Pode-se não gostar dos
políticos em geral, pode-se criticá-los, pode-se (e deve-se) fazer
manifestações de protesto contra atitudes, votos e comportamentos de políticos
de qualquer partido - mas há limites para tudo, e a democracia não comporta a
baderna.
É isso - baderna, palavra de que os
politicamente corretos temem lançar mão por ser "de direita" - que ocorreu hoje
ao longo do dia, e ainda ocorre, na Câmara dos Deputados, com uma série
interminável de "manifestações" que incluiu uma intolerável invasão do plenário
da Casa.
Frequento o edifício do
Congresso, hoje em dia de forma bissexta, desde os anos 60, e a coisa está cada
vez pior e mais desrespeitosa. Passou-se da fase das simples vaias quando os
responsáveis eram convidados a retirar-se pelo que hoje se chama Polícia
Legislativa - à de atirar objetos das galerias ao plenário para, agora,
simplesmente invadi-lo.
O plenário, numa democracia
séria, seria considerado terreno intocável, símbolo do Legislativo, o poder
teoricamente do povo. Aqui…
Um grupelho de baderneiros
invadiu a área de trabalho dos deputados, onde só é permitida a presença de
parlamentares, ex-parlamentares, funcionários e jornalistas credenciados, e fez
o diabo: gritavam palavras de ordem, xingavam, faziam soar apitos e, no meio da
bagunça, cantaram também o Hino Nacional. Ali se misturava um pouco de tudo:
pessoas interessadas na questão do Ato Médico e outros na votação de piso
salarial para policiais militares.
Foi o ponto baixo de um dia
inteiro de manifestações ruidosas e nem sempre adequadas dentro do Congresso
Nacional.
Manifestantes de vários
grupos diferentes já haviam ocupado o Salão Verde, imenso saguão que antecede o
plenário.
Havia gente de todo tipo e
de várias tendências espalhada pela Câmara, sobretudo nos corredores.
Indígenas invadiram salas
de comissões técnicas, protestando contra uma Proposta de Emenda Constitucional
que coloca sob responsabilidade do Congresso, e não mais do Executivo, a
homologação de terras públicas como sendo indígenas.
Médicos exigiam que o Congresso
(Câmara e Senado reunidos) derrubasse os vetos da presidente Dilma ao projeto,
já aprovado, da Lei do Ato Médico.
"Profissionais da área da
saúde", como se autodenominam, estavam lá justamente para o oposto - pressionar
o Congresso a manter os vetos à Lei do Ato Médico.
Outros manifestantes
pretendiam falar em nome de policiais militares e bombeiros, exigindo que a
Câmara vote em segundo turno a PEC 300, aprovada em primeiro turno em 2010 e
depois engavetada, que estabelece um piso nacional para ambas as categorias.
Alguns desses participaram da entrada à força no plenário.
Como é possível que um
policial - supostamente, agente da lei -, ainda que travestido em integrante de
uma associação de classe, parta para a desordem aberta, invadindo na marra o coração
da Câmara?
Não há como discordar de um
político chinfrim, a quem critiquei diversas vezes - o presidente da Casa,
deputado Henrique Alves (PMDB-RN), que exigiu "respeito" aos invasores do
plenário:
- Não é assim que vão
conquistar os votos desse plenário.
Alves também criticou
aqueles que apelam para "um discurso fácil e demagógico" na abordagem de temas
complexos, como todos os expostos acima.
Diante da confusão que
vários grupos formavam nas entradas do edifício do Congresso, a Polícia Militar
do Distrito Federal, acionada, começou a impedir o ingresso de manifestantes.
Representantes dos médicos se queixaram de restrições à liberdade de expressão.
Pode até ser. Mas tem muita
gente confundindo o legítimo e necessário ato de pressionar o Congresso - via
manifestações pacíficas e ordeiras, entrega de abaixo-assinados, e-mails e
telefonemas a deputados e senadores e por aí vai - com a ação física de ir até
os parlamentares e, direta ou indiretamente, ameaçá-los.
A insatisfação com o
Congresso, em geral absolutamente justificada, precisa encontrar meios decentes
e civilizados para se escoar.
Já escrevi e repeti o que é
óbvio: queiram ou não, deputados e senadores são representantes do povo. Não
foram nomeados bionicamente por ninguém. Não são alienígenas. Não foram eleitos
por cidadãos da Nova Guiné ou do Panamá, mas por nós, brasileiros.
Estão furiosos com eles?
Pois votem melhor da próxima vez.
As instituições precisam
prevalecer sobre os que as ocupam temporariamente.
Fonte: "Política & Cia"
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