A despeito de predições ao contrário, o acordo de unidade
entre o Fatah e o Hamas parece não apenas estar vivo e passando bem, mas estar
mais forte do que nunca.
No mês passado, os dois partidos mantiveram guerras
separadas contra Israel - uma, o Hamas, no campo de batalha; e a outra, o
Fatah, na arena internacional.
No início da guerra na Faixa de Gaza, analistas políticos
predisseram que o acordo de unidade que havia sido assinado pelo Hamas e pelo
Fatah em abril seria uma das primeiras vítimas da guerra.
Durante a guerra, entretanto, o Fatah e o Hamas
abstiveram-se de criticar um ao outro, como têm feito desde que assinaram o
acordo de unidade.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que
também é o chefe do Fatah, aproveitou a oportunidade da guerra para lançar
ataques mordazes contra Israel, acusando-o de perpetrar crimes de guerra e
genocídio.
Porém, Abbas não criticou o Hamas nem outros grupos
terroristas palestinos por lançarem foguetes e morteiros contra
Israel. Tampouco ele denunciou o Hamas por quebrar vários acordos de
cessar-fogo com Israel.
Semelhantemente, em grande parte, os mais altos líderes
políticos do Hamas se abstiveram de criticar Abbas e o Fatah por todo o tempo
da guerra.
É verdade que, no início da guerra, alguns líderes do
Hamas expressaram seu descontentamento pela maneira como Abbas estava tratando
do conflito, especialmente no que se refere ao seu fracasso em convocar
rapidamente o mundo árabe para prestar solidariedade aos palestinos.
No dia 12 de julho, o porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum,
criticou Abbas por solicitar um adiamento de uma reunião da Liga Árabe para
discutir a guerra.
Mas, desde então, o Hamas mudou sua posição,
particularmente à luz da decisão de Abbas de endossar as condições do movimento
islamista para um cessar-fogo.
Abbas e os líderes do Fatah até mesmo escolheram
agir como porta-vozes não-oficiais em favor do Hamas e da Jihad
Islâmica, freqüentemente endossando as declarações e posições destes.
A maioria dos líderes políticos do Hamas na Faixa de Gaza
era incapaz de aparecer em cadeias de televisão estrangeiras devido à
preocupação com sua segurança. Por isso, eles foram substituídos por líderes do
Fatah e da OLP, que fizeram o máximo para defender o Hamas e
acusar Israel de ser o único responsável pela guerra.
Durante a guerra também se viu Abbas e o Hamas trabalharem
juntos para coordenarem seus movimentos. No mês passado, Abbas encontrou-se no
Qatar com o líder do Hamas, Khaled Mashaal, para discutirem uma estratégia
comum com relação à guerra.
Depois da reunião, os dois emitiram uma declaração
conjunta para colocarem um fim à "agressão" dos israelenses e
para levantarem o bloqueio à Faixa de Gaza.
Antes da reunião, alguns analistas políticos palestinos
haviam predito que o encontro entre os dois homens seria tenso e difícil.
Em vez disso, a reunião entre Abbas e Mashaal acabou sendo
amistosa, com o líder do Hamas elogiando o presidente da AP por sua campanha
anti-Israel na arena internacional.
Mais tarde, a mídia árabe citou Mashaal dizendo que o
endosso de Abbas às demandas do Hamas para um cessar-fogo e os movimentos dele
na arena internacional, incluindo convocações para reuniões de emergência do
Conselho de Segurança da ONU, serviriam para solidificar a "unidade
nacional" entre o Hamas e o Fatah.
Como parte da contínua coordenação entre o Hamas e o
Fatah, Abbas, na semana passada, enviou Saeb Erekat, o negociador da
Organização Para a Libertação da Palestina, a Doha para outra reunião
com Mashaal.
Embora o objetivo declarado da reunião tenha sido analisar
as perspectivas de um cessar-fogo com Israel, Erekat revelou que a
discussão também enfocou os esforços dos palestinos para participarem da Corte
Criminal Internacional, a fim de apresentarem acusações de "crimes de
guerra" contra Israel.
Outro sinal da coordenação entre o Hamas e o Fatah foi
fornecido mais no início da semana, quando Abbas anunciou a formação de uma
delegação palestina para conversações sobre cessar-fogo no Cairo. Pela
primeira vez, o Hamas concordou em incluir seus representantes em uma delegação
formada por Abbas e encabeçada por Azzam al-Ahmed, um dos líderes mais
importantes do Fatah.
O Hamas e o Fatah não somente concordaram com a formação
de uma delegação conjunta, mas também obtiveram acordo em um documento
detalhando as exigências palestinas para um cessar-fogo. O documento, que foi
apresentado aos egípcios no dia 3 de agosto, no mínimo confirma que Abbas e o
Fatah endossaram totalmente as condições do Hamas para um cessar-fogo.
O documento exige, entre outras coisas, o fim do bloqueio
e a abertura de todas as passagens de fronteiras da Faixa de Gaza, inclusive o
aeroporto e o porto marítimo. Ele também exige a reconstrução da Faixa de Gaza
em uma cooperação entre o governo Hamas-Fatah e a ONU.
O documento não menciona o desarmamento do Hamas e de
outros grupos palestinos na Faixa de Gaza - uma exigência que parece ser
apoiada pelos Estados Unidos, pela União Européia, pela ONU e por alguns países
árabes como o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia.
Nas últimas semanas, Abbas fez quase tudo o que lhe era
possível para demonstrar sua sagacidade em manter o acordo de unidade com o
Hamas. Em suas declarações públicas, Abbas repetidamente afirmou que a ofensiva
militar israelense na Faixa de Gaza tinha principalmente o objetivo de
"destruir" a unidade entre o Hamas e o Fatah.
Nesta semana, Abbas deu outro passo em direção à
consolidação do acordo de unidade ao concordar em pagar os salários de
dezenas de milhares de funcionários públicos do Hamas na Faixa de Gaza. Abbas
havia se recusado a pagar o salário dos funcionários públicos do Hamas, mesmo
depois de assinar o acordo de unidade e a formação do governo de "consenso
nacional" palestino.
As guerras anteriores entre Israel e o Hamas
haviam resultado em uma deterioração no relacionamento entre o Hamas e o Fatah.
Durante as duas últimas guerras, o Hamas não hesitou em acusar
Abbas e o Fatah de "conluio" com o "inimigo sionista".
Mas a guerra atual, até o presente momento, tem colocado
os dois lados mais próximos um do outro. Abbas até mesmo instruiu suas forças
de segurança na Margem Ocidental a suspenderem a repressão aos defensores e
patrocinadores do Hamas, informou um líder palestino em Ramallah.
Espera-se que Abbas continue seus esforços para melhorar
sua parceria com o Hamas, mesmo depois de se alcançar o cessar-fogo na Faixa de
Gaza. Isso pode ser bom para a "unidade nacional" dos palestinos
e o Hamas, mas também significa que as perspectivas de paz com Israel, com base
em uma solução de dois Estados - uma idéia que tem a veemente oposição do
Hamas - será mais remota do que nunca. Ao fortalecer seus laços com o
Hamas, Abbas está enterrando quaisquer chances de uma solução pacífica
com Israel. (Khaled Abu Toameh - www.gatestoneinstitute.org)
Khaled Abu Toameh, um muçulmano árabe, é jornalista
veterano, vencedor de prêmios, que vem dando cobertura jornalística aos
problemas palestinos por aproximadamente três décadas. E estudou na
Universidade Hebraica e começou sua carreira como repórter
trabalhando para um jornal afiliado à Organização Para a Libertação da
Palestina (OLP), em Jerusalém. Trabalha atualmente para a mídia internacional,
servindo como "olhos e ouvidos" de jornalistas estrangeiros na Margem Ocidental
e na Faixa de Gaza. Seus artigos têm aparecido em inúmeros jornais em todo o
mundo, inclusive no Wall Street Journal, no US News
& World Report e no Sunday Times de Londres.
Desde 2002, ele escreve sobre os problemas palestinos para o jornal Jerusalem
Post.
Abu Toameh também trabalha como produtor e consultor da NBC News desde 1989.
Abu Toameh também trabalha como produtor e consultor da NBC News desde 1989.
Fonte: “Mídia Sem Máscara
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