Por The Tablet
Se alguma vez você
se perguntou por quê a cobertura fotográfica do New York Times em
Gaza mostrou quase que exclusivamente crianças palestinas mortas e
sangrando no hospital de Shifa e muito poucos homens armados do Hamas, ou do
lançamento de mísseis contra Israel desde uma escola ou de uma mesquita para
ilustrar a narração do que ocorre lá, o referido jornal tem uma resposta
surpreendente: Tyler Hicks, o fotógrafo ganhador do prêmio Pulitzer, faz um
trabalho medíocre.
Para toda pessoa
que sabe algo de foto-reportagem, a resposta do New York Times suscita
algumas perguntas muito sérias sobre a saúde mental das pessoas que fazem este
periódico, assim como sobre a lealdade desse jornal a respeito de um dos
maiores fotógrafos de sua época, que põe sua vida em perigo diariamente
pelo New York Times nos pontos quentes do globo e nas zonas de
conflito.
Porém, segundo
Eileen Murphy, vice-presidente do Times para as Comunicações
Corporativas, os fotógrafos do jornal que trabalham em Gaza, dirigidos por
Hicks, são a única razão do desequilíbrio radical que existe na cobertura
fotográfica do Times dessa guerra. Pelo menos isso é o que ela disse
a Uriel Heilman, de JTA, quando lhe perguntou por quê, das 37 imagens das três
últimas apresentações de diapositivos em Gaza, não havia nem uma só de um
combatente do Hamas ou do lançamento de mísseis, ou de qualquer outra coisa que
pudesse indicar aos eleitores que Israel não decidiu simplesmente, por esporte,
mutilar e assassinar as crianças palestinas na faixa de Gaza.
Embora pareça
incrível, Murphy, na primeira parte de sua resposta, culpou os fotógrafos de
fornecer só um punhado de imagens de baixa qualidade: "Nossa editora de
fotos revisou todas as nossas fotos recentes e, entre várias centenas,
encontrou duas imagens distantes, de baixa qualidade, que foram sub-tituladas 'combatentes do Hamas' por nosso fotógrafo no terreno. É muito difícil
identificar as pessoas do Hamas porque não têm uniformes nem insígnias
visíveis, nosso fotógrafo nem sequer viu alguém que porte uma arma".
É assim que
realmente trabalha um legendário jornalista fotográfico como Tyler Hicks? Duas
imagens de baixa qualidade, muito distante, e nem uma foto de uma só pessoa que
carregue uma arma em toda Gaza, durante três semanas de um longo conflito no
qual mais de 1.500 pessoas morreram? Se a missão de Hicks o leva a outro lugar
fora de Gaza, alguém poderia suspeitar que ele não sai do bar do hotel.
O resto da resposta
de Murphy oferece só um pouco de luz sobre por quê o rendimento de Hicks foi
tão pobre: "Eu acrescentaria que não íamos reter as fotos dos
militantes do Hamas. Nos empenhamos em obter fotografias de ambos os lados do
conflito, porém estamos limitados pelo acesso que nossos fotógrafos têm".
A palavra-chave da
segunda parte da resposta de Murphy, certamente, é "acesso". Tyler Hicks
desmoronou em seu trabalho: ele está fazendo um trabalho muito duro e perigoso
em uma zona de combate, onde os fotógrafos são dificilmente livres para
fotografar o que querem. Este é o ponto-chave que Murphy e seus chefes estão
decididos a olhar de soslaio.
O que o New
York Times e outros meios noticiosos importantes parecem decididos a
esconder de seus leitores, é que seus fotógrafos e jornalistas têm dificuldade
para ir e vir livremente nessa zona de combate. De fato, trabalham em condições
terrivelmente difíceis sob o controle efetivo de uma organização terrorista que
- como a guerra mesma mostra - não duvida em mutilar, sequestrar e matar as
pessoas que não lhe agradam.
Como pode um
jornalista medir o potencial impacto de sua cobertura se seu acesso depende
diariamente do Hamas - sem falar de sua vida? Bem, o fato de que o New
York Times tenha só duas distantes, borradas e inutilizadas imagens de
Tyler Hicks de homens armados do Hamas diz tudo o que você necessita saber. Não
é assim?
Se sua imaginação
necessita de mais ajuda, eis aqui o que diz a coluna de Liel Liebovitz: "Só
nos últimos dias, ouvimos o relato de Gabriel Barbati, um jornalista italiano
que, tão logo saiu de Gaza, escreveu em seu Twitter: 'Fora de # Gaza longe da
represália do # Hamas: um míssil que falhou matou crianças ontem em Shati.
Testemunhas: militantes se equilibraram e limparam os escombros'. Também
ouvimos de Radjaa Abou Dagga, ex-correspondente do diário francês Liberación,
que por tentar exercer o jornalismo honesto foi convocado por matadores do
Hamas e acusado de colaborar com Israel. Lhe disseram que parasse seu trabalho
como repórter e que saísse de Gaza imediatamente.
Brincar de tímido
com os leitores acerca das razões pelas quais a cobertura do New York
Times é tão desequilibrada, faz pensar que esse jornal está defendendo
o trabalho de seus repórteres e fotógrafos. Na realidade, faz com eles e o
jornal apareçam como idiotas, enquanto que atua como o braço de propaganda de
uma organização terrorista. Alguém nesse periódico tem que dedicar uma séria
atenção ao raciocínio que transformou as condições de trabalho difíceis em Gaza
em um fracasso editorial evidente.
Tradução do inglês para o espanhol: Eduardo Mackenzie
Tradução para o
português: Graça Salgueiro
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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