Por Miguel Lucena
O brasileiro, antes bom
vizinho e reverente aos mais velhos, tornou-se tosco. Copiou de outras culturas
modos herméticos, festas de bruxas, ações violentas de torcidas organizadas
(holligans), comidas embaladas a vácuo e a ditadura do politicamente correto,
imposta pelos diversos meios para inibir a liberdade de crítica e liberar as
ações deletérias de seus protagonistas.
A pretexto de combater a
ordem vigente, grupos instalados em instâncias formadoras de opinião
estimularam a negação ao princípio da autoridade, começando com o
enfraquecimento do temor reverencial aos pais, fim da hierarquia entre
professores e alunos e o descrédito das instituições religiosas, tidas
como ópio do povo.
Os bandidos mereceram
atenção especial ao longo dos anos, enquanto os cidadãos de bem, trabalhadores
que insistiram em ser honestos e ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio
rosto, ficaram esquecidos.
O Judiciário, carcomido
e atrasado, agarrou-se aos privilégios e, para agradar aos propagadores da
ideologia deletéria - de inversão dos valores morais da sociedade -, foi
cedendo aqui e ali, dando mais ouvidos ao criminoso do que às autoridades
constituídas para combater o crime, chegando a acarear agentes públicos com
bandidos notórios, em pé de igualdade, para saber quem tinha razão.
As organizações de
direitos humanos, sob o argumento de que sua função era enfrentar os excessos
do Estado, transformaram-se em babás de facínoras, fechando os olhos para as
vítimas dos assassinos, estupradores e latrocidas.
O povo cordial
transformou-se em gente rude, sem fineza no trato, atropelando-se em metrôs e
ônibus, trombando em quem estiver na frente, homens esfregando-se em mulheres e
masturbando-se na frente de todos, torcedores matando rivais a cacetadas,
pontapés e tiros.
A Polícia, acuada como
inimiga a ser eliminada, chega a mendigar ao Judiciário e ao Ministério Público
para adotar medidas de contenção do crime, como se as providências cautelares
fossem um favor a ser concedido à autoridade policial.
Os criminosos, cheios de
razão, nada temem: chegam ao cúmulo de invadir uma audiência para assassinar
uma magistrada, metralham fóruns e eliminam policiais, sem que o Estado tenha
coragem de reagir à altura. Somos bobos da corte com uma Constituição nas mãos,
enfrentando bandidos fortemente armados e gritando que o Estado de Direito vai
muito bem, obrigado!
Ninguém se cumprimenta
mais, pouco se apertam as mãos e se trocam abraços. Um bom dia é respondido com
um som gutural ininteligível, quando ocorre a resposta.
Nas escolas, o ensino
das disciplinas necessárias ao aprendizado é substituído por discussões
políticas intermináveis sobre acontecimentos recentes da politicagem de baixo
nível, e assuntos de troca de sexo são incutidos na cabeça de crianças
pequenas, enquanto a televisão exalta as onomatopeias de Anita como o máximo da
cultura musical.
A família sofre ataques
permanentes, sendo a figura do pai retratada como um sujeito mau que precisa
ser desconstruído, enquanto se estimula a produção independente de filhos que
não precisam da presença paterna.
Enaltecem-se como arte
performances obscenas e pedófilas, valorizam-se as incivilidades, as letras de
baixo calão e as coreografias que imitam atos sexuais, em festas embaladas em
ritmos que não passam de cópias piratas de outras culturas.
Tudo é relativizado,
inclusive a corrupção, relevando-se os desvios dos aliados e ídolos, criando-se
narrativas fantasiosas para encobrir os crimes contra a população,
comparando-se o roubo de bilhões ao ato de furar fila.
O resultado está aí: uma
sociedade que se desagrega aceleradamente, involui todos os dias, mergulha na
hipocrisia, na desfaçatez e no fingimento, quase perdendo de vez a vergonha.
Se não houver uma reação
a tudo isso, com a defesa dos valores que sustentam uma civilização saudável,
da liberdade com responsabilidade, do respeito ao outro, da proteção à família
e à infância, da gentileza e do amor fraterno, terminaremos os nossos dias nos
comunicando por meios de grunhidos.
Miguel Lucena é delegado
de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
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