Por Reinaldo Azevedo
Há mais de uma semana o
governo decidiu pautar a cobertura da imprensa, que, com raras exceções,
aceitou gostosamente a orientação. Com variações, destaca-se que há menos
pessoas nas ruas neste 12 de abril do que naquele 15 de março. Assim, fica
estabelecido, dada essa leitura estúpida, que um protesto político só é
bem-sucedido se consegue, a cada vez, superar a si mesmo. Isso é de uma tolice
espantosa, na hipótese de não ser má-fé. A população ocupou as ruas em centenas
de cidades Brasil afora. Mais uma vez, PT, CUT, ditos movimentos sociais e
esquerdas no geral levaram uma surra também numérica. Mais uma vez, o
verde-e-amarelo bateu o vermelho da semana passada. E é isso o que importa.
De resto, é impossível
saber o número de manifestantes deste domingo. Algum veículo de imprensa mandou
jornalista cobrir o protesto em Januária, em Minas; em Orobó, em Pernambuco, ou
em Ourinhos, em São Paulo? Haver menos gente na Avenida Paulista ou na orla de
Copacabana, no Rio, não tem nenhuma importância. Dá para afirmar, sem medo de
errar, que o "Fora Dilma" foi ouvido em todas as unidades da federação. E - daqui a pouco chego lá - contem com o PT para turbinar os próximos protestos.
Consta que o governo
respirou aliviado com o número menor, embora o Palácio do Planalto, ele mesmo,
tenha, desta vez, resolvido se calar. Parece que não haverá Miguel Rossetto e
José Eduardo Cardozo paracutucar a onça com a vara curta. A boçalidade ficou
por conta da militância virtual e paga (farei um post a respeito). Respirou
aliviado por quê?
Respirou aliviado no dia
em que o "Fora Dilma" se faz ouvir de norte a sul do país?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?
Respirou aliviado no dia em que o Datafolha aponta que 63% apoiam o impeachment da presidente?
Respirou aliviado no dia em que a pesquisa revela que 60% consideram o governo ruim ou péssimo?
Respirou aliviado no dia em que essa mesma pesquisa evidencia que 83% acreditam que Dilma sabia da roubalheira da Petrobras e nada fez?
Respirou aliviado no dia em que esse mesmo levantamento demonstra que a crise quebrou as pernas de Lula, pesadelo com o qual o petismo não contava nem nos momentos mais pessimistas?
Por que, afinal de
contas, suspira aliviado o governo? Com que jornada futura de boas notícias e
diminuição dos sintomas da crise ele espera contar? Sim, a indignação com a
roubalheira é um dos principais fatores de mobilização dos milhares de
brasileiros que foram às ruas. Mas há muito mais do que isso. Há a crise
econômica propriamente dita e a sensação, que corresponde à realidade, de que o
governo está paralisado.
Acontece que esse
mal-estar só vai aumentar porque o pacote recessivo ainda não surtiu todos os
seus efeitos. Mais: ninguém nunca sabe quando a operação Lava Jato vai chegar a
um fio desencapado, como é o caso de André Vargas, por exemplo. Consta que o
ex-vice-presidente da Câmara e petista todo-poderoso, ora presidiário, está
bravo com o partido, do qual havia se desligado apenas formalmente.
Acabo de chegar da
Avenida Paulista. Havia menos gente do que no dia 15 de Março? Sem dúvida! Mas
também sei, com absoluta certeza, que, desta feita, o protesto se deu num
número maior de cidades no Estado. No dia 15, encontrei verdadeiras caravanas
oriundas de cidades do interior e de outras unidades da federação. Aquele foi
uma espécie de ato inaugural. Havia nele a vocação de grito de desabafo, era um
enorme "Chega!". A partir deste dia 12, a tendência é que haja mesmo uma
diminuição de pessoas em favor de uma definição mais clara da pauta.
Mas é evidente que se
trata de um erro cretino imaginar que menos gente na rua implique que está em
curso uma mudança de humor da opinião pública. Não está, não! E que se note: se
o protesto do dia 15 tivesse reunido o número de pessoas deste de agora, muitos
teriam, então, se surpreendido. Acontece que aquele superou expectativas as
mais otimistas. Tomá-lo como régua de um suposto insucesso dos atos deste dia
12 é coisa de tolos ou de vigaristas. Mas o governo e o PT têm direito ao
auto-engano.
Vejo a coisa de outro
modo: os eventos deste domingo, 12 de abril, comprovam o que chamo de
emergência de uma nova consciência. Até torço para que o Planalto e o petismo
insistam que os atos deste domingo foram malsucedidos. É o caminho mais curto
da autodestruição. Esses caras ainda não perceberam que os que agora protestam
não querem apenas o impeachment de Dilma. Essa é a pauta contingente. Eles
falam em nome de uma pauta necessária, que é apear as esquerdas do poder, ainda
que esse esquerdismo, hoje em dia, não passe de uma mistura de populismo chulé
com autoritarismo.
Tenham a certeza,
petistas e afins: a luta continua!
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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