Por
Ricardo Setti
Jornalista não é astrólogo nem adivinho, e não deve fazer
previsões.
Mas há uma pergunta que vem se impondo diante das grandes
manifestações que se espalham pelo país afora: e agora? E depois? O que vai
acontecer? O que pode acontecer?
Evidentemente não tenho respostas, e acredito que, a rigor,
ninguém tem.
Isso não impede que se enxerguem algumas consequências imediatas
do movimento das ruas.
1. Preços
das passagens. A
primeira delas, naturalmente, já ocorreu, e agora há pouco: o prefeito da maior
cidade do país e o governador do Estado mais importante, São Paulo, revogaram os aumentos das tarifas de
ônibus e metrô que
haviam sido decretadas, após o mesmo haver sido feito, quanto a ônibus, em
várias outras capitais. Aumentará a despesa pública e diminuirão os
investimentos, mas politicamente julgou-se que era o preço a pagar.
2. Julgamento do mensalão. Imagino que, com os protestos, ficou mais
difícil para o Supremo Tribunal Federal acatar os diversos embargos impetrados
pelos advogados dos mensaleiros e deixar de enviá-los, finalmente, para a
cadeia.
"O Supremo não ouve a voz das ruas, julga conforme os autos",
diz-se sempre. É verdade. Mas, desde que ainda se chamava Supremo Tribunal de
Justiça, no Império, o Supremo nunca deixou de ser, também, um tribunal
político - político no sentido mais amplo e menos mesquinho da palavra,
político no sentido de vislumbrar o panorama geral da sociedade em certos casos
pontuais e decisivos.
3. PEC-37: os manifestantes
nas ruas entenderam nitidamente os propósitos da Proposta de Emenda
Constitucional nº 37, que poda poderes investigatórios ao Ministério Público,
incluíram a oposição à PEC em suas palavras e ordem e algo me diz que o
Congresso - órgão político por excelência, e que será renovado em 2014 - colocará a medida a pique, quando votá-la, no segundo semestre.
4. Gastança pública. A enorme gritaria contra os gastos
excessivos com a Copa das Confederações, a Copa do Mundo - e até as Olimpíadas
do Rio, em 2016 - acabaram se tornando um dos pontos chaves dos protestos. Os
brasileiros parecem estar abrindo mais os olhos para esse tipo de problema,
que, em outros países, é uma das principais preocupações da opinião pública.
Sendo assim, algo me diz que, na medida em que for devorar
dinheiro público, o trem-bala de não sei quantos bilhões de reais (ninguém sabe
ao certo) não sairá da estação.
O tempo dirá se acertei ou errei. Mas é o que me parece, no
momento
Fonte: "Blog Ricardo Setti"
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