Por Reinaldo Azevedo
Na
segunda-feira próxima, este blog completa sete anos. Nunca, como nesta última
semana, recebi tantas ameaças de agressão e de morte. Nunca se enviou pra cá
tanta baixaria. Resta-me, como é o normal nesses casos, tomar as devidas
providências, o que já comecei a fazer. As mensagens dessa natureza serão
enviadas à Polícia - também à Federal, que tem uma divisão que cuida de crimes
ligados à Internet. E Por quê?
Porque
decidi lembrar que o Brasil vive, por enquanto ao menos, num regime
democrático, em que vigora o estado de direito. Porque decidi lembrar que
ninguém, maioria ou minoria, tem licença para suspender prerrogativas
constitucionais. Porque decidi lembrar que, numa democracia, governadores,
prefeitos e o (a) presidente da República são autoridades do Executivo
legitimamente eleitas.
"E
então se deve concordar com tudo o que fazem?" Não! Existe um modo de contestar
a ordem - que, nas democracias, também pertence ao universo da ordem. O
contrário disso é a anarquia.
Basta
ver o noticiário das TVs, inclusive e muito especialmente o da TV Globo. Não
estou fazendo juízo de valor agora. Estou apenas registrando um fato. Se formos
transcrever o noticiário da emissora - incluindo o da GloboNews (se alguém
dispuser de meios, que o faça para constatar) - e submetê-lo à nuvem de
palavras, o par "forma pacífica" vai aparecer enorme, gordão, em letras
garrafais. Em segundo lugar, estou certo, aparecerá o advérbio "pacificamente".
Em terceiro, creio, virá "pequeno grupo" - referindo-se aos baderneiros - e,
depois, "minoria", para designar a mesma turma.
Isso
caracteriza, parece, uma decisão editorial. Estabeleceu-se como linha justa do
registro, segundo a qual as manifestações são pacíficas. Ponto final. Agora vai
um juízo, sim: NÃO SÃO! Decidiu-se que os que partem para o quebra-quebra são
forças que se infiltraram na maioria pacífica. Agora vai um outro juízo, sim:
ISSO NÃO É VERDADE!
Digam-me
uma só democracia do mundo em que levar uma cidade, como aconteceu em São
Paulo, à virtual paralisia seja "forma pacífica" de manifestação. A palavra de
ordem que convocava o ato falava por si: "Vamos parar São Paulo". Quem viola um
direito fundamental, garantido pela Constituição, de milhões de pessoas não é
pacífico. Por que não pediram ao poder público que se isolasse o Vale do
Anhangabaú, por exemplo, para que pudesse abrigar os manifestantes?
A
resposta é simples e óbvia: porque isso não geraria transtornos. Ao causar
danos efetivos a milhões de pessoas, pressiona-se o poder público, que é,
então, sequestrado pela causa. Assim, paralisar a cidade se insere numa
escalada de agressões de que a depredação e o saque são graus mais elevados,
mas ainda não o ponto extremo, que corresponde à eliminação do inimigo, à sua
morte. Chegou-se perto em São Paulo e no Rio, com a tentativa de linchar
policiais. E é esse o teor das ameaças que me fazem.
Assim,
é evidente que os manifestantes tiveram uma cobertura mais do que simpática da
TV Globo e da maioria dos meios de comunicação. Essas são palavras literais da
jornalista e apresentadora do Jornal Nacional, Patrícia Poeta ao se referir à
suspensão do reajuste das tarifas em São Paulo e Rio: "Foi uma vitória dos
manifestantes que pacificamente foram às ruas nos últimos dias".
Em
nenhum momento os representantes do Passe Livre criticaram explicitamente a
violência. Ao contrário: um de seus líderes se disse contrário, claro!, ao
quebra-quebra, mas classificou os atos de vandalismo de "revolta popular". E
acabou! Ontem, Mayara Vivian pôde anunciar em rede nacional que a luta
continua, agora pelo passe livre mesmo e também contra o latifúndio urbano e
rural. Hoje, haverá a festa da celebração da irracionalidade. Mas já comecei a
tratar de questões que são de outro post.
É bem
verdade que este blog passou, ontem, das 300 mil visitas e que posts são
reproduzidos por centenas, talvez milhares, de outros blogs. Mas sou pequenino
perto da Globo e das demais emissoras de TV, certo? Então esse valentes, que
lutam por um mundo melhor - embora os jornalistas precisem se esconder deles,
mesmo lhes dando apoio -, não podem conviver com uma ou duas opiniões
contrárias? Assim como se negam a negociar (ou levam tudo ou param a cidade),
não aceitam que alguém discorde de sua causa e métodos? Pois é. Parece que, no
mundo desses patriotas, a liberdade será sempre a liberdade de quem concorda. "O movimento não pode ser responsabilizado pelas ameaças". Não? Que sentimento
e que moral estão sendo mobilizados?
Considero
uma espécie de mimo da inocência achar que estamos diante de uma "virada
interessante" no clima do país. Trato disso em outro post, também desta
manhã-madrugada. Não estamos, não! Não do jeito como se estão fazendo as
coisas.
Eu
jamais apoiarei um movimento que viola um direito fundamental da Constituição.
Eu
jamais apoiarei um movimento que torna o país mais intolerante com a
divergência.
Eu
jamais apoiarei um movimento que obriga o poder público a tomar uma decisão
irracional.
Eu
jamais apoiarei um movimento que tem como horizonte tornar o individuo ainda
mais dependente do estado.
Eu
jamais apoiarei um movimento que agride severamente investimentos, que poderiam
gerar mais emprego, renda e benefícios para a população.
Eu
jamais apoiarei um movimento que não reconhece a existência das instâncias
institucionais.
"Ah,
mas o PT também está se dando mal", dirá alguém. Que se consolide aqui e
para sempre uma coisa importante: AS ESCOLHAS DOS PETISTAS NÃO CONDICIONAM AS
MINHAS ESCOLHAS. Eles não servem nem para definir o que eu NÃO PENSO,
entenderam? Ah, sim: acabei não respondendo a pergunta. Por que precisariam da
opinião favorável até do Reinaldo Azevedo? Porque são incapazes de ouvir um "não" e de conviver com o contraditório.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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