Por Cristóvam Aguiar
Tida e havida como modelo de gestão em saúde pública, a cidade de Vitória da Conquista, terra do secretário estadual de Saúde, Dr. Jorge Solla, promoveu no dia 15 de setembro passado um ato em prol da aprovação da Emenda 29. A emenda tem como objetivo o aumento dos recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS) e está emperrada na Câmara dos Deputados. Na oportunidade, o Dr. Jorge Solla se fez presente e, em seu pronunciamento, atacou a Imprensa e tentou passar uma imagem de que a cidade é, realmente, um modelo de saúde pública, o que não é verdade, conforme se pode constatar conversando com médicos e pacientes.
“Eu acho que a gente tem que desmistificar algumas idéias que passam no senso comum, e que os meios de comunicação vivem propagando. O pessoal da comunicação diz que notícia boa não é notícia. É por isso que existem jornais que, quando se espreme, corre sangue. Muitas vezes existem denúncias absurdas, irresponsáveis”, afirmou o secretário.
Segundo ele, a Imprensa se apressa em divulgar notícias ruins, mas não divulga o que o governo Lula faz de bom. “Não divulgam este centro de referência em DST/AIDS (de Vitória da Conquista), que é o maior de todo o interior do Norte e do Nordeste”, disse ele. Mas o Centro a que ele se referiu, foi alvo de matéria do jornal "A Tarde", há cerca de dois meses, denunciado que foi por estar reutilizando material descartável.
“Não divulga (a Imprensa) a quantidade de pacientes que são atendidos aqui todos os dias, não só da região Sudoeste, mas até da região Sul da Bahia, além dos milhares e milhares de Reais gastos com medicamentos de alto custo para tratar estes pacientes do SUS”, acusou o Secretário.
Contudo, pacientes do SUS, como dona Eunice Morais, que teve solicitada uma mamografia e em agosto passado havia completado um ano sem conseguir realizar o exame. Ou então como dona Maria Isabel da Silva, que solicitou uma consulta com um gastroenterologista em março deste ano, e até setembro não havia conseguido. Quanto aos medicamentos, uma paciente denunciou que uma farmácia estava comercializando medicamentos que deveriam estar sendo distribuídos gratuitamente pela Farmácia Básica da Secretaria Municipal de Saúde.
O Dr. Solla afirmou ainda que o município de Vitória da Conquista teve que entrar na Gestão Plena da Saúde, “com menos recursos do que o SUS já investia”. Segundo afirmou, “em 2002 o Secretário Estadual de Saúde foi a Brasília exigir que o Ministério da Saúde não aumentasse os recursos repassados para Vitória da Conquista”.
Mas o Dr. Solla não disse que desde 2002, quando ele era secretário do Ministério da Saúde, os incentivos eram todos para Conquista, e que em 2004 ele graciosamente alocou CR$ 3 milhões acima do teto do município, sem passar pela Comissão Intergestora Bipartite (CIB) que decide onde os recursos devem ser alocados em todo o Estado. Não disse também que Vitória da Conquista, com cerca de 300 mil habitantes, recebe recursos para a Gestão Plena, superiores a outros municípios, que têm o dobro da sua população.
Depoimentos
“A situação da Saúde em Vitória da Conquista não é diferente de nenhum município da Bahia”. A afirmação é do Dr. Sebastião Castro, ex-Secretário de Saúde do município e ex-deputado estadual por dois mandatos, projetista, fundador e ex-diretor do Hospital de Base, o hospital estadual de Vitória da Conquista.
Segundo ele, a saúde pública de Conquista “funciona com todas as deficiências dos outros municípios. Falta pessoal, faltam equipamentos, materiais, medicamentos, tudo. Fisicamente, nós temos uma rede hospitalar boa, mas que na prática não funciona. Quando o município entrou na Gestão Plena, os serviços chegaram a funcionar satisfatoriamente. Eu creio que com a pactuação com outros municípios, estes não estão passando os recursos pactuados ou então estão enviando mais pacientes do que a cota pactuada, o que prejudica o atendimento. As emergências vivem superlotadas, com internamentos feitos nas próprias emergências”, afirmou o médico.
Por sua vez, o Dr. Agnes Souza, também ex-secretário de saúde do município, disse que há necessidade de um melhor atendimento nos postos de saúde, que são muitos, mas faltam médicos. “Os plantonistas das emergências não podem examinar os pacientes como deveriam, dedicando mais tempo, como ocorreria num ambulatório ou num posto de saúde. Ele prescreve um medicamento com base apenas na queixa do paciente e, o que é pior, ele quase sempre não voltará a ver aquele paciente, para lhe dar o devido acompanhamento”, afirmou.
Cientes das declarações do Dr. Jorge Solla, o Dr. Agnes sentenciou: “Dr. Solla mede largo, mas corta estreito”.É importante salientar, que só o Hospital de Base atende a emergências no momento, mesmo com deficiências. A Santa Casa, contratada pelo SUS, nunca tem leitos disponíveis; a clínica Unimec, só atende a emergências clínicas, cirurgias eletivas e Pronto Atendimento; no hospital Esaú Matos falta de tudo. Portanto, os conquistenses não vêem esse exemplo de “Saúde Pública”, tão falado pelo Secretário Jorge Solla , como foi exclamado por alguns munícipes ouvidos.
Mas, com certeza, muitos recursos virão, e quem sabe, toda essa realidade se transforme. Por enquanto, a realidade é essa.
Cristóvam Aguiar é jornalista- DRT/BA 2318
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