Por
Reinaldo Azevedo
Claro que eu poderia deixar de escrever o que vai abaixo, mas não
vou, não. Quanto mais a patrulha a soldo se assanha, mais a verdade se torna um
imperativo. Leio na Folha, em reportagem de Raul Montenegro, que, segundo
levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a
maioria das agressões contra jornalistas, nas manifestações, partiu da polícia:
77 em 102 casos.
Não sei como foi feita a contabilidade, mas dou de barato que seja
verdadeira. Essa é uma daquelas verdades, no entanto, que acabam ajudando,
infelizmente, a consolidar uma mentira se não se cuida do contexto. E uma das
tarefas dos jornalistas, muito especialmente quando falam em nome de entidades
ligadas à categoria, é não induzir o leitor ao erro.
Costuma-se usar a expressão eufemística "faltar com a verdade"
como sinônimo de "mentira". Eis um exemplo a evidenciar que são coisas
distintas. Ainda que a Abraji não minta, falta com a verdade. Por quê?
Porque todos os jornalistas que cobriram manifestações sabem - especialmente os profissionais de TV e, em particular, os da Globo - que
tiveram de se esconder nos protestos. Muitos tiveram de trabalhar com
microfones sem o logotipo da emissora. OU SERIAM LINCHADOS. Outras tantos
experimentaram seu lado "ninja" e documentaram tudo com um celular ou com
microcâmeras. Assim, os manifestantes só não agrediram um número maior de
jornalistas porque estes estavam escondidos para se proteger. E os que foram à
rua sabem disso.
Houve nesta segunda um protesto contra as agressões a jornalistas
na Praça Roosevelt, em São Paulo. Reuniu, consta, uns 30 profissionais. O
presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo,
Guto Carmargo, estava lá e se negou a condenar também os manifestantes. Afirmou: "Se a maioria das agressões parte da polícia, nós temos que nos proteger
primeiro da polícia."
Não! Ele está errado. Uma agressão é uma agressão é uma agressão.
Atacar repórteres é inaceitável em qualquer caso. Nas democracias, não existe
um agressor pior do que o outro nem uma hierarquia dos repúdios. Não há como
não deduzir que, segundo o presidente do sindicato, um ataque oriundo dos que
protestam não é assim tão grave.
Alguns jornalistas relatam que foram agredidos pela Polícia mesmo
depois de terem se identificado. Quando isso ocorrer, nada menos do que punição
para o policial. Boa parte do que se chama agressão da polícia, no entanto,
decorre do fato de que jornalistas estão nas ruas entre os que estão
enfrentando as forças de segurança. A honestidade obriga a admitir que não eram
eles os alvos - não ao menos por serem jornalistas. De novo: houve casos?
Segundo relatos, sim! Punição. Ponto!
Identificação?
Ora, a tarja ou o colete "IMPRENSA", no caso das manifestações, não protegem ninguém. A Abraji sabe disso. O sindicato sabe disso. Ao contrário: os black blocs, por exemplo, não têm simpatias por jornalistas. Preferem o discurso engajado das "mídias ninjas" da vida. Do modo como repórteres andam a ser cassados pelas ruas, a identificação seria um risco. Que é que há? Vamos ignorar agora que rostos mais conhecidos da Globo não puderam fazer a cobertura?
Ora, a tarja ou o colete "IMPRENSA", no caso das manifestações, não protegem ninguém. A Abraji sabe disso. O sindicato sabe disso. Ao contrário: os black blocs, por exemplo, não têm simpatias por jornalistas. Preferem o discurso engajado das "mídias ninjas" da vida. Do modo como repórteres andam a ser cassados pelas ruas, a identificação seria um risco. Que é que há? Vamos ignorar agora que rostos mais conhecidos da Globo não puderam fazer a cobertura?
Calma lá! Carros de emissoras foram queimados até em protesto em
defesa dos animais - e isso não é uma ação contra os "patrões da mídia".
Trata-se de um agressão à liberdade de expressão. Houve atos de violência, com
ameaça de invasão, contra empresas de comunicação. De novo: o alvo é o
jornalismo.
Assim, encerro lamentando de novo a declaração do presidente do
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Segundo os dados acima - mesmo com a
distorção que aponto -, pelo menos 25 profissionais foram alvos dos chamados "manifestantes". Mas ele não quer nem saber: "Temos de nos proteger primeiro da
Polícia". Não! Temos é de pedir que ela, Brasil afora, se comporte dentro
das regras. E de protestar contra qualquer agressão. Essa demonização das
forças policiais resulta em eventos como o desta segunda, em São Paulo.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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