Por Reinaldo Azevedo
Desculpem
a demora. É que tenho de fazer algumas coisas quando é possível me mover na
cidade. Ir ao médico, por exemplo. Hoje, a Mayara Vivian e seus amigos me deram
autorização precária para circular. Amanhã, vão cassá-la de novo… Vamos lá.
"Você
foi à manifestação? Mande sua foto para nós!"
"Você foi à manifestação? Mande o seu vídeo para nós!"
"Você foi à manifestação? Mande o seu relato para nós!"
"Você foi à manifestação? Mande o seu vídeo para nós!"
"Você foi à manifestação? Mande o seu relato para nós!"
A
imprensa brasileira, boa parte dela, parece, assim, um tio com mais de 50 que
chegasse a uma balada de adolescente com o elástico da cueca de fora, fundilhos
no joelho, gritando, desengonçado: "Vâmu aí, molecada, vâmu dançá!".
A
imprensa brasileira, boa parte dela, quer competir com as redes sociais, tenta
fagocitá-las, como fazem as amebas para se alimentar. Quando se abrem ao
envio de fotos, de vídeos, de relatos, estão:
a)
estimulando a participação nos protestos, o que corresponde a assumir um lado.
Perde, assim, a isenção. No caso da radiodifusão, que é uma concessão pública,
o caso é ainda mais grave do que o da imprensa escrita. Passa a ser algo mais
do que uma simples questão ética.
b)
abrir mão da edição, que é uma espécie de segunda instância ao menos do
jornalismo; um tempo e um espaço para alguma reflexão.
c)
no jornalismo, imagens - vídeos, fotos - não são metonímias, mas metáforas. Uma
imprensa que toma a parte pelo todo distorce a realidade, mente, falsifica. É o
tio de 51 - a minha idade - fazendo de conta que tem 15. A metáfora é outra
coisa: uma imagem sintetiza o conjunto, carrega as propriedades do todo.
Isso que escrevo tem a ver com a teoria do conhecimento. Os comandantes de
redação que lideram essa patuscada deveriam se envergonhar do seu papel
ridículo.
d)
Viva a Internet, viva o Twitter, viva o Facebook!!! Mas redes sociais não são
imprensa. A sua força está na instantaneidade. A da imprensa tem de estar
ancorada em alguma reflexão ao menos, ainda que transmitindo fatos em tempo
real.
e)
Quando uma foto é metonímia, o flagrante vira um discurso sobre o todo. Um
policial batendo num manifestante se torna necessariamente um julgamento da
realidade. A depender dos grupos organizados na rede - e eles existem - mais
influentes, a mentira vira verdade, e a verdade, mentira. Saqueadores e
depredadores podem ser tomados como heróis.
f)
Vejam o caso do suposto pacifismo dos manifestantes em São Paulo ou no Rio.
Alguns cartazes com frases de efeito - "Pais mudo não muda" - se transformam no
retrato do que são os protestos. Em São Paulo, por exemplo, isso é uma mentira
escandalosa. Os "moderados", exaltados pelo cretinismo politicamente correto,
são aqueles que impedem a população de ir e vir. "Ah, mas a maioria está
apoiando…" Ainda que fosse verdade, a minoria continua reivindicando o seu
direito constitucional de ir e vir, santo Deus!
g)
Imagine, leitor, qual seria a reação do seu filho se o visse chegar com o
cuecão de fora na balada. Sabem como é… A gente já tem alguma barriguinha. O
elástico da peça íntima exposta à avaliação pública tenderia a dobrar,
pressionado por aquela massa indesejável, por mais discreta que seja, acumulada
na cintura, que nos obriga, se não a ter juízo, a ter ao menos senso de
ridículo… Não por acaso, embora alguns veículos de comunicação sejam hoje
inteiramente servis aos protestos - até com a ambição de liderá-los -, são não
apenas hostilizados nas ruas como nas próprias redes sociais. Por mais que o
Jornal A se tenha transformado em porta-voz da "causa", é acusado de
reacionário. Por mais que a emissora B mobilize a tropa de choque do
despensamento universitário para "refletir", é acusada de manipulação.
Resultado: os repórteres têm de se esconder para não apanhar.
h) "Ah,
mas algo de diferente deve estar acontecendo na sociedade brasileira". Algo de
diferente acontece nas sociedades o tempo inteiro. Sempre depende de quem se
apropria da narrativa e por quê. Os petistas estão com um problema? Estão, sim!
ISSO NÃO QUER DIZER QUE OS NÃO-PETISTAS ESTEJAM COM A SOLUÇÃO, Sim, ainda
escreverei bastante a respeito.
I)
Torço para que o tiozinho recobre a razão, ajuste a calça na cintura e se
lembre, afinal, que tem 51 anos, não 15.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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