Por Reinaldo
Azevedo
A
edição de VEJA desta semana traz uma primeira e uma última páginas
especialmente eloquentes. As duas têm como norte uma sociedade livre, em que o
estado está a serviço da sociedade, não o contrário. As duas falam de um mundo
em que as leis democráticas põem limites nos políticos e nos partidos, e não o
contrário. Servem como balizas, sim, do que vai entre elas —-e assim tem sido
há décadas. E assim será. Leiam o primeiro texto editorial desta edição, a
"Carta ao leitor", intitulada "O mesmo grau de certeza". Volto em seguida.
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Foi extraordinária, em todos os sentidos, a repercussão da reportagem de capa de VEJA da semana passada, com o publicitário mineiro Marcos Valério, o pivô financeiro do mensalão. VEJA trouxe revelações bombásticas de Valério sobre o papel central do ex-presidente Lula nas operações que resultaram em um escândalo que, por pouco, não lhe custou o mandato presidencial.
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Foi extraordinária, em todos os sentidos, a repercussão da reportagem de capa de VEJA da semana passada, com o publicitário mineiro Marcos Valério, o pivô financeiro do mensalão. VEJA trouxe revelações bombásticas de Valério sobre o papel central do ex-presidente Lula nas operações que resultaram em um escândalo que, por pouco, não lhe custou o mandato presidencial.
O
ex-presidente Lula manteve-se calado. Marcos Valério também não se pronunciou.
São dois casos de silêncio ensurdecedor.
Em
contraste, os partidos da base de sustentação do governo protestaram e os de
oposição emitiram notas exortando VEJA a tornar publicas as evidências
materiais que embasaram a publicação das contundentes declarações do
publicitário mineiro.
Os
partidos que enxergam nas revelações de Marcos Valério vantagens políticas
podem proceder como quem vislumbrou essas mesmas propriedades no depoimento de
Pedro Collor trazido a público vinte anos atrás e que culminaram com o
impeachment do irmão, Fernando Collor.
Da
mesma forma, quem se sentiu prejudicado do homem do dinheiro do mensalão tem a
possibilidade de interpelá-lo publicamente ou procurar reparação na Justiça.
Marcos Valério está vivo e tem endereço conhecido. A mensagem é de Marcos
Valério. VEJA foi a mensageira.
O grau
de certeza de VEJA em relação ao conteúdo da reportagem com Marcos Valério é o
mesmo que a revista tinha quando publicou, em 1992, a capa "Pedro Collor conta
tudo". Tanto em um caso quanto no outro, VEJA cumpriu sua missão de informar
com fidelidade, coragem e espírito publico fatos testemunhados por pessoas com
grande intimidade com o poder.
Existe
outro paralelo entre a reportagem de VEJA com Pedro Collor e a de agora com
Marcos Valério. Ambas são estrondosas por reunirem declarações que deram
materialidade a situações sobre as quais já tinham sido levantados diversos
detalhes significativos, porém esparsos. Ficava faltando um demiurgo com
informações privilegiadas capaz de amarrar todos os eventos, dando-lhes
coerência. Foi o que Pedro Collor fez em 1992 e, na semana passada, Marcos
Valério.
Retomo
A última página traz um artigo de José Roberto Guzzo intitulado "Só com censura". É eloquente o bastante para dispensar comentários adicionais. Isso é com vocês!
A última página traz um artigo de José Roberto Guzzo intitulado "Só com censura". É eloquente o bastante para dispensar comentários adicionais. Isso é com vocês!
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Para o seu próprio sossego pessoal, o ex-presidente Lula, seus fãs mais extremados e os chefes do PT deveriam pôr na cabeça, o mais rápido possível, um fato que está acima de qualquer discussão: só existe um meio que realmente funciona, não mais que um, para governos mandarem na imprensa, e esse meio se chama censura. Infelizmente para todos eles, essa é uma arma de uso privativo das ditaduras - e nem Lula, nem o PT, nem os "movimentos sociais" que imaginam comandar têm qualquer possibilidade concreta de criar uma ditadura no Brasil de hoje. Podem, no fundo da alma, namorar a ideia. Mas não podem, na vida real, casar com ela. Só perdem seu tempo, portanto, e se estressam à toa quando ficam falando que a mídia brasileira é um lixo a serviço das "elites"; há dez anos não mudam de ideia e não mudam de assunto. Bobagem. O que querem mesmo é impedir que esta revista, por exemplo, publique reportagens como a matéria de capa de sua última edição, com as declarações de Marcos Valério sobre o envolvimento direto de Lula no mensalão. Ficam quietos porque têm medo de que sejam publicadas as fitas gravadas com tudo aquilo que ele disse, e as coisas piorem ainda mais. Mas o seu único objetivo real é este: eliminar as informações que desejam esconder.
Para o seu próprio sossego pessoal, o ex-presidente Lula, seus fãs mais extremados e os chefes do PT deveriam pôr na cabeça, o mais rápido possível, um fato que está acima de qualquer discussão: só existe um meio que realmente funciona, não mais que um, para governos mandarem na imprensa, e esse meio se chama censura. Infelizmente para todos eles, essa é uma arma de uso privativo das ditaduras - e nem Lula, nem o PT, nem os "movimentos sociais" que imaginam comandar têm qualquer possibilidade concreta de criar uma ditadura no Brasil de hoje. Podem, no fundo da alma, namorar a ideia. Mas não podem, na vida real, casar com ela. Só perdem seu tempo, portanto, e se estressam à toa quando ficam falando que a mídia brasileira é um lixo a serviço das "elites"; há dez anos não mudam de ideia e não mudam de assunto. Bobagem. O que querem mesmo é impedir que esta revista, por exemplo, publique reportagens como a matéria de capa de sua última edição, com as declarações de Marcos Valério sobre o envolvimento direto de Lula no mensalão. Ficam quietos porque têm medo de que sejam publicadas as fitas gravadas com tudo aquilo que ele disse, e as coisas piorem ainda mais. Mas o seu único objetivo real é este: eliminar as informações que desejam esconder.
Até
agora, o plano mais ambicioso que lhes ocorreu para chegar aonde querem foi
propor algo que chamam de "controle social" da mídia: não conseguem explicar
bem o que seria isso na prática, mas nem é preciso que expliquem. O problema do
PT, nessa história toda, é simples: "controle social" é algo que não existe no
mundo dos fatos. Na vida como ela é, só têm controle verdadeiro sobre um órgão
de imprensa os seus proprietários ou, então, o departamento de censura. Todo o
resto é pura tapeação. Mas é isso, exatamente, que o PT propõe. Já foi feita,
de 2003 para cá, uma boa meia dúzia de tentativas para armar o tal controle,
primeiro com projetos de lei que morreram antes de nascer, depois com
"audiências públicas" e outras esquisitices. Não saiu, até agora, um único
coelho desse mato.
Falou-se
também da "mobilização de setores populares" para pressionar a mídia, mas não
se conseguiu mobilizar ninguém. Manifestações de massa, para o PT de hoje,
exigem ônibus fretados, lanches grátis, patrocínio de alguma estatal - e,
francamente, não é assim que se faz uma revolução. Muito dinheiro do Erário tem
sido gasto na compra do apoio de uma parte da imprensa, através de verbas
publicitárias e outros tipos de ajuda: o problema, aí, é que o governo não
consegue comprar os veículos que têm mais público. Foram criadas, também,
brigadas de "blogueiros" que recebem uma espécie de "mensalinho" para falar a
favor do governo e contra quem faz críticas a ele; ninguém parece prestar
atenção no que dizem.
Inventou-se,
ainda, uma "TV Brasil", emissora que serve para apoiar as autoridades e é
sustentada com dinheiro público em estado puro. Em cinco anos de funcionamento,
sua audiência continua vizinha do zero; a esta altura, talvez tenha mais
funcionários do que telespectadores. A questão, em todos esses casos, é que
imprensa a favor não adianta nada - o que interessa a quem manda é não ter
imprensa contra. Elogios não salvaram uma única cabeça, entre os doze ministros
que a presidente Dilma Rousseff botou na rua até agora, nos casos em que foram
denunciados por corrupção no noticiário. Não têm resolvido nada no julgamento do
mensalão, também revelado integralmente pelo trabalho da imprensa; o STF vem
sendo o flagelo de Deus para os réus, triturados um após o outro com sentenças
de condenação.
Ditaduras
entendem muito bem como se controla a imprensa. Não desejam aplausos: a única
coisa que lhes importa é cortar tudo aquilo que não querem que seja publicado.
Não podendo fazer isso, o PT fica na gritaria. Ainda há pouco, o presidente
nacional do partido, deputado Rui Falcão, disse que a "mídia conservadora" é
instrumento de uma "elite suja e reacionária", e fez uma ameaça: "Não mexam com
o PT". E se mexerem - ele vai fazer o quê? As coisas que o deputado diz não
chegam a obter a nota mínima necessária para ser levadas a sério: não há
exemplo na história de situações em que a imprensa tenha mudado de linha por
causa de discurseira desse tipo, ameaças vazias ou "pressões da sociedade".
Veículos independentes não têm medo de insultos, "setores populares" ou líderes
políticos com popularidade de 80%; o que lhes quebra a espinha é a força
armada, e só ela. É melhor, então, o PT segurar a ansiedade.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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