Por
Reinaldo Azevedo
O PSDB
emitiu uma nota sobre os protestos do dia 15 para tentar pôr um fim à
multiplicidade de vozes sobre o assunto. O texto não toca na palavra "impeachment", mas deixa claro que nenhum debate é proibido. É curioso. As
versões e expectativas sobre a atuação dos tucanos no evento são
contraditórias. Os petistas acusam seus principais adversários de estimular o
ato e mesmo de promovê-lo, de modo um tanto sorrateiro. Por outro lado, é
enorme a legião de inconformados com o que consideram a passividade do partido.
Então vamos botar os pingos nos is.
Que fique
claro: se o PSDB estivesse estimulando, promovendo ou mesmo financiando os
protestos, não haveria nisso nada de errado. É um partido político. Tem o
direito de apresentar as suas petições. Tem o direito de mobilizar a sociedade.
De legalidade discutível, isto sim, é o ato que a CUT vai promover na
sexta-feira em defesa do governo. É uma entidade de caráter sindical,
alimentada, inclusive, por um imposto. Existe para defender os interesses das
entidades a ela filiadas e seus respectivos trabalhadores - muitos deles, é
certo, contrários ao governo.
O petismo
tenta colar nos manifestantes de domingo a pecha de golpistas e de
inimigos da democracia. É um disparate. Quem pede o impedimento da presidente,
pouco importa o que cada um de nós pense a respeito, está se manifestando
dentro dos limites do estado de direito. Afinal, a medida é prevista na
Constituição e regulamentada por lei.
Muitos
podem achar que ainda não é hora de fazer esse debate; que não surgiram provas
contundentes contra Dilma, que o expediente é ruim para o país, que haveria uma
crise dos diabos pela frente… Os argumentos, em suma, podem ser os mais
diversos. Uma coisa, com certeza, é estúpida: afirmar que tal reivindicação é
golpe. Isso é opinião de quem odeia a democracia.
O PSDB,
definitivamente, não é a força oculta do protesto, como quer o sr. Alberto
Cantalice, o vice-presidente do PT com vocação para censor e para policial de
consciências. Querem saber? É bom que não seja. Melhor que a sociedade se
manifeste, na sua multiplicidade, livre de conduções partidárias. É próprio da
democracia que os indivíduos tenham pautas ainda não detectadas pelo radar dos
partidos. É um sinal de vitalidade.
Não vejo
por que tucanos devam tentar jogar água na fervura, como fizeram alguns. Esse é
o trabalho do PT e de seus aliados. Mas acho compreensível a prudência do
partido. Por enquanto ao menos, o impeachment não é a hipótese mais provável.
Se a reivindicação prosperar e se consolidar - e eu acho que há motivos para
isso, já escrevi muitas vezes -, será impossível o partido se ausentar.
Sim, Lula
e outros líderes de oposição estiveram em manifestações em favor do impeachment
de Collor. O único que chamava os protestos de "terceiro turno" era…. Collor,
talvez o criador da expressão. Acreditem em quem viveu intensamente aqueles
dias: ainda não há um quase consenso na sociedade semelhante àquele. Mas, por
óbvio, isso pode ser construído com debate, com a divulgação da verdade, com
esclarecimento, com convencimento.
Querem
saber? Acho excelente a notícia de que o movimento de domingo seja de
brasileiros sem carteirinha, sem pedigree, sem canga, sem dono, sem coleira,
sem arreios. Será uma gente nova a tomar praça. Não será chamada pela imprensa
de "movimento social", essa expressão diante da qual muita gente se ajoelha.
Serão, isto sim, movimentos individuais. De indivíduos livres. E é disto que
precisamos desesperadamente: de indivíduos. Eles formam a verdadeira sociedade.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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