Por Reinaldo Azevedo
Os
números da Petrobras que vieram a público não derivam de uma tramoia urdida
pela oposição. Também não decorrem de alguma armação orquestrada por
adversários do estatismo. Aldemir Bendine, atual presidente da empresa, que
acompanhou a confecção do balanço, é um petista com extensa folha de serviços
prestados ao petismo. Foi posto na estatal para, vamos dizer, arranjar as
coisas: nem poderia ser inconvincente a ponto de o mercado dar de ombros e
considerar o balanço uma empulhação; nem poderia ser, vamos dizer, de um
realismo cru.
E foi esse misto de realismo e prudência industriada que produziu,
ainda assim, números espantosos: o prejuízo da Petrobras, no ano passado, foi
R$ 21,587 bilhões. O custo-corrupção, por enquanto, está em R$ 6,194 bilhões. A
revisão dos ativos levou a uma baixa de R$ 44,636 bilhões. O ano passado
terminou com a empresa devendo R$ 351 bilhões. O irrealismo, ou
surrealismo, em que a empresa estava metida era de tal ordem que o mercado
internacional até que reagiu bem aos números. Talvez aconteça o mesmo por aqui
nesta quinta.
Atenção, meus caros! A admissão desses números não decorreu de uma
iniciativa interna, dos comandantes da empresa, do governo, das autoridades
públicas responsáveis pela área. Tratou-se de uma imposição da consultoria
PricewaterhouseCoopers (PwC) para continuar a auditar o balanço.
Eis aí o resultado de 12 anos de gestão petista. Como ignorar que
o modelo de eficiência e gestão da Petrobras, cantado em prosa e verso,
permitiu que a empresa se tornasse um covil, uma associação criminosa, um
valhacouto, um abrigo de larápios? E sempre caberá a pergunta óbvia e
obrigatória: onde mais?
E que se note: a empresa não exibe esses resultados desastrosos
apenas por causa da corrupção. A ela se somam também a má gestão, as decisões
equivocadas, a tacanhice ideológica e a vigarice intelectual. A Petrobras chega
à pior situação de sua história - trata-se da petroleira mais endividada do
planeta - porque o petismo usou o preço do combustível para compensar sua
política econômica canhestra e caduca. Agora mesmo, enquanto escrevo, a estatal
vende combustível com prejuízo em razão da questão cambial. Isso será corrigido?
É preciso ir além. Dados os números, a empresa terá de vender
ativos e, por óbvio, não poderá arcar com as obrigações que lhe impõe o regime
de partilha do pré-sal. Mas a estupidez e a ideologia barata continuarão a
deitar a sua sombra sobre a racionalidade.
O passado da Petrobras, mesmo com um encontro de contas, que
acabará sendo recebido até com boa-vontade pelo mercado, é esse que vemos, com
tais números. Mas que futuro aguarda a empresa brasileira? Basta olhar para o
mercado mundial de petróleo para constatar que o nacionalismo bocó, misturado
com a ladroagem mais nefasta, conduz a Petrobras à inviabilidade.
Eu poderia deixar barato, mas não vou, não. Dilma é a chefona do
setor energético e também da Petrobras - há 12 anos. Está no 13º. Esta
senhora só admitiu que poderia haver algo de errado na empresa 15 dias antes da
eleição - e ainda o fez de modo obliquo. Em 2009, já pré-candidata à Presidência,
a então chefe da Casa Civil foi a público para tentar implodir, e conseguiu, a
CPI da Petrobras.
Vejam o vídeo acima. Eu transcrevo a sua fala em seguida.
"Eu
acredito que a Petrobras é uma empresa tão importante do ponto de vista
estratégico, no Brasil, mas também por ser a maior empresa, a maior
empregadora, a maior contratadora de bens e serviços e a empresa que, hoje, vai
ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, espaço muito grande, né?, ela é uma
empresa que tem de ser preservada. Acho que você pode, todos os objetos, pelos
menos os que eu vi da CPI, você pode investigar usando TCU e o Ministério
Público. Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa- preta… Ela pode
ter sido uma caixa-preta em 97, em 98, em 99, em 2000. A Petrobras de hoje é
uma empresa com um nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque,
caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes
objetos de investimento. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo.
Agora, é espantoso que se refiram dessa forma a uma empresa do porte da
Petrobras. Ninguém vai e abre ação na Bolsa de Nova York e é fiscalizado pela
Sarbanes-Oxley e aprovado sem ter um nível de controle bastante razoável".
Nota: Sarbanes-Oxley é o nome de uma lei dos EUA (formado a partir
dos respectivos sobrenomes de um senador e de um deputado), de 2002, que
estabelece mecanismos de transparência contábil para as empresas que operam na
Bolsa dos EUA.
Enquanto Dilma dizia essas coisas, os ratos corroíam a Petrobras.
Convenham: quando menos, Dilma deveria ser enviada para uma cadeia
moral, não é mesmo?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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