Por Ipojuca Pontes
Desde
que Roberto Marinho morreu (agosto, 2003), o Grupo Globo (antiga Organizações
Globo) não acerta uma. Lá se vão quase 15 anos, mas o grupo, aferrado aos
ditames e interesses do "politicamente correto", navega na contramão do que
pensa a população brasileira, como se sabe, de natureza notoriamente
conservadora.
Já assinalei aqui, muitas vezes, que o povo
brasileiro, na sua imensa maioria, acredita em Deus, repudia o aborto, o
casamento gay, o fanatismo ambientalista, etc. etc., além de ter se manifestado,
em referendo, favorável ao livre comércio de armas e à compra de munições.
Nos últimos tempos, no plano da catequese política,
o esquema da Rede Globo foi derrotado nas suas pretensões inúteis de
triturar o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Já no caso do plebiscito
inglês, torcendo os fatos em favor da embananada União Europeia e contra
a criação do vitorioso Brexit, o esquema se ferrou de véu e grinalda (tal como
a social democrata Angela Merkel, a "Dama de Alumínio").
Na campanha pela Prefeitura do Rio de Janeiro, circuito
interno, o pessoal do esquema, sempre arrojado, apostou suas fichas nas
enfadonhas arengas do comunista Freixo (acolitado pela dupla Gil & Caetano)
que, tal como previsto, terminou surrado pelo inodoro pastor Crivella. De fato,
até o cambaleante Temer, encostado nas cordas do ringue, conseguiu vencer o
Grupo Globo na sua campanha pró impeachment presidencial - em que pese a
ferrenha atuação dos seus jornais, rádios e rede de TV.
No momento, o Grupo Globo atravessa o seu inferno astral,
vitimado pelas contradições do mundo "politicamente correto". Por exemplo: em
data recente, um galã das novelas (rebarbativas) da TV Globo foi posto em
quarentena por assédio sexual a uma figurinista da emissora - assédio em que
valia tudo, inclusive apalpadelas na "genitália" da mulher.
Por sua vez, William Waack, âncora do Jornal da Globo, o
mais "austero" da casa, foi posto de escanteio por fazer comentário
tipificado, nos dias atuais, como racista: em Washington, durante a campanha de
Trump, em entrevista ao vivo entrecortada por buzinaços, o jornalista deixou
escapar em "off": "É coisa de preto".
No escândalo do Caso Fifa, a adensar o inferno astral, um
ex-executivo da empresa Torneos e Competencias, que fazia mediação entre as
competições e as emissoras interessadas em sua transmissão, acusou a TV Globo
de pagar propina a dirigentes em troca de direitos de transmissão. Em nota,
contestando a acusação feita num Tribunal de Nova York, o Grupo assegurou que
jamais negociou ou pagou propina. E informou que "se colocará plenamente à
disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido" - exatamente como fazem Lula, Temer e tutti quanti diante
das acusações do juiz Moro.
Hoje, às vésperas da campanha presidencial de 2018, em
que procura detonar a todo custo o candidato Jair Bolsonaro, considerado uma "ameaça", o esquema Global, em artigos, comentários e entrevistas seletivas, inventa
presidenciáveis que possam derrubar o deputado federal mais votado do Rio de
Janeiro (já que Lula, condenado em primeira instância, pode - e deve - curtir
nove anos e meio de cadeia.
Assim, ora promovendo Marina Silva, a Tigresa de Papel,
ora badalando o aposentado Joaquim Barbosa, chegou mesmo a compor a "chapa
ideal": Marina de Presidente e Joaquim, de Vice - ou vice e versa. No mesmo
diapasão, se incensa a sombria figura de Henrique Meirelles, um sujeito que
mente adoidado e que vive ameaçando trazer a CPMF de volta.
Mas a grande onda, que a mídia cultiva como flor de
estufa em notas e e comentários diários, é a figura de Luciano Huck, o animador
de programa de "brincadeirinhas de auditório" da TV Globo. Óbvio, ninguém de
bom senso pode levar a sério a piada de mau gosto. Nem ele próprio. No fundo,
tudo não passa de mero jogo de marketing para o inviável candidato viajar na
maionese e faturar mais comerciais. Mas é bom lembrar que o comunista Roberto
Freire (nomeado procurador do Incra pelo general Médici, o "cruel ditador"),
depois de uma "sabatina", garantiu que o animador é um "brioso
social-democrata" e abriu as portas do seu PPS (antigo PCB) para o candidato de
voz fanha e nariz de tucano.
Enquanto as eleições não chegam, o pessoal do esquema intensifica
sua peçonha diária contra o candidato Bolsonaro, que sobe nas pesquisas. Semana
passada, 'O Globo' descobriu que o candidato é contraditório: posando de liberal,
Bolsonaro teria votado contra o Plano Real e reformas "progressistas". Pior:
votou contra a privatização da Petrobras e, por não concordar com a venda da
Vale do Rio Doce por preço de banana, afirmou que FHC, mentor da façanha, "merecia um tiro".
Vamos por partes. Antes de tudo é preciso dizer que o
mitológico Plano Real não passou de uma fraude programada. Na conversão
da moeda, em 1994, a mercadoria que valia, por exemplo, Cr$ 30,00 passou a
custar Cr$ 100,00, visto que a antiga moeda, substituída pelo real, foi
desvalorizada em cerca 70%. Por sua vez, num passe de mágica, o dólar passou a
valer (artificialmente) menos que o real - o que elevou os juros aos cornos da
lua e, mais tarde, alimentou a inflação e o desemprego em dois dígitos,
tornando FHC, no segundo mandato, objeto da ira e do deboche popular. Sendo
apontado por isso como principal responsável pela vitória eleitoral de
Lula, o Chacal.
No que se refere à postura de Bolsonaro quanto a
manutenção do monopólio da Petrobras, a empresa foi simplesmente
considerada como princípio ativo do nacionalismo econômico dos militares
que tiraram o Brasil da merda, de Castelo Branco a Figueiredo, passando por
Médici e Geisel. Mais radical, em sentido inverso, foi Roberto Marinho que, nos
anos 1950, promoveu ostensiva campanha contra a estatização do petróleo.
Ia falar sobre o "populismo" imputado ao candidato
Bolsonaro, mas deixo a tarefa para depois.
PS - No caso do
animador da Globo, a recente retirada de sua candidatura não anula o espaço
global gasto na promoção do falso candidato. Nem invalida as minhas
observações, pelo contrário, as confirmam.
Ipojuca Pontes, cineasta,
jornalista, e autor de livros como 'A Era Lula', 'Cultura
e Desenvolvimento' e 'Politicamente Corretíssimos',
é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e
foi secretário Nacional da Cultura.
Fonte: http://midiasemmascara.org
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