Com o patrocínio da
Odebrecht, que celebrou nesta semana 25 anos de atividades em Portugal, Lula
baixou por lá no duplo papel de camelô de empreiteira e doutor honoris causa. O
primeiro personagem, sempre disfarçado de palestrante, limitou-se a reprisar na
terça-feira o numerito apresentado desde 2011, quando deixou a Presidência. Sem
jornalistas por perto, garante aos empresários na plateia que é um negócio e
tanto contratar construtoras brasileiras para a execução de obras de grande
porte.
Quem seguir o conselho,
exemplifica, poderá pagar em suaves prestações a dinheirama antecipada pelo
BNDES em forma de financiamento com juros mais que camaradas. O doutor honoris
causa está mais inventivo que o camelô, atestou na noite seguinte a performance
de Lula no lançamento do livro A confiança
no mundo - sobre a tortura e a democracia, do ex-primeiro-ministro
José Sócrates. O prefácio é assinado por Luiz Inácio Lula da Silva.
Até deixar a Presidência,
em janeiro de 2011, Lula produziu dois bisonhos textos manuscritos - um bilhete
cumprimentando um sobrinho pelo aniversário e meia dúzia de anotações
rabiscadas num pedaço de papel durante uma reunião especialmente tediosa. Depois
que virou colecionador de canudos honoríficos, faz de conta que é o autor de
dois prefácios que Luiz Dulci escreve e ele assina.
O primeiro ornamenta mais
um encalhe do companheiro Aloizio Mercadante. O segundo foi encomendado por
José Sócrates. Como nem sequer folheou o livro, e tampouco tentou decorar o
prefácio que não escreveu, o feroz inimigo de vogais e consoantes resolveu
discorrer sobre as manifestações de rua que agitaram o fim do primeiro
semestre.
"Muitos de vocês foram
pegos de surpresa com os movimentos sociais que aconteceram no mês de junho no
Brasil", decolou o palanque ambulante. "O país estava em ascensão, conseguimos
que 32 milhões de pessoas saíssem da pobreza, foram criados 20 milhões de
postos de trabalho, o número de alunos nas universidades subiu de 3,4 milhões
para 7 milhões".
Como entender a explosão de
descontentamento se falta tão pouco para chegar-se à perfeição? Por isso mesmo,
descobriu o orador. "Na medida em que o povo conseguiu estar na universidade,
ter emprego, ter um automóvel, era natural que a população quisesse mais, que
começasse a reivindicar melhorias na própria vida. Era normal que o povo
começasse a discutir mais saúde, mais educação, mais mobilidade. E o povo foi
para rua".
Ao ensinar que os
brasileiros ficaram indignados porque a vida se tornou boa demais, Lula criou a
Teoria do Quanto Melhor, Pior. Quer dizer: antes da invenção do Brasil
Maravilha, ninguém se indignava porque gente que tem pouco nada pede. Os
protestos só começaram com o fim dos problemas. Os ex-pobres que viraram ricos
não aceitam menos que um vidaço de milionário.
Se a teoria valesse para o
resto do mundo, nações ultradesenvolvidas - a Noruega, a Dinamarca ou a Suíça,
por exemplo - estariam esquartejadas por guerras civis, e os países africanos
teriam a cara da Suécia. A sorte do planeta é que a tese exposta em Portugal
não faz sentido em lugar nenhum, incluído o Brasil. É só conversa de 171.
Enquanto chefiou a
oposição, Lula fez o que pôde para infernizar a vida de todos os governos por
achar que quanto pior, melhor. Pura maluquice. Agora que chefia a seita no
poder, finge acreditar que quanto melhor, pior. Pura vigarice.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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