Por Thiago Cortês
"Nós afundamos tanto que a reafirmação do
óbvio agora é o primeiro dever dos homens inteligentes". - Eric Arthur Blair (George Orwell)
Em
um de seus deliciosos ataques à nossa tendência em enaltecer a aparência da
coisa e ignorar a coisa em si, H.L. Mecken destacou que a maioria das pessoas
se impressiona facilmente com sinais exteriores de superioridade (moral):
"Talvez a qualidade mais valiosa que qualquer
homem pode ter neste mundo seja um ar naturalmente superior […] A estupidez e a
covardia congênitas dos homens fazem com que eles se curvem a qualquer líder
que surja, e o sinal de liderança que reconhecem mais de pronto é aquele que se
mostra externamente".
("O Livro dos Insultos")
O papa Francisco é a personificação deste tipo de
liderança que precisa desesperadamente da imagem de superioridade para
legitimar sua autoridade e suas ideias estúpidas.
Desde sua chegada ao Vaticano, Francisco trabalha
intensamente para transmitir uma imagem de absoluta humildade. Trata-se de um papa
que se importa mais em expor seus sentimentos em praça pública do que zelar
pela doutrina de sua Igreja.
Francisco não dispensa gestos teatrais como lavar
pés de refugiados e muçulmanos, desde que cercado pela imprensa mundial. Ele
também lavou os pés de detentos em Roma, com direito à transmissão ao vivo pela
imprensa do Vaticano.
Obcecado que é em parecer moralmente superior, Francisco
está sempre disposto a alfinetar o presidente americano e expressar seu
amor desmedido por imigrantes - embora só o que ele faça por eles seja lavar os
seus pés nas frentes das câmeras.
É o tipo de "humildade" tão espetacular, tão midiática e
desequilibrada que, parafraseando o grande Jello Biafra, "atinge o nível da
mais profunda soberba".
Por trás da embalagem de humildade franciscana e de
interesse pelo próximo, existe um líder que decidiu se calar diante do massacre
que vive o povo venezuelano e ignorar a recente perseguição iniciada por Evo
Morales contra os cristãos da Bolívia.
O silêncio ensurdecedor do "amoroso" papa Francisco
diante das atrocidades cometidas contra cristãos na América Latina é uma
absoluta vergonha. Mas a dura verdade é que Francisco já está muito além do
ponto da simples negligência.
Ele se recusou a ter uma relação meramente protocolar com
tais chefes de Estado, apesar do histórico deles, e se esforçou para estender a
eles amizade e apoio ostensivo.
Ao ignorar o martírio dos cristãos venezuelanos e
silenciar diante da escalada de perseguição religiosa na Bolívia, e ao se
juntar Evo e Maduro na crítica ao capitalismo, Francisco tem um papel ativo na
legitimação de tais regimes.
Não é apenas negligência. Francisco oferece, desde que
chegou ao Vaticano, apoio tácito aos regimes políticos que assassinam e
escravizam pessoas em pleno século 21.
Maduro "faz progredir
solidariedade e convivência pacífica".
Não é novidade que Francisco é um entusiasta de formas
tropicais de socialismo e qualquer coisa que soe anticapitalista aos seus
ouvidos seletivos. Ele jamais cobrou Nicolás Maduro pelo assassinato e prisão
de dissidentes, estudantes e religiosos.
Francisco jamais teve pudor em expressar seu afeto pelo
ditador da Venezuela.
Em uma viagem ao Equador, ele teve a ousadia e o cinismo
de declarar:
"Ao sobrevoar o território venezuelano para dar início a
minha visita pastoral ao Equador, Bolívia e Paraguai, de bom grado envio uma
cordial saudação a Vossa Excelência, [Maduro] manifestando meu afeto e
proximidade ao povo venezuelano, no momento em que peço ao Senhor abundantes
graças que o ajudem a progredir cada vez mais na solidariedade e na convivência
pacífica."
Em 2014 a jovem católica Génesis Carmona, de 22 anos, que
havia sido eleita Miss Turismo de seu estado, Carabobo, foi assassinada com um
tiro na cabeça durante um protesto contra a ditadura de Nicolás
Maduro.
Em 2015 um menino de apenas 14 anos, chamado Kluiver Roa,
foi covardemente executado durante um protesto contra em San Cristobal. Do papa
Francisco, a família não recebeu uma única palavra de solidariedade ou
manifestação de luto.
Francisco apenas pediu o "fim dos confrontos", ignorando
que o causador da violência contra estudantes e dissidentes é seu amigo
Nicolás Maduro.
No ano passado diante da fome epidêmica e da perseguição
aos dissidentes, com assassinatos de estudantes e trabalhadores, os cristãos
venezuelanos passaram a se manifestar, promovendo reuniões públicas de orações
em Caracas.
Nenhuma solidariedade receberam do papa
Francisco, que está sempre mais preocupado em criticar o presidente
democraticamente eleito dos EUA.
A execução recente de Oscar Péres tampouco abalou o
Papa Francisco, que esteve nesta semana no Chile, mas não disse absolutamente
nada sobre a violência na Venezuela, preferindo criticar a já encerrada
ditadura de Pinochet!
Francisco prefere falar genericamente sobre "vítimas da
fome" no mundo a enfrentar as atrocidades cometidas pelos seus amigos
ditadores.
Silêncio diante da
Igreja Perseguida na Bolívia
Francisco adora criticar a economia de mercado, mas nada
diz sobre a fome que castiga o povo venezuelano, chegando a afirmar asneiras
colossais, incluindo que a economia "precisa de uma alma" e que a riqueza "destrói milhões de famílias no mundo".
Enquanto isso na Bolívia, sem o apoio de Francisco,
católicos e evangélicos se unem para protestar contra o Novo Código de Sistema
Criminal que criminaliza a evangelização no País, cerceia liberdades
religiosas e permite a censura dos meios de comunicação. As lideranças
católicas da Bolívia estão arriscando suas vidas ao denunciar o autoritarismo
de Evo Morales, mas ainda assim só o que recebem do Vaticano é o mais profundo
silêncio. O arcebispo de Santa Cruz, Sergio Gualberti, é uma dessas lideranças.
O arcebispo fez um sermão que está obtendo grande
repercussão, sendo considerado a mensagem mais dura vinda de um líder cristão
contra o presidente. Ele denunciou a tentativa de Morales se perpetuar no
poder, uma vez que conseguiu mudar a Constituição e vai para seu quarto mandato
consecutivo.
A frase de "Com este sistema, a única coisa que
conseguirá será a paz dos cemitérios", causou grande comoção entre os
bolivianos. O arcebispo disse ainda: "Hoje, em nosso país, ignorando o
clamor do povo, tentam impor um sistema que lhes permite perpetuarem-se no
poder, que limita as liberdades, abre caminho à perseguição da oposição e
favorece a impunidade da corrupção daqueles que estão no governo".
O papa Francisco já aceitou de Morales um crucifixo em
forma do símbolo comunista da foice e martelo. Disse, na época, que o fez para
manter o diálogo aberto.
Este seria o momento de fazer uso de toda a amizade que
eles e esforçou em nutrir junto aos ditadores latino-americanos.
Mas Francisco continua com seu silêncio ensurdecedor. E,
ainda assim, ele recebe apoio de multidões de alienados e imbecis do mundo
todo.
Basta Francisco sacar do bolso alguma platitude e
discorrer sobre ideais analgésicos da transcendência, da fraternidade universal
ou do bem comum. E a imprensa repercute tais trivialidades como um ato de
coragem contra os poderosos do mundo…
A verdade, contudo, é que Francisco tem sangue nas mãos.
Thiago Cortês é jornalista.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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