Por
Augusto Nunes
Depois do que se viu nesta segunda-feira, é impossível prever os
desdobramentos das manifestações que, precipitadas pelo aumento das tarifas de
ônibus em São Paulo, assumiram dimensões nacionais, mobilizaram multidões
portentosas e ampliaram notavelmente as palavras de ordem que resumem a pauta
de reivindicações. Não há como antecipar os rumos ou calcular o fôlego da
sequência de protestos ainda sem líderes visíveis e sem contornos
definidos.
O fim da hegemonia dos baderneiros fundadores, o emagrecimento das
tropas de vândalos e o hasteamento de bandeiras mais relevantes (e viáveis)
sugerem que o movimento mudou de feição com uma semana de vida e saiu da
primeira infância para adolescência. Terá chegado à idade adulta quando
compreender, entre outras urgências, que não detém o monopólio do espaço
urbano.
O direito de manifestar-se livremente não anula o direito de ir
e vir de milhões de brasileiros que, mais uma vez, foram prisioneiros de
congestionamentos absurdos. Nem autoriza ninguém a tratar com arrogância
autoridades policiais instadas a cumprir o que a Constituição prescreve. Dessas
provas de maturidade vai depender o destino do movimento.
Feitas as ressalvas, convém reiterar que os candidatos a vidente
que enfileiram palpites na TV decerto seriam mais prudentes se aprendessem a
lição evocada pelo ex-vice-presidente Marco Maciel em situações semelhantes: "Pode acontecer tudo, inclusive não acontecer nada". Espasmos de
violência que pareciam inevitáveis em São Paulo, por exemplo, irromperam no Rio
de Janeiro - que, também surpreendentemente, abrigou a maior das manifestações
que se espalharam por 11 capitais.
Os espertalhões que saborearam de manhã a iminente derrota de
Geraldo Alckmin passaram a noite consolando Sérgio Cabral. Oportunistas que
acordaram sonhando com a invasão do Palácio dos Bandeirantes tiveram o sono
adiado por lembranças das correrias provocadas pela ocupação da cobertura do
prédio do Congresso - e pela suspeita de que os manifestantes marchariam
sobre o Planalto.
O mapa dos protestos incluiu cidades e estados administrados
tanto por governistas quanto por gente eleita pela oposição. Os caroneiros
oportunistas do Psol, do PSTU e do PT foram rechaçados pela imensa maioria de
manifestantes que não se identificam com nenhum partido ou líder político.
Se é cedo para saber o que vai nascer da epidemia de
insatisfação aguda mas ainda difusa, está claro que a grande farsa acabou.
Forjado pela discurseira triunfalista e por mais de dez anos de publicidade
enganosa, o paraíso de araque sucumbiu ao peso do excesso de indignados.
A versão lulopetista de Pasárgada ficou em frangalhos neste 17
de junho. Afogado por uma onda de descontentamento, o Brasil Maravilha morreu.
Fonte: "Direto ao Ponto"

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