Por Sylvio Rocha
Um homem é forçado a dançar no saloon por
causa dos tiros disparados em seus pés. O bando de pistoleiros tenta escapar da
frenética perseguição a cavalo. Sobre os vagões de um trem, um ladrão surra um
dos funcionários da ferrovia e joga seu corpo nos trilhos. Todos esses clichês
nasceram juntos, em 1903, com o filme The Great Train Robbery.
Armas, cavalos, trens e telégrafos, todos
presentes nessa película, representam a velocidade que começava a pulsar no
início do século XIX. O movimento, matéria-prima do cinema, tem na imagem do
trem uma de suas sínteses: o primeiro foi filmado pelos irmãos Lumière em 1895,
em A
chegada do trem à cidade. Assustados, os espectadores corriam,
imaginando que o trem sairia da tela e destroçaria a plateia.
The Great Train Robbery foi baseado num dos maiores assaltos a trens da
história dos Estados Unidos. Aconteceu perto de Wilcox, no estado de Wyoming, e
foi consumado por Robert Leroy Parker, o Butch Cassidy, e sua quadrilha. Esse
foi o primeiro de muitos filmes inspirados nas ações da gangue Wild Bunch.
Influenciado pelo francês George Méliès, o
pai do cinema, o diretor Edwin Stratton Porter provou com este filme - o
primeiro western da história -, que a sétima arte poderia ser comercialmente
viável nos Estados Unidos. É possível dizer que The Great Train Robbery
teve na época o mesmo sucesso comercial de O Homem Aranha,
de Christopher Nolan.
Feito sobretudo para entreter, o filme, entre
outras coisas, provou que era possível contar uma história com coerência, que a
montagem paralela (duas ações ocorrendo paralelamente em locais diferentes)
poderia ser compreendida pelo público, que a câmera não precisaria ficar parada
(como se fosse o espectador de uma peça teatral) e que era viável filmar em
locação (fora de um estúdio). Na época, a maioria dos filmes mostrava imagens
do cotidiano e cenas isoladas, chamadas "cenas de atualidade", com
trabalhadores saindo das fábricas, um muro sendo destruído ou crianças comendo.
Com o tempo, as inovações trazidas por The Great Train Robbery
tornaram-se quase obrigatórias no cinema narrativo.
É preciso assistir ao filme com o
distanciamento necessário: afinal, ele tem 110 anos. O cinema era uma novidade
e as pessoas ainda estavam descobrindo que as imagens podiam se movimentar. Por
isso, as cenas são longas, os personagens um tanto caricatos e a ação quase
sempre só acontece no movimento dos atores. Nesta cópia, as explosões foram
coloridas à mão, técnica já empregada em alguns filmes da época.
A cena final causava um certo desconforto,
sustos ou risos. Como não interfere na história, poderia, conforme explicação
que acompanhava a cópia, ser exibida no começo ou no fim da projeção. Foi o
plano mais próximo filmado de um ator até então: o bandido, olhando para a
câmera, dispara em direção ao público. Cuidado para não imitar os espectadores
que, em 1903, afastavam-se às pressas da tela, apavorados com a suspeita de que
poderiam ser atingidos pelos tiros.
Assista:
http://youtu.be/Bc7wWOmEGGY
Fonte: "Direto ao Ponto" - Seção "Feira Livre"


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