.
A malta, que passou meses a
cantarolar as virtudes de Hillary Clinton e a quase necessidade histórica da
derrota do Partido Republicano, ficou perdida. Miley Cyrus chorou.
Organizaram-se sessões de "cura e terapia" para os mais sensíveis!
Os oráculos falharam redondamente. E
agora rogam pragas sem fim, num ritmo frenético, comovente…
Na cabeça desses iluminados e
politicantes, a democracia americana, que Tocqueville tanto admirava, entrou
repentinamente em decadência (após a vitória do magnata de Nova Iorque, claro),
num recuo formidável que só a rebuscada "ciência política" desses gênios do
Facebook consegue explicar.
Os exemplos abundam por aí. E a(s)
palhaçada(s) também.
A sra. Rosário da Luz sugere, no
cume da esperteza saloia, uma interessante ligação entre Trump e Hitler!
A ingenuidade (ou será tontice?) é
gritante, e parece ter sido captada naqueles velhos panfletos que circulavam
nos meios estalinistas.
É claro que a ilustre senhora, que
de vez em quando pontifica na TCV e passa nestas plagas por "analista", não
conseguiu explicar as semelhanças entre uma democracia constitucional
estabilizada (a mais antiga do mundo moderno, desde 1776, com a sua célebre
Declaração de Independência, escrita com brilho por Thomas Jefferson) e o
totalitarismo nazi, que devastou a Alemanha e a Europa a partir dos anos 30 do
séc. XX.
Para a confraria, os fatos não
interessam. Basta a paranoia.
O presidente Trump, que se saiba,
não mandou queimar o Congresso norte-americano, não provocou nenhum Holocausto,
não construiu nenhum campo de concentração (nem Gulags no Texas…), não teoriza
sobre o "Führerprinzip", não tenciona, penso, invadir Paris, não anexou o
Canadá, nem suprimiu, sequer, os partidos políticos rivais, a separação de
poderes e a força jurídica da Constituição de Filadélfia.
Pelo contrário, a grande luta desse
novo Hitler às avessas, odiado pelos "progressistas", é restabelecer a
autoridade moral da Constituição de 1787 e a rule of law, que o
estimável sr. Barack Hussein Obama, tão incensado pela CNN, por George Soros e
pelo New York Times, destruiu suavemente nos últimos oito anos (ver, por ex.,
Olavo de Carvalho, O advento da ditadura secreta, in http://www.olavodecarvalho.org/semana/120328dc.html;
Ignorância mútua, in http://www.olavodecarvalho.org/semana/080407dc.html;
Obama: a revolução desde cima, in http://www.olavodecarvalho.org/semana/0903digestoeconomico.html);
sobre o legado político de Obama, veja-se Roger Aronoff, The Obama legacy,
in http://www.aim.org/aim-column/the-obama-legacy/;
e Sean Hannity, By the numbers: Obama's Legacy Of Failure, in http://m.hannity.com/articles/election-493995/by-the-numbers-obamas-legacy-of-15435863/).
Obama reproduziu, durante a sua
presidência, as táticas radicais que aprendeu com o seu grande mentor
ideológico, Saul Alinsky. Obama financiou a Irmandade Muçulmana (ver http://cubaindependiente.blogspot.com/search/label/Partido%20Democrata)
e deu proteção ao Irã, cujo regime, apostado na obtenção da bomba nuclear, é
ferozmente antiamericano.
Mas tudo isso é cuidadosamente
retirado do debate público.
Donald Trump deixou, na verdade, os
esquerdistas e auto-proclamados progressistas sem norte, sem rumo nem direção.
Completamente.
Como escreveu certeiramente o
sociólogo e investigador Antonio Barreto no Diário de Notícias, captando
as incoerências da sagrada confraria, "As esquerdas em geral, incluindo
artistas, intelectuais, jornalistas, liberais americanos e progressistas
europeus, não suportam não ter percebido nem ter previsto o que aconteceu.
Como não admitem que são, tantas
vezes, responsáveis pelas derivas políticas dos seus países.
Já correm pelo mundo explicações
fabulosas sobre estas eleições. As mais hilariantes são duas.
Uma diz que, além dos machistas e
dos racistas, votaram em Trump os analfabetos, os desesperados, os
marginalizados pelo progresso, os desempregados e os supersticiosos.
A outra diz que o fiasco das
sondagens, dos estudos de opinião e dos jornalistas se deve ao facto de os
reacionários terem vergonha de dizer em quem votariam! Por outras palavras:
quem não presta votou em Trump e quem votou em Trump enganou-nos!
Tal como os democratas em geral, as
esquerdas atribuem sempre as culpas das suas derrotas aos defeitos dos
outros, da extrema-direita, dos ricos, dos padres, dos fascistas, dos
proprietários, dos patrões, dos corruptos e agora dos populistas".
Por falar nisso, a ideia de que
Trump foi eleito pela "América profunda e ignorante" é um puro disparate e
releva de um antiamericanismo tosco, vulgar e mal disfarçado.
É apenas uma fraude, que Sarah
Smarsh impugnou de forma implacável (ver https://www.theguardian.com/media/2016/oct/13/liberal-media-bias-working-class-americans).
Para alguns, só os partidos de
esquerda podem e devem vencer as eleições. Bela concepção de democracia!
Fala-se da "influência russa" na
eleição de Trump. Como Jeffrey Nyquist (http://www.midiasemmascara.org/artigos/globalismo/16805-marionete-russa.html)
e tantos outros já demonstraram, o partido democrata é a verdadeira marionete
dos russos, ao longo de décadas.
A Rússia, como explicou Mihai
Pacepa, é a primeira "ditadura de inteligência da história".
Um outro gênio do Facebook, Américo
Silva, que já foi governante em Cabo Verde e hoje vive nos EUA, descobriu, num
ápice, que o Colégio Eleitoral que elegeu Trump é, afinal, uma "instituição
esclavagista" (sic), torpe, ilegítima e absolutamente inaceitável, dir-se-ia!
O mais estranho é que o sr. Américo
e os outros ficaram caladinhos quando essa mesma "instituição esclavagista",
essa intolerável excrescência da supremacia racial, elegeu Obama, cuja
legitimidade política não foi alvo do mais leve questionamento. O duplo padrão
é execrável.
Trump nunca é tratado com
honestidade. Os críticos preferem inventar uma sua caricatura, que depois
atacam, qual espantalho, impiedosamente, para gáudio da populaça. O método é
patético, truculento, vergonhoso ao máximo.
Isso viu-se em duas medidas recentes
adotadas pelo novel presidente: o muro na fronteira com o México e a "ordem
executiva" suspendendo a entrada de imigrantes provenientes de 7 países, ideia
que já vinha de Obama.
Os críticos nunca dizem, todavia,
que 70% dos criminosos estrangeiros nos EUA são mexicanos.
Ora, o muro serve para estancar esse
movimento, que põe em causa, nitidamente, a segurança nacional e a prosperidade
dos norte-americanos.
A imprensa matreira não diz,
também, que a ideia da construção do muro veio de Bill Clinton, que a defendeu
com unhas e dentes, num discurso sobre o estado da União, já em 1995, em nome
do "império das leis".
Surpresa desagradável: Bill e
Hillary Clinton construíram um muro de 300 milhas na fronteira com o México.
Como são de esquerda, tudo bem, apoiado!
A suprema hipocrisia midiática
apagou, porém, todos estes fatos, apresentando Trump como um desalmado
xenófobo que só sabe separar nações, "em vez de edificar pontes de união e
amizade".
A ordem executiva sobre os
imigrantes é perfeitamente racional e justificada.
Só uma crassa ignorância do contexto
pode alegar o contrário.
Num próximo artigo retomaremos o
assunto, mas os mais curiosos podem ler Ann Coulter (http://www.frontpagemag.com/fpm/265755/maniac-running-our-foreign-policy-its-not-trump-ann-coulter)
e Joseph Klein (http://www.frontpagemag.com/fpm/265711/judicial-overreach-national-security-joseph-klein),
desfazendo em pó toda a desinformação reinante.
La Boétie estava certo: vivemos,
cada vez mais, no reino da servidão voluntária. Porque queremos e
adoramos a mentira.
Casimiro
de Pina, jurista cabo-verdiano, é autor do livro 'Ensaios Jurídicos: Entre a Validade-Fundamento e os
Desafios Metodológicos'.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
Nenhum comentário:
Postar um comentário