Por Gabriel Castro e
Laryssa Borges, na VEJA.com:
A presidente Dilma Rousseff ficou extremamente irritada nesta
quarta-feira ao ser questionada sobre a participação do Planalto na farsa
montada por governistas e pelo PT para impedir investigações na CPI da Petrobras
no Senado - revelada por VEJA nesta semana. Ao deixar a sabatina promovida pela
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília, a petista
negou-se a esclarecer a ligação de servidores do Planalto com o caso: nesta
quarta, o jornal 'Folha de S. Paulo' informou que Luiz Azevedo,
secretário-executivo das Relações Institucionais, ajudou a elaborar o plano de
trabalho apresentado pela comissão em maio. Já Paulo Argenta, outro assessor da
pasta, foi um dos responsáveis pela preparação das questões antecipadas aos
depoentes, como mostra vídeo obtido por VEJA. Dilma também não explicou por que
servidores do governo e da liderança governista no Senado participaram da
formulação de um gabarito para depoentes. E foi além: ignorando o fato de que a
elaboração das perguntas feitas em uma CPI seja tarefa exclusiva dos
integrantes da comissão e do relator dos trabalhos, Dilma afirmou ser "estarrecedor o fato de que seja necessário alguém de fora da Petrobras
formular perguntas para ela".
Em um raciocínio confuso, a presidente-candidata disse que o setor
de petróleo seria complexo demais para que pessoas de fora da área
questionassem a Petrobras a respeito - e ainda ensaiou a tese de que apenas
técnicos especializados em combustíveis teriam condições de elaborar perguntas
à estatal. "Vou te falar uma coisa. Acho extraordinário. Primeiro porque o
Palácio do Planalto não é expert em petróleo e gás. O expert em petróleo e gás
é a Petrobras. Eu queria saber se você pode me informar quem elabora perguntas
sobre petróleo e gás para a oposição também. Muito obrigada. Não é o Palácio do
Planalto nem nenhuma sede de nenhum partido. Quem sabe das perguntas sobre
petróleo e gás só tem um lugar. Pergunta só tem um lugar no Brasil. Eu diria
vários lugares no Brasil: a Petrobras e todas as empresas de petróleo e gás",
disse, sem disfarçar o nervosismo - que tornou a fala da presidente ainda mais
difícil de ser compreendida.
"Você sabe que há uma simetria (sic) de informação entre nós,
mortais, e o setor de petróleo. É um setor altamente oligopolizado,
extremamente complexo tecnicamente. Acho estarrecedor que seja necessário
alguém de fora da Petrobras formular perguntas para ela", completou, sem
esclarecer o episódio.
VEJA revelou nesta semana que governistas engendraram esquema para
treinar os principais depoentes à comissão de inquérito, repassando a eles
previamente as perguntas que seriam feita na CPI e indicando as respostas que
deveriam ser dadas. Paulo Argenta; Marcos Rogério de Souza, assessor da
liderança do governo no Senado; e Carlos Hetzel, secretário parlamentar do PT
na Casa, formularam perguntas aos depoentes e atuaram para que as respostas,
tal qual um gabarito de prova, fossem entregue às pessoas que falariam à
comissão. O kit de perguntas e respostas foi distribuído ao ex-presidente da
estatal José Sergio Gabrielli e ao ex-diretor Nestor Cerveró, apontado como o
autor do "parecer falho" que levou a estatal do petróleo a aprovar a compra da
refinaria de Pasadena, no Texas, um negócio que causou prejuízo de quase 1
bilhão de dólares à empresa. A atual presidente da companhia Graça Foster
também recebeu as perguntas da CPI por meio do chefe do escritório da empresa
em Brasília, José Eduardo Barrocas.
Até o momento a oposição identificou que o teatro na CPI da
Petrobras pode ter envolvido os crimes de obstrução da Justiça, fraude,
improbidade por uso de servidores para fins privados, falso testemunho de
depoentes, advocacia administrativa e possível violação do sigilo funcional se
servidores tiverem repassado documentos sigilosos da CPI para o Poder
Executivo.
Sem deixar que questionamentos sobre a Petrobras fossem
apresentados a ela, a presidente ainda se recusou a responder sobre os
possíveis impactos da inclusão de Graça Foster entre os responsáveis por Pasadena,
em decisão a ser tomada pelo TCU nesta quarta-feira. Graça, que era diretora de
gás e energia quando se desenvolviam as negociações de Pasadena, deve ter seus
bens declarados indisponíveis, a exemplo dos demais. "Você já julgou, querida?
Se você julgou, eu te agradeço por não fazer isso", afirmou Dilma,
interrompendo a pergunta. "Acho que se não houve julgamento não se gera
constrangimento nenhum. Peço para você não me fazer uma pergunta sobre um
julgamento de uma corte, que não foi feito. Não é correto", disse.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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