Editorial
Lula
sente-se ameaçado. De fato, está. Seu governo corre o risco de receber diploma
de improbidade com o julgamento da Ação Penal 470 pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). E seu partido pode levar uma surra histórica nas urnas de 7 de outubro –
como mostra o último Datafolha. São as razões do desespero que levou o
ex-presidente a pedir socorro a alguns dos partidos da base do governo,
constrangendo-os a subscrever uma nota dirigida "à sociedade brasileira" na
qual se tenta colocar o chefão do PT a salvo das suspeitas a respeito de seu
verdadeiro papel no escândalo do mensalão.
domingo, 23 de setembro de 2012
"Lula e o PT estão desesperados"
Como
não pegaria bem atacar diretamente o STF injusto ou o eleitorado ingrato, a
nota volta-se contra os partidos da oposição, que tiveram a ousadia de sugerir
ampla investigação sobre quem esteve de fato por detrás da trama criminosa do
mensalão, conforme informações atribuídas ao publicitário Marcos Valério pela
revista 'Veja'.
A
propósito dessa suspeita natural que a oposição não teve interesse ou coragem
de levantar em 2004, o comportamento do ex-presidente no episódio merece, de
fato, algum "refresco de memória". Quando o escândalo estourou, Lula declarou
que se sentia traído e que o PT devia pedir desculpas ao País; depois, em
entrevista à televisão em Paris, garantiu, cinicamente, que seu partido havia
feito apenas o que todos fazem - caixa 2; finalmente, já ungido pelas urnas, em
2006, lançou a tese que até hoje sustenta: tudo não passou de uma "farsa"
urdida pelas "elites" para "barrar e reverter o processo de mudanças" por ele
iniciado, como afirma a nota.
Por
ordem do chefão essa manifestação de desagravo a si próprio foi apresentada
pelo presidente do PT, o iracundo Rui Falcão, a um grupo selecionado de
aliados. Da chamada base de apoio ficaram de fora o PP de Valdemar Costa Neto e
o PTB de Roberto Jefferson, ambos sendo julgados pelo STF. O documento leva a
assinatura dos presidentes do PT e de cinco outras legendas: PSB, PMDB, PC do
B, PDT e PRB. Seus termos obedecem ao mais rigoroso figurino da hipocrisia
política. Iniciam por repudiar a nota em que PSDB, Democratas e PPS, "forças
conservadoras", "tentaram comprometer a honra e a dignidade do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva". E a classificam como "fruto do desespero diante das
derrotas seguidamente infligidas a eles pelo eleitorado brasileiro".
Para
PT e aliados, numa velada referência ao processo do mensalão, as oposições
"tentam fazer política à margem do processo eleitoral, base e fundamento da
democracia representativa, que não hesitam em golpear sempre que seus
interesses são contrariados". Nenhuma referência, é claro, ao fato de que, no
momento, os interesses que estão sendo contrariados são exatamente os de Lula e
do PT. Mas, em matéria de fazer o jogo de espelho, acusando os adversários
exatamente daquilo que ele próprio faz, o lulopetismo superou-se em alusão
explícita ao julgamento do mensalão: "Os partidos da oposição tentam apenas
confundir a opinião pública. Quando pressionam o STF, estão preocupados em
fazer da Ação Penal 470 um julgamento político, para golpear a democracia e
reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula".
Nos
últimos dias, os sintomas de desespero nas hostes lulopetistas traduziram-se em
despautérios de importantes personalidades do partido. O presidente da Câmara
dos Deputados acusou o ministro Joaquim Barbosa de ser falacioso ao denunciar a
compra de apoio parlamentar pela quadrilha que, segundo a denúncia da Ação
Penal 470, era chefiada por José Dirceu. O senador Jorge Viana (PT-AC),
ex-governador do Acre, ele próprio investigado pela suspeita de compra de
votos, voltou ao tema do "golpe contra o PT". E o deputado federal André Vargas
(PT-PR), chefe da equipe nacional de Comunicação do partido, revelou sua
peculiar concepção de transparência da vida pública ao condenar a transmissão
ao vivo das sessões plenárias do STF como "uma ameaça à democracia". São esses
os combatentes da "batalha do tamanho do Brasil" convocada pelo desespero de
Lula & Cia. Convocação atendida também pelo cientista político Wanderley
Guilherme dos Santos, em esfuziante entrevista no jornal 'Valor' de sexta-feira.
Fonte: "O Estado de S. Paulo"
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Um comentário:
Agora, não adianta chorar...o PT tem mais é que responder pelos seus "malfeitos".
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