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quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Viagem para Maceió

Logo mais, às 6 horas desta sexta-feira, 12, um grupo de rotarianos de Feira de Santana acompanha o governador 2007-2008 do Distrito 4390 de Rotary International, Germínio Orlando Braga e Lígia Marina, em viagem para Maceió-AL, para participação no XVI Seminário Distrital da Fundação Rotária e XVI Seminário Distrital do Desenvolvimento do Quadro Social, tendo como local a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
No grupo estão: Antonier Nunes Rios e Sônia, Antônio Sérgio Aras e Valcineide Oliveira, Aurino Soares de Melo e Zirca, Dázio Brasileiro Filho e Lenice, Dimas Oliveira e Doralice, Eloan Ferreira da Silva e Jacira Marques, Gabriel Eustáquio de Rezende, Hugo da Cruz Dórea e Cristina, João Martins Freitas e Maria do Carmo Campos, José Barbosa da Silva, José Nilton Mascarenhas e Sílvia, Rosalvo dos Reis Costa e Maria Gaciete Magalhães mais Luana Magalhães, Ruy Paschoal Filho, e Theódulo Bastos de Carvalho Júnior e Consuelo, entre outros.

2 comentários:

Anônimo disse...

http://www.escandalodomensalao.com.br/o-chefe/capitulo/1/index.html

“A democracia é o pior regime, exceto todos os outros.”

Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro inglês



“O que podemos afirmar, com tranqüila segurança, é que fora da democracia e da Constituição qualquer solução será frágil e transitória. Nosso país, que sofreu tantas vezes sob regimes autoritários de variada inspiração ideológica, tem aprendido, aos poucos, a lição da democracia. No regime democrático, a solução dos problemas será lenta e difícil, mas virá. As soluções fáceis, na maioria das vezes, são os atalhos do autoritarismo e do salvacionismo.”

(Do relatório final da CPI dos Correios, em 29/3/2006)



“Nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como esse núcleo petista fez em tão pouco tempo. Na ditadura, apesar de todo sofrimento, perseguições, prisões, assassinatos, saímos de cabeça erguida e certos de que tínhamos contribuído para a redemocratização do país. Agora, não. Esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira.”

(Frei Betto, amigo histórico de Lula, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 24/8/2005)


Livro na internet de Ivo Patarra Jornalista

Lula, o chefe

O Palácio do Planalto bem que tentou abafar, mas desde o início o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, esteve no centro da crise política. O escândalo eclodiu em 14 de maio de 2005, com a divulgação de uma gravação clandestina pela revista Veja. Maurício Marinho, funcionário dos Correios, pôs no bolso do paletó R$ 3 mil. Propina. De cara, a evidente vinculação do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) ao esquema de corrupção. Os Correios eram área de influência do partido, uma das agremiações integrantes da base aliada do governo federal, capitaneada pelo PT (Partido dos Trabalhadores), a legenda de Lula.

Enquanto os telejornais escancaravam a fita com as imagens de Maurício Marinho enfiando o dinheiro no bolso, Lula apressava-se em defender o deputado Roberto Jefferson (RJ), o presidente nacional do PTB. Palavras de Lula, alto e bom som:

– Precisamos ter solidariedade com os parceiros, não se pode condenar ninguém por antecipação.

Lula se pronunciou durante almoço com aliados. O presidente insistiu:

– Parceria é parceria. Tem de ter solidariedade.

E arrematou, para não deixar dúvidas:

– Essa é a hora em que Roberto Jefferson vai saber quem é amigo dele e quem não é.

Lula estava preocupado. Recorda-se que, alguns meses antes, dissera a seguinte frase endereçada a Jefferson, em meio ao noticiário que especulava sobre um pagamento de R$ 10 milhões do PT ao PTB, com vistas a “comprar” o apoio dos trabalhistas às eleições municipais de 2004:

– Eu te daria um cheque em branco e dormiria tranqüilo.

A gravação de Maurício Marinho trouxe outras complicações. O funcionário dos Correios mencionou uma empresa, a Novadata. Pertence a Mauro Dutra, o Maurinho, amigo de Lula. A Novadata é uma fornecedora de computadores ao governo federal. Em dois anos e meio de administração Lula, faturou R$ 273,5 milhões. Como se sabe, Maurício Marinho desandou a conversar com os interlocutores que o subornavam, sem saber que estava sendo gravado.

Aqui uma pausa, para registrar: Lula passou o réveillon de 2001 na mansão de Mauro Dutra em Búzios, no badalado litoral do Rio. O mesmo Dutra que fez contribuições ao PT, arrecadou dinheiro para o partido e emprestou avião a Lula. Na fita, Marinho fala de “acertos” em licitações. Descreve manobra da Novadata para superfaturar computadores. A empresa tentou fazer o preço de cada computador vendido ao governo dar um salto injustificado, de R$ 3.700,00 para R$ 6.000,00.

Logo nos primeiros dias da crise, Lula trabalhou abertamente contra a idéia de se criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a corrupção nos Correios. Foi decisão de governo: a administração federal iria liberar dinheiro de emendas ao orçamento, a todos os parlamentares que votassem contra a CPI. Faltou combinar com os jornais.

Jefferson foi destaque no noticiário político. As incursões do presidente do PTB nos subterrâneos de Brasília revelaram várias suspeitas de corrupção. Lula achou por bem se afastar do aliado, mas continuou trabalhando contra a instalação da CPI. Jefferson estava cada vez mais isolado. Os estrategistas do presidente não atentaram para o erro fatal.

Em 6 de junho de 2005, Jefferson concedeu uma entrevista-bomba ao jornal Folha de S.Paulo. O Brasil não era mais o mesmo. A manchete, na primeira página, para não deixar dúvidas: “O PT dava mesada de R$ 30 mil a parlamentares, diz Jefferson”. Nascia o escândalo do mensalão.

Leal ao presidente que procurou protegê-lo, Jefferson tentou deixar Lula fora da crise. Mas logo implicou o superministro José Dirceu (PT-SP). A entrevista reproduziu a reação de Dirceu, assim que ouviu Jefferson falar sobre os repasses. A tarefa de fazer a distribuição do dinheiro era de responsabilidade do tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Palavras de Dirceu:

– Eu falei para não fazer.

Ora, se o todo-poderoso ministro da Casa Civil, braço direito de Lula, disse a Delúbio Soares não fazer, fica implícito que a prática já fora pensada, discutida e era de conhecimento do chamado “núcleo duro” do governo. Destaca-se que Delúbio tinha relação histórica com Lula. Jefferson continuou o seu relato à Folha, envolvendo outros importantes auxiliares do presidente.

Se os mencionados não conheciam os fatos, ficaram com a obrigação de encaminhar as denúncias a Lula, assim que foram informados. Afinal, o presidente não poderia permanecer alheio a um esquema de entrega sistemática de dinheiro a parlamentares. Isso, claro, se já não soubesse muito bem o que acontecia.

Jefferson levou informações sobre o mensalão ao ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Da mesma forma que Dirceu, deveria contar tudo o que lhe foi relatado ao presidente. Assim, providências enérgicas impediriam o prosseguimento da prática de suborno. Independentemente das convicções do ministro. Conforme Jefferson, Ciro disse que não acreditava na história da transferência de dinheiro de caixa 2 para a base aliada.

Informado por ministros leais, Lula não poderia fugir do seu dever constitucional de determinar a imediata abertura de investigação, com a finalidade de punir os eventuais culpados.

Depois foi a vez de Miro Teixeira, o ministro das Comunicações. Os deputados José Múcio (PTB-PE) e João Lyra (PTB-AL) testemunharam a conversa na qual Jefferson pediu para Miro contar tudo a Lula. Tem mais. Jefferson também discutiu o problema com o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), o então líder do governo Lula na Câmara, e garante que expôs tudo ao ministro Antonio Palocci (PT-SP), outro integrante do “núcleo duro” do governo. O recado estava dado.

Aparentemente, só Miro tomou a coisa a sério. A prova é a entrevista concedida por ele em 24 de setembro de 2004 ao Jornal do Brasil, na qual alardeou que havia pagamentos a parlamentares ligados à base de apoio do governo. Não houve conseqüências. Miro, no entanto, já havia narrado o caso ao presidente. Aí é que a coisa pega. Foi em 25 de fevereiro de 2004. Na época, o deputado Miro se transferira ao PT e assumira a liderança de Lula na Câmara. O episódio aconteceu logo depois do escândalo que culminou com a saída de Waldomiro Diniz do Ministério da Casa Civil, no primeiro grande caso de corrupção da era Lula.

Miro era assediado por deputados que temiam pelo fim da “mesada” fornecida pelo governo, uma hipótese aventada com a saída de Waldomiro. Afinal, o assessor de Dirceu cuidava justamente da relação da administração federal com o Congresso. Miro foi duro. Disse ao presidente que deixaria a liderança do governo. Não aceitava os pagamentos. Com ar de surpresa, Lula garantiu desconhecer o assunto. Mas disse que iria discuti-lo, sem falta, com Dirceu. Nada. Pouco mais de um mês depois, Miro voltou ao Palácio do Planalto e pediu para sair da liderança. Substituiu-o o deputado Professor Luizinho (PT-SP), aparentemente um dos expoentes do mensalão.

Em 5 de janeiro de 2005, Jefferson levou o assunto diretamente a Lula. Quem testemunhou foi o ministro Walfrido Mares Guia (PTB-MG), do Turismo. Nenhuma providência tomada. Voltou a Lula novamente, em 23 de março de 2005. Desta vez, várias pessoas ouviram a conversa sobre as “mesadas do Delúbio”. Jefferson expôs tudo. Presenciaram José Dirceu, Aldo Rebelo e José Múcio. Todos os três, aliás, já estavam a par do assunto. Além deles, ouviram o relato o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, que, da mesma forma, não poderiam mais alegar desconhecimento. Jefferson afirmou:

– Presidente, o Delúbio vai botar uma dinamite na sua cadeira.

Reação de Lula:

– Que mensalão?

Houve ainda um outro episódio, dez meses antes. Foi na noite de 25 de maio de 2004. O curioso é que, daquela vez, Lula introduziu o assunto. A comitiva do presidente estava em viagem oficial à China. Lá pelas tantas, depois do farto jantar, Lula se virou para o deputado Paulo Rocha (PT-PA) e perguntou se ele já ouvira falar do pagamento de mesadas a parlamentares. Para entender: durante os desdobramentos do escândalo do mensalão, Rocha preferiu renunciar ao mandato a correr o risco de ser cassado, justamente por fazer saques de dinheiro de caixa 2. Rocha negou a história. Mas outros três deputados que estavam à mesa na China confirmaram a veracidade da conversa à revista Veja.

Com a explosão do escândalo do mensalão, Aldo Rebelo foi escalado para falar em nome do Palácio do Planalto. Admitiu que Lula ouvira mesmo o relato de Jefferson em 23 de março de 2005, mas tratou de blindar o presidente. Para Rebelo, a denúncia envolvia o PT e outros partidos, não o governo. Ora, o PT é o partido de Lula. E os outros partidos dão sustentação política ao governo Lula. Estavam sendo pagos para isso. Como blindá-lo?

O líder de Lula no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), tentou explicar a reunião de 23 de março:

– Nenhum dos presentes tratou aquilo como denúncia, nem discutiu o assunto na reunião. Depois, Lula chamou Aldo e Chinaglia e perguntou se havia comentários sobre isso na Câmara. Não houve denúncia, apenas o relato de boato.

Para Mercadante, portanto, Lula, o grande beneficiário da maioria forjada para apoiar o seu governo no Congresso, não tinha providências a tomar sobre o assunto. Pois não havia “comentários” sobre o tema.

A Folha ainda circulava com a denúncia de Jefferson sobre o mensalão naquele 6 de junho de 2005, quando o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), veio a público revelar que dois deputados receberam propostas para se transferir à base aliada do governo Lula, em troca de dinheiro.

Pior: em 5 de maio de 2004, Perillo levou o fato diretamente ao conhecimento de Lula. Na época, o presidente disse que iria apurar. Não fez nada. De qualquer forma, não faria sentido dizer que não sabia do assunto. Meses depois, fustigado, o Palácio do Planalto se posicionou sobre o episódio, por meio de nota. Informou que Lula não se recordava de nenhum comentário do governador a respeito da tentativa de suborno de deputados.

Em 12 de junho de 2005, nova entrevista de Jefferson à Folha de S.Paulo. O deputado deu detalhes da conversa com Lula, mantida dentro do gabinete do presidente:

– Ele me pediu que explicasse como funcionava o mensalão. Eu disse. Depois ele se levantou, me deu um abraço e eu saí.

Na entrevista, a chave para entender por que o escândalo do mensalão não foi contido nos bastidores da política, e virou mesmo um escândalo. Jefferson relatou à repórter Renata Lo Prete a primeira conversa com Lula para falar dos repasses, em janeiro de 2005. Jefferson esforçou-se em proteger o presidente:

– E vi a reação dele de perplexidade. E então as coisas pararam. Mas o que eu estranho é que a Abin, depois que eu disse isso ao presidente Lula, parte para mandar arapongas contra o PTB. Alguém, dentro do governo, não gostou que nós passamos essa informação ao presidente.

O “alguém” é o ministro José Dirceu. Foi acionado por Lula. A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) teria entrado em ação. No final das contas, mostrou-se desastrosa a estratégia de fuçar a vida de Jefferson e descobrir podres do deputado, com vistas a obter o seu silêncio. Ele não aceitou a chantagem. O tiro saiu pela culatra.

Dia 13 de junho de 2005, o seguinte à entrevista. A assessoria de Dirceu divulgou informações segundo as quais o relacionamento entre o ministro e Lula era excelente. Bobagem. O importante do “recado” de Dirceu estava na frase que, segundo a assessoria, o ministro havia proferido. A fala de Dirceu foi divulgada como sendo textual, entre aspas, e serviu para definir o seu relacionamento com o presidente:

– Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele.

Estava tudo aí. Dirceu, ao travar combate para não ser expelido do governo, fez ameaça velada a Lula. Como quem diz: “Não ouse me fritar, muito menos me demitir. Sei demais. Posso e vou comprometê-lo”. Mas ficou nisso. Dirceu jamais fez nada, apesar de, em outros momentos da crise, ter voltado a insinuar que poderia pôr o dedo na ferida.

Em 14 de junho de 2005, Jefferson prestou depoimento ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Foi um dia histórico. Jefferson pediu o afastamento de Dirceu do governo. Na prática, sentenciou à morte o homem mais importante da história do PT, depois de Lula:

– Zé Dirceu, se você não sair daí rápido, você vai fazer réu um homem inocente, o presidente Lula.

Para complicar as coisas, entrou em cena Fernanda Karina, a ex-secretária de Marcos Valério. A essa altura, Valério, o empresário dono de agências de publicidade e principal operador do mensalão, já era uma celebridade. Ela disse em entrevista à revista Isto É Dinheiro que Valério tinha comunicação direta com Dirceu.

O superministro de Lula também foi acusado de receber dinheiro do esquema de corrupção montado em Santo André (SP). Quem fez a denúncia foi Francisco Daniel, o irmão do ex-prefeito Celso Daniel (PT). Aqui, Lula voltou ao centro da crise. Francisco Daniel disse que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, transportou R$ 1,2 milhão de propina em seu carro. O dinheiro teria sido entregue a Dirceu, na época o presidente nacional do PT.

Em 16 de junho de 2005, Dirceu foi defenestrado do governo. Fazendo-se de alheio aos problemas, Lula deu entrevista em Luziânia (GO) para dizer que as denúncias eram “vazias”. Se assim o fossem, por que afastar o ministro? Entrementes, nos bastidores de Brasília, o presidente trabalhava para frustrar a CPI dos Bingos, uma nova fonte de investigações contra o seu governo. Prometeu mundos e fundos para quem ficasse ao seu lado. Não conseguiu impedir a instalação da CPI.

Um episódio que mostrou Lula como sujeito atuante nos corredores invisíveis de seu governo, e não alguém sempre por fora dos “detalhes” comprometedores. Foi o caso da “simples” nomeação do diretor de engenharia de Furnas Centrais Elétricas. O assunto relatado por Jefferson ocupou páginas e páginas de jornal. Não era para menos. O diretor, Dimas Toledo, administrava, de acordo com Jefferson, uma “sobra” de R$ 3 milhões ou R$ 4 milhões por mês – dependendo da versão –, dinheiro abocanhado quase que integralmente pelo PT.

O caso Furnas acabou contribuindo para o desgaste da relação PT/PTB, pois o partido de Jefferson não aceitava ficar à margem, relegado a um segundo plano. Pois bem. Jefferson exercia influência em Furnas e queria trocar Dimas Toledo. O presidente era simpático ao pleito do PTB. Lula dissera a Jefferson:

– Roberto, por que está demorando tanto?

O presidente não aceitou explicações:

– Nada disso. O Dimas vai sair.

No caminho, porém, estava José Dirceu, aparentemente cioso da fortuna em comissões e propina. Quando a casa caiu, Jefferson contou a história aos jornais. A reação instantânea do Palácio do Planalto foi afastar todos os citados, inclusive Dimas Toledo. Mas a história de Jefferson revelou que Lula tinha conhecimento do que se passava, e há tempos.

Outro episódio, vinculado diretamente a Lula. Ocorreu em 8 de julho de 2005, a partir de uma notícia publicada pelo jornal O Globo. A Telemar, uma das maiores operadoras de telefonia do país, investiu R$ 5 milhões na pequena Gamecorp, de Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha. Como se sabe, a Telemar é constituída por recursos públicos do Banco do Brasil, BNDES e fundos de pensão de empresas estatais. É uma concessionária de serviço público, regulada pelo governo federal.

O negócio Telemar/Gamecorp foi intermediado pela consultoria de Antoninho Marmo Trevisan, outro amigo de Lula. Para o presidente, porém, nada de errado. Como sempre, aliás. A reação dele, nervosa, pretendendo pôr um ponto final no assunto:

– Estão querendo mexer na minha vida privada. Isso é uma baixaria, um golpe baixo, um desrespeito. Isso é irracional.

Voltemos a um acontecimento importante, ocorrido em 17 de junho de 2005. Lula deu a famosa entrevista em Paris, divulgada com exclusividade pelo programa Fantástico, da Rede Globo. O impressionante da história foi o coro do presidente ao que acabara de ser dito por Marcos Valério e Delúbio Soares, ambos metidos até o pescoço na lambança do escândalo do mensalão. A estratégia dos três, apesar da diferença de tom das intervenções, foi a mesma: negar os pagamentos a parlamentares, o crime de corrupção, e pôr tudo na conta dos simples repasses para quitar dívidas de campanha, usando caixa 2. Um crime menor, apenas eleitoral. Para Lula, o PT fez o que é feito no Brasil, sistematicamente:

– E não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção.

Enquanto Lula minimizava a crise, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) acusava o que chamou de “crime de quadrilha”:

– Agora, o partido está dentro do governo, e foram usadas empresas públicas como o Correios e Furnas, para fazer transações ilícitas. Favoreceram essas empresas em troca do dinheiro dado ao partido.

Difícil tapar o sol com a peneira. Olívio Dutra (PT-RS), petista histórico, foi demitido do Ministério das Cidades. Ressentido, desabafou durante entrevista. A “disputa” e a “concentração de poder no governo” fizeram crescer a “erva daninha”. Para ficar claro, a erva daninha da corrupção.

Para ajudar a entender Lula, um acontecimento de 1995. Outro petista histórico, o economista Paulo de Tarso Venceslau, procurou o presidente para conversar. Apresentou-lhe um esquema de corrupção envolvendo o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula. Ele vinha usando o nome de Lula para desviar dinheiro de prefeituras do PT. Venceslau não aceitava a prática, mesmo sabendo que o dinheiro acabava nos cofres do partido.

O economista achou que Lula o ajudaria a extirpar o corrupto que manchava o nome do PT. Resultado: Venceslau foi expulso do partido. Quanto a Teixeira, continuou firme e forte. Venceslau concedeu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo:

– Lula foi o primeiro a saber do caso. Sabia do comprometimento do seu compadre, sabia do volume de dinheiro público envolvido, e fez questão não só de acobertar, mas de punir quem tinha descoberto.

O economista comparou Lula nos dois casos. Na década de 90, candidato a presidente, ao ser informado das andanças de Teixeira atrás de comissões em prefeituras, e agora, presidente da República, com o escândalo do mensalão:

– Eu levei para ele, pessoalmente. E o tempo todo fingiu que não sabia. Evidentemente que Lula não operava, assim como não está operando hoje. Mas como ele sabia naquela época, ele sabe hoje, sempre soube.

Depoimento de José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara. Quem roubou a cena foi Roberto Jefferson. Veio à tona a operação Portugal Telecom. Os fatos: o ministro Walfrido Mares Guia pediu ajuda a Lula para resolver os problemas financeiros do PTB. Com o conhecimento do presidente, Marcos Valério e Emerson Palmieri, tesoureiro do PTB, viajaram para Lisboa atrás de uma “comissão” de R$ 100 milhões. A jogada pressupunha uma transferência de US$ 600 milhões do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Se desse certo, os R$ 100 milhões irrigariam os caixas 2 do PT e do PTB. Valério chegou a Portugal se dizendo “consultor do presidente do Brasil”. Era mesmo.

Mais uma história apimentada misturando Lula e caixa 2. Foi publicada em 4 de agosto de 2005, pelo jornal O Estado de S. Paulo. Diz respeito a uma entrevista do presidente ao Programa do Ratinho, do SBT, em 2004. A aparição de Lula na televisão teria sido comprada com R$ 2,1 milhões do valerioduto. O dinheiro viabilizou um acerto entre o deputado José Borba (PMDB-PR), aliado do governo, e o apresentador de televisão Carlos Roberto Massa, o Ratinho. As partes negaram. Dias depois Borba renunciou ao mandato.

Um caso intrigante, o da exoneração de Márcio Araújo de Lacerda, secretário-executivo do ministro Ciro Gomes. Lacerda estava na lista de sacadores de Valério, agraciado com R$ 457 mil. O dinheiro foi usado para pagar os serviços publicitários de uma agência que trabalhou na campanha de Lula, no segundo turno de 2002. A eleição de Lula, portanto, teve dinheiro de caixa 2. O caso repercutiu durante o depoimento do tesoureiro Delúbio Soares à CPI do Mensalão. Eis o diálogo travado entre Delúbio e o deputado Júlio Redecker (PSDB-RS):

– O dinheiro foi enviado para Ciro Gomes?

– Sim.

– Pagou despesas de campanha de Ciro ou Lula?

– De Ciro.

– Mas Ciro disse que foi serviço prestado pelo marqueteiro dele no segundo turno à campanha de Lula.

– Não foi. O dinheiro pagou serviços prestados pelo (publicitário) Einhart à campanha de Ciro no segundo turno.

– Mas Ciro não foi candidato no segundo turno. Ele apoiou a candidatura Lula.

– O Einhart trabalhou com o Duda Mendonça. Eles filmaram o Ciro para o programa de Lula no segundo turno. O dinheiro pagou despesas que o Ciro teve no segundo turno.

– Então o dinheiro de Valério, de caixa 2, pagou despesas de campanha de Lula no segundo turno.

Delúbio silenciou.

Em 11 de agosto de 2005, a crise assumiu contornos dramáticos. O publicitário Duda Mendonça confessou à CPI dos Correios que recebeu R$ 10,5 milhões de Marcos Valério no exterior. Note-se bem: trata-se de dinheiro de caixa 2, não declarado, sem origem definida, usado para pagar serviços prestados na campanha de 2002, na eleição que elegeu Lula. Dia seguinte, em discurso no Planalto, Lula acreditou que dava fim ao caso:

– O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas.

Em 13 de agosto de 2005, a revista Época publicou entrevista com Valdemar Costa Neto (PL-SP), o primeiro deputado a renunciar durante as investigações do escândalo do mensalão. Em foco, a reunião de 2002 que decidiu o apoio do PL (Partido Liberal) ao PT e a indicação de José Alencar para vice de Lula.

O encontro se deu no apartamento do então deputado Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília. Lula estava presente. Depois de árdua negociação, durante a qual Lula, discreto, se retirou a um aposento ao lado, fechou-se o acordo pelo qual o PT se prontificou a transferir R$ 10 milhões para o PL. Época pergunta:

– Lula sabia que a conversa no quarto era sobre dinheiro?

– Ele sabia. O presidente sabia o que a gente estava negociando. Olha, ele e o Zé Dirceu construíram o PT juntos. O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo. O Lula foi para lá para bater o martelo. Tudo o que o Zé Dirceu fez foi para construir o partido.

O vice-presidente Alencar confirmou a entrevista de Valdemar:

– Tudo aquilo que ele fala é verdade. Houve uma reunião e houve um acordo. Esse acordo está registrado na imprensa no ano de 2002, um acordo eminentemente político.

Em sua denúncia sobre o escândalo do mensalão, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, refere-se assim ao acerto PT/PL:

“O acordo criminoso com os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e Silvio Pereira foi acertado na época da campanha eleitoral para a presidência da República em 2002, quando o PL participou da chapa vencedora.”

Em 23 de agosto de 2005, Valdemar depôs à CPI do Mensalão. Sustentou que empregou R$ 6,5 milhões do caixa 2 do PT repassados ao PL, entre janeiro de 2003 e setembro de 2004, para pagar material de campanha do segundo turno das eleições de 2002:

– A situação em São Paulo era difícil. Lula tinha vencido José Serra no primeiro turno por apenas 100 mil votos. Tínhamos que entrar com força. Encomendei o material e o dinheiro foi gasto para pagar os fornecedores.

Vale registrar a entrevista de Hélio Bicudo, o respeitável jurista, à revista Veja. Bicudo, quadro histórico do PT, desligou-se do partido:

– Lula é um homem centralizador. Sempre foi presidente de fato do partido. É impossível que ele não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos e quem era o responsável. Não é porque o sujeito é candidato a presidente que não precisa saber de dinheiro. Pelo contrário. É aí que começa a corrupção.

– Por que o presidente não tomou nenhuma atitude para impedir que a situação chegasse aonde chegou?

– Ele é mestre em esconder a sujeira embaixo do tapete. Sempre agiu dessa forma.

Desabafo do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), outro acusado de envolvimento no escândalo do mensalão, durante uma reunião do Campo Majoritário, a corrente do PT cujas lideranças máximas sempre foram Lula e José Dirceu. Cunha fez ameaças veladas a Lula, reclamou de ingratidão e de hipocrisia. Apesar de feitas a portas fechadas, acabaram na imprensa. Não foram desmentidas. O envolvimento de Lula, por Cunha:

– Quem tomou a decisão de fazer alianças? Foi o Zé Dirceu? Quem exigiu o contrato com Duda Mendonça?

Em outras palavras, Lula não só sabia, como estava por trás de tudo. Era o chefe. Continua a ser o chefe.

Insatisfeitos com o presidente, próceres do PT mantiveram a carga sobre Lula. Em entrevista à Folha de S.Paulo em 25 de setembro de 2005, Dirceu disse quem, em sua opinião, eram os responsáveis pela crise:

– Muita gente. Parece que eu fui presidente do PT sete anos sozinho, secretário-geral cinco anos sozinho, né? O PT não foi construído assim. Tem dezenas de dirigentes importantes que hoje são prefeitos, governadores, ministros, deputados e senadores que participaram da construção de toda essa estratégia comigo.

– E o presidente.

– E o próprio presidente da República. É isso o que eu digo. A responsabilidade é de todos nós. Nós temos que debater isso, num congresso do partido, e fazer o balanço.

– O senhor acha que o presidente da República assume a responsabilidade que tem?

– Não quero nominar ninguém. O que eu não aceito é prejulgamento, que foi tudo errado, que foi tudo um fracasso, que a política de alianças do PT estava errada. Tudo foi aprovado democraticamente.

Dirceu respondeu se Lula participou das discussões:

– Participou. Todos participaram. Mas eu quero discutir e avaliar. Eu não quero julgar ninguém porque eu não quero que me prejulguem. O que não aceito é a imagem de que eu fiz tudo sozinho e depois apareceu Silvio Pereira, Delúbio Soares e Marcelo Sereno, que são o mal. Então corta esse mal e o PT está salvo. Isso é maniqueísta. E eu não mereço isso.

Outro trecho da entrevista:

– As pessoas que votaram no PT a vida inteira imaginavam que votavam num partido que tinha práticas diferentes.

– Esse é um erro e o PT vai pagar por ele. Nós vamos ter que pedir desculpas ao país. Nós assumimos compromissos na campanha eleitoral com partidos e repassamos recursos. Se fossem da arrecadação oficial do PT, não teria problema nenhum. Como foram recursos de empréstimos tomados num banco e foram repassados fora da prestação de contas, há uma ilegalidade aí que vai ser punida pela Justiça.

Sobre a política de alianças e o programa de governo de Lula:

– Então estão julgando Lula também. Tem de saber qual é o julgamento e qual é o grau de responsabilidade de cada um.

– E a responsabilidade política? As pessoas votam no Lula e ele não sabe de nada? É difícil acreditar que ele ignorava tudo.

– Não é isso. É que ele não tem responsabilidade. Eu não posso atribuir responsabilidade a ele no grau dele. O Lula tem responsabilidade política porque ele era líder do PT. Mas os graus são diferentes. Não posso atribuir a ele responsabilidade sobre o caixa 2. Aí eu não vou atribuir.

– Ele não tem responsabilidade como liderança?

– Isso é uma pergunta que tem de ser dirigida a ele. Eu não vou responder por ele.

Menos de duas semanas depois, foi a vez de Lula conceder entrevista. Ele falou ao programa Roda Viva, da TV Cultura:

– Feliz o país que tem um político da magnitude do Zé Dirceu.

Em outro momento:

– Qual a acusação que existe contra o Zé Dirceu?

Outra entrevista perigosa para o presidente. O entrevistado agora foi Silvio Pereira, o ex-secretário-geral do PT. Silvinho falou à Folha de S.Paulo, em 2 de outubro de 2005:

– A minha responsabilidade não é diferente da de nenhum outro dos 21 membros da executiva nacional do PT. O nível de decisão que eu tinha não era diferente do de nenhum dos 21 membros da executiva nacional do PT.

Silvinho evitou citar nomes:

– Eu assumo a responsabilidade como membro da direção do PT, em que pese a direção do PT ter realmente a noção do que estava acontecendo. Ninguém é hipócrita de achar que não sabia que existia caixa 2. Qual membro da direção do PT não sabia disso?

O repórter perguntou se o então presidente do partido, José Genoino, sabia do esquema de caixa 2. Palavras de Silvinho:

– Eu pergunto: qual o membro da alta direção do PT que não poderia supor que pudesse existir?

Silvinho foi afastado do PT ao admitir que ganhou um jipe Land Rover de presente de uma fornecedora da Petrobrás.

Um fardo pesado para Lula, o caso Santo André. Em 23 de novembro de 2005, a empresária Rosângela Gabrilli depôs à CPI dos Bingos. Trouxe à luz meandros do esquema de corrupção engendrado na administração do ex-prefeito Celso Daniel.

A irmã dela, Mara Gabrilli, pediu ajuda diretamente a Lula. Esteve no apartamento do presidente em São Bernardo do Campo (SP), e conversou com ele por 20 minutos. Descreveu um quadro de extorsão contra prestadores de serviços à Prefeitura, como a empresa da família dela. Lula ficou de “averiguar e tomar providências”. Desabafo de Mara, confirmando o depoimento da irmã:

– Ninguém fez absolutamente nada. Nunca tive uma resposta.

Chamada a depor na mesma CPI dos Bingos, Mara revelou novas informações sobre o encontro com Lula. Na ocasião, contara ao presidente que Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, estava envolvido no esquema de corrupção. Também o acusavam de mandar matar Celso Daniel. Durante a reunião de Mara com o presidente, Lula virou-se para os três assessores que o acompanhavam no apartamento, para dizer:

– Nossa, eu achei que o Sérgio Gomes já estava muito longe.

Como sempre, Lula não sabia o que se passava. Conveniente. O incrível é que o tal Sombra não saía do noticiário dos jornais. Vivia prestando depoimentos a CPI, Ministério Público e Polícia Civil. Como poderia estar “muito longe”? O presidente seria tão desinformado?

Lula não tomou providências para resolver o problema em Santo André, conforme se comprometera. Ao invés disso, a família de Mara passou a sofrer pressões. Ela explicou à CPI o que aconteceu após a conversa em São Bernardo do Campo. Referiu-se ao ex-vereador Klinger Luiz de Oliveira (PT), um dos acusados de envolvimento no esquema de corrupção:

– Ocorreu justamente o contrário. Klinger soube, reclamou, e dias depois uma comissão de sindicância da Prefeitura se instalou na nossa empresa.

Além de Santo André, a crise política teve outra ramificação importante em Ribeirão Preto (SP), terra de Antonio Palocci. Irromperam sucessivos indícios de condutas inadequadas e corrupção na cidade, na época em que a administração municipal estava sob o comando do prefeito Palocci. Apesar da gravidade das denúncias que só se avolumavam, Lula fez reiteradas defesas do seu ministro da Fazenda.

Quanto mais clara a participação de Palocci na malversação dos contratos de limpeza pública de Ribeirão, mais manifestações de Lula a elogiar o ex-prefeito. Como justificar a defesa intransigente dos procedimentos de alguém cujo envolvimento nas falcatruas ficava cada dia mais evidente?

O noticiário era farto: inquéritos, provas documentais e testemunhas. Principalmente os depoimentos do advogado Rogério Buratti. Ele manteve ligações estreitas com o PT, mas decidiu contar o que sabia para melhorar sua situação na Justiça. Por que, então, a solidariedade a Palocci? Aparentemente, só há uma explicação. Palocci sabia demais. Impossível Lula simplesmente demiti-lo e mandá-lo de Brasília de volta a Ribeirão. Palocci era uma pedra no sapato do presidente.

Ao admitir a hipótese de impeachment de Lula, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, falou da proximidade do presidente com Luiz Gushiken, outro integrante do “núcleo duro” do Planalto. Busato tratou do caso Visanet, ou seja, do dinheiro da publicidade do Banco do Brasil que, de acordo com as investigações da CPI dos Correios, acabou desviado para o PT:

– A revelação de repasses de verba de publicidade da Visanet, ligada ao Banco do Brasil, a agências de Marcos Valério, e de distribuição a parlamentares sempre em épocas apropriadas ao governo, atingiu mortalmente o coração de Gushiken. E, ao atingir Gushiken, atinge Lula, na medida que o presidente não tomou nenhuma atitude para afastá-lo do governo. É prova inconteste de que Lula sabia exatamente de todo o esquema e estava de acordo com a sua existência.

Busato não tem dúvidas:

– A participação de Lula é absolutamente baseada pela proximidade de quem sempre foi confidente e grande amigo de Gushiken. O ex-ministro realmente comandava toda a área de comunicação do governo federal, onde havia um desvio de dinheiro público para atividades partidárias e delituosas no sentido de corromper o Congresso Nacional.

Em 17 de janeiro de 2006, mais evidências de que o presidente sabia muito bem o que se passava à sua volta. Gente muito próxima de Lula estava exposta a denúncias de corrupção, com amplo conhecimento de Lula. Em depoimento à CPI dos Bingos, voltou à cena o economista Paulo de Tarso Venceslau. Ele pôs o dedo na ferida. Declarou que enviou uma carta diretamente a Lula, em 1995, para relatar as peripécias do amigo e compadre do presidente, o advogado Roberto Teixeira. Na década de 80, Teixeira emprestou um imóvel para Lula morar, em São Bernardo do Campo.

Teixeira representava uma empresa que vivia batendo nas portas de prefeituras do PT para obter contratos sem licitação, com base “em notas falsas e rasuradas”. Apesar de informado, Lula nada fez. Como se vê, a coisa vinha de longe.

Insatisfeito na época, Venceslau procurou o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), sempre muito próximo de Lula. Reação de Mercadante ao ler a carta endereçada a Lula, segundo a descrição não desmentida de Venceslau:

– Ele ficou chocadíssimo e disse: “Isso é nitroglicerina pura”. Mas não fez nada. Afirmava que tentava sem conseguir. O silêncio continuou.

Pergunta-se: como “tentava e não conseguia”? Mercadante tinha acesso privilegiado a Lula. Em 1994, por exemplo, foi candidato a vice-presidente quando Lula tentou chegar ao Palácio do Planalto pela segunda vez. Se Mercadante tentou e não conseguiu afastar Teixeira do PT, a resistência foi do próprio Lula. Não há outra hipótese. Venceslau também contou tudo a frei Betto, outro amigo histórico de Lula. Frei Betto dirigiu-se assim a Venceslau:

– Se o Lula souber que alguém está conversando com você, ele jura que aquela pessoa vai ser decapitada do partido.

Lula protegia o esquema suspeito de corrupção, engendrado por seu compadre. Ressalte-se que isso ocorreu em 1995. Desde 1993 Venceslau vinha denunciando Teixeira. Na época, Venceslau era secretário de Finanças de São José dos Campos (SP), cidade cuja prefeita era Ângela Guadagnin (PT-SP).

Ângela foi ouvida depois do depoimento de Venceslau. Ela admitiu outra acusação, a de que Paulo Okamotto, homem de confiança do presidente Lula, percorria prefeituras do PT na década de 90. Okamotto ia atrás de listas de fornecedores das administrações. De posse dos nomes das empresas, ia a campo pedir dinheiro a quem mantinha contratos com os governos do PT. Ângela é outra estrela do PT que teve papel importante nos desdobramentos do escândalo do mensalão. Ela admitiu:

– O que fica desse episódio é que se conhecia o esquema de arrecadação paralela há muito tempo, desde 1993.

A coisa é anterior. Em 1989, a primeira eleição para presidente disputada por Lula. Ele mesmo, pessoalmente, pediu à então prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, um esquema que alterasse a ordem cronológica dos pagamentos a empresas contratadas para fornecer bens e serviços à administração municipal.

Naquele final da década de 80, vivíamos tempos de inflação galopante. Receber antes do prazo estipulado, portanto, permitiria fazer aplicações financeiras que renderiam bom dinheiro. Quem fosse contemplado com o benefício retribuiria à altura, com transferências generosas de dinheiro para o caixa 2 do PT. Luiza Erundina resistiu.

Em 1998, Lula foi candidato a presidente pela terceira vez. Em 9 de fevereiro de 2006 depôs ao Ministério Público um ex-secretário de Habitação de Mauá (SP), de nome Altivo Ovando Júnior. Em 1998, aquela cidade da Grande São Paulo estava sob comando do ex-prefeito Oswaldo Dias (PT). De acordo com o depoimento de Altivo Ovando Júnior ao Ministério Público, Lula pressionou por dinheiro para financiar a sua campanha eleitoral:

“O declarante se recorda de que, no pleito de 1998, o presidente Lula compareceu no gabinete do prefeito de Mauá, oportunidade em que, utilizando termos chulos, cobrou de Oswaldo Dias maior arrecadação de propina em favor do PT.”

Durante o depoimento, foi reproduzida frase atribuída a Lula:

“Ele dizia: ‘Pô, Oswaldão, tem que arrecadar mais, faz que nem o Celso Daniel em Santo André. Você quer que a gente ganhe a eleição como?’”

Naquele ano, Lula voltou a perder, pela terceira vez consecutiva. Mas, em 2002, disputou e foi eleito presidente. Passou a despachar no gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto. Após mais de três anos, fica difícil acreditar que não soubesse o que acontecia na sala bem ao lado de seu gabinete, ocupada durante parte daquele período de turbulência pelo superministro Antonio Palocci. E ali se urdiu a conspiração contra o caseiro Francenildo Costa.

O rapaz havia desmascarado Palocci. Contestou as mentiras do ministro. Palocci procurava um meio de negar o impossível, o fato de ter sido um freqüentador da “casa dos prazeres”. A mansão fora alugada em Brasília pela “república de Ribeirão Preto”, como ficou conhecido o grupo de colaboradores do então ministro, e costumava ser reduto para festas com garotas de programa.

Lula participou ativamente da tentativa de blindar Palocci. O presidente teria tramado o recurso ao STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender o depoimento de Francenildo à CPI dos Bingos. As investigações sobre o caso mostraram que Lula fora avisado pessoalmente da ordem de Palocci para que violassem o sigilo bancário do caseiro. Jorge Mattoso, o presidente da Caixa Econômica Federal, avisou-o em 24 de março de 2006.

A rigor, Lula já recebera informações a respeito em 20 de março, quando o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, relatou ao presidente o envolvimento de Palocci na quebra do sigilo. Palocci foi afastado em 27 de março, uma semana depois. Naquele momento, não havia mais jeito de desvinculá-lo do crime. Durante todo o escândalo, Lula deu uma de quem não sabia de nada. Ao mesmo tempo, participava de toda a operação abafa.

No auge da crise, em 23 de março, houve uma reunião na casa de Palocci. A revista Veja relatou que um sindicalista nomeado por Lula na vice-presidência da Caixa Econômica Federal fora escolhido para subornar algum funcionário da Caixa, com R$ 1 milhão. A idéia era encontrar alguém para assumir a violação do sigilo.

O tal sindicalista, Carlos Augusto Borges, é homem de confiança de Lula. Será possível que o presidente não soubesse da missão de Borges? Ou, ao contrário, teria sido exatamente o presidente quem o designara para pilotar a operação de suborno? Tudo indica que Lula considerava sua obrigação fazer tudo o que estivesse ao alcance para salvar Palocci, que tantos serviços prestara desde a campanha eleitoral de 2002. Sabe-se que, depois da reunião na casa de Palocci, o ministro da Fazenda e Bastos foram se encontrar com Lula no Palácio do Planalto.

Em 16 de abril de 2006, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, concedeu entrevista à Folha de S.Paulo. Ele reproduziu as palavras de José Dirceu ao procurá-lo na véspera da votação do processo que cassou o seu cargo de deputado. Dirceu queria o apoio de Garotinho para não perder o mandato. Disse assim:

– Saiba que tudo o que fiz, tudo, fiz porque o Lula mandou. Você acha que ia mandar bloquear o dinheiro do Rio e o Palocci iria obedecer? Todo político tem alguém que faz o lado mau. Estou pagando agora por ter feito o lado mau.

Publicada a entrevista, o comentário do ex-deputado Dirceu, devidamente cassado, sobre a declaração de Garotinho:

– Não vou bater boca com ele.

Informações que vieram a público e não foram desmentidas, durante a segunda quinzena de abril de 2006. As notícias dão conta de que Dirceu, depois de cassado, continuou a se reunir com Lula e integrantes do governo federal. Foi incumbido de missões estratégicas, como a de se encontrar com o ex-presidente Itamar Franco, com quem Lula tentava uma aproximação política.

Se Lula manteve relacionamento nos porões da política com Dirceu, era falácia o discurso do presidente de que fora apunhalado pelas costas, no escândalo do mensalão. Afastar Dirceu de seu governo teria sido só um jeito de manter as aparências.

Dirceu pagou caro. Foi cassado justamente por ter sido apontado como o responsável pelo esquema de corrupção. Apenas o operava. Vê-se agora que Lula não interrompeu a parceria com Dirceu. Não foi traído, portanto.

Este livro é um empenho pela memória. Tantos os caminhos da corrupção, dos personagens corruptores e corrompidos, que ao longo dos 403 dias de crise, esquecemos, nos cansamos, ficamos anestesiados, descrentes. Temos de lembrar. Lembrar para não repetir.

Lula não queria a verdade. Não a quer. O chefe de tudo foi, desde o início, como se verá no dia-a-dia dos acontecimentos, o próprio presidente Lula.

© 2006 Por Ivo Patarra
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Anônimo disse...

Porque tantas informações sobre o Rotary?