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domingo, 21 de janeiro de 2018

"Falta pouco para um grunhido"



Por Miguel Lucena
O brasileiro, antes bom vizinho e reverente aos mais velhos, tornou-se tosco. Copiou de outras culturas modos herméticos, festas de bruxas, ações violentas de torcidas organizadas (holligans), comidas embaladas a vácuo e a ditadura do politicamente correto, imposta pelos diversos meios para inibir a liberdade de crítica e liberar as ações deletérias de seus protagonistas.
A pretexto de combater a ordem vigente, grupos instalados em instâncias formadoras de opinião estimularam a negação ao princípio da autoridade, começando com o enfraquecimento do temor reverencial aos pais, fim da hierarquia entre professores e alunos e o descrédito das instituições religiosas, tidas como  ópio do povo.
Os bandidos mereceram atenção especial ao longo dos anos, enquanto os cidadãos de bem, trabalhadores que insistiram em ser honestos e ganhar o pão de cada dia com o suor do próprio rosto, ficaram esquecidos.
O Judiciário, carcomido e atrasado, agarrou-se aos privilégios e, para agradar aos propagadores da ideologia deletéria - de inversão dos valores morais da sociedade -, foi cedendo aqui e ali,  dando mais ouvidos ao criminoso do que às autoridades constituídas para combater o crime, chegando a acarear agentes públicos com bandidos notórios, em pé de igualdade, para saber quem tinha razão.
As organizações de direitos humanos, sob o argumento de que sua função era enfrentar os excessos do Estado, transformaram-se em babás de facínoras, fechando os olhos para as vítimas dos assassinos, estupradores e latrocidas.
O povo cordial transformou-se em gente rude, sem fineza no trato, atropelando-se em metrôs e ônibus, trombando em quem estiver na frente, homens esfregando-se em mulheres e masturbando-se na frente de todos, torcedores matando rivais a cacetadas, pontapés e tiros.
A Polícia, acuada como inimiga a ser eliminada, chega a mendigar ao Judiciário e ao Ministério Público para adotar medidas de contenção do crime, como se as providências cautelares fossem um favor a ser concedido à autoridade policial.
Os criminosos, cheios de razão, nada temem: chegam ao cúmulo de invadir uma audiência para assassinar uma magistrada, metralham fóruns e eliminam policiais, sem que o Estado tenha coragem de reagir à altura. Somos bobos da corte com uma Constituição nas mãos, enfrentando bandidos fortemente armados e gritando que o Estado de Direito vai muito bem, obrigado!
Ninguém se cumprimenta mais, pouco se apertam as mãos e se trocam abraços. Um bom dia é respondido com um som gutural ininteligível, quando ocorre a resposta.
Nas escolas, o ensino das disciplinas necessárias ao aprendizado é substituído por discussões políticas intermináveis sobre acontecimentos recentes da politicagem de baixo nível, e assuntos de troca de sexo  são incutidos na cabeça de crianças pequenas, enquanto a televisão exalta as onomatopeias de Anita como o máximo da cultura musical.
A família sofre ataques permanentes, sendo a figura do pai retratada como um sujeito mau que precisa ser desconstruído, enquanto se estimula a produção independente de filhos que não precisam da presença paterna.
Enaltecem-se como arte performances obscenas e pedófilas, valorizam-se as incivilidades, as letras de baixo calão e as coreografias que imitam atos sexuais, em festas embaladas em ritmos que não passam de cópias piratas de outras culturas.
Tudo é relativizado, inclusive a corrupção, relevando-se os desvios dos aliados e ídolos, criando-se narrativas fantasiosas para encobrir os crimes contra a população, comparando-se o roubo de bilhões ao ato de furar fila.
O resultado está aí: uma sociedade que se desagrega aceleradamente, involui todos os dias, mergulha na hipocrisia, na desfaçatez e no fingimento, quase perdendo de vez a vergonha.
Se não houver uma reação a tudo isso, com a defesa dos valores que sustentam uma civilização saudável, da liberdade com responsabilidade, do respeito ao outro, da proteção à família e à infância, da gentileza e do amor fraterno, terminaremos os nossos dias nos comunicando por meios de grunhidos.
Miguel Lucena é delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.

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