Por Mary Zaidan
É incrível como dois simples adjetivos podem dar a completa dimensão da esgarçadura dos tecidos moral, legal e ético do país.
Sem maiores explicações, o ministro da Defesa Nelson Jobim considerou "absolutamente ridículas" as críticas às mordomias concedidas ao ex-presidente da República, que, ao lado da mulher, filhos e netos, goza férias no Forte dos Andradas, no Guarujá, pagas pelo Exército, ou melhor, pelo contribuinte. E disse isso sem nem mesmo enrubescer.
Merecedora de escárnio também é a declaração de Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, que considerou "irrelevante" a discussão sobre a concessão de passaporte diplomático para dois filhos e um neto de Lula 48 horas antes de o ex-presidente trocar a faixa com Dilma Rousseff e descer a rampa do Planalto.
Garcia colocou na voz o gesto top-top com que será lembrado pela história. O tema tem tamanha relevância que os filhos do ex, depois de serem cobrados pela mídia e pela OAB, dedicaram várias linhas no twitter a promessas de devolução do documento. Afirmam que nunca usaram a regalia e, de quebra, que a culpa de tudo é da imprensa golpista.
Integrantes do time de elite do ex e da atual presidente, Jobim e Garcia foram e são mais do que amigos leais. São mantenedores de uma acintosa apropriação do público pelo privado, algo que Lula semeou e adubou com maestria e enorme sucesso. A ponto de se sentir à vontade de, como ex, perpetuar os abusos.
Análises mais elegantes explicam o comportamento de Lula como o de quem não consegue desencarnar do cargo. Verdade. Mas os adjetivos usados por seus fiéis escudeiros mostram que é mais do que isso. Lula se tem em altíssima conta; está convencido de que merece todas as regalias, mordomias e benesses porque foi o melhor, o mais popular, o mais povo. Ele, que já não tinha lá muito apreço pelas leis, não vai agora se satisfazer com regras que limitam seus mimos para o uso de no máximo oito servidores e dois carros.
Quer mais e terá. Afinal, como diz Garcia, as críticas são coisa "daqueles 3% ou 4% que consideram o governo Lula ruim ou péssimo". Reforça assim a tese tão difundida durante a gestão de seu ex-chefe de que a popularidade vale mais do que a lei.
Pior. Dilma, ao que parece, alia-se a essa premissa. A presidente não disse uma só palavra. Nem mesmo deu um pequeno pito em seus dois ministros quanto à defesa da indecente emissão de passaporte vermelho ou da transformação da base militar em resort familiar. É de se supor, portanto, que ela comungue das mesmas idéias e dos mesmos adjetivos. Com isso, perdeu a primeira chance de erguer um governo substantivo.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo", em Brasília. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'
Sem maiores explicações, o ministro da Defesa Nelson Jobim considerou "absolutamente ridículas" as críticas às mordomias concedidas ao ex-presidente da República, que, ao lado da mulher, filhos e netos, goza férias no Forte dos Andradas, no Guarujá, pagas pelo Exército, ou melhor, pelo contribuinte. E disse isso sem nem mesmo enrubescer.
Merecedora de escárnio também é a declaração de Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, que considerou "irrelevante" a discussão sobre a concessão de passaporte diplomático para dois filhos e um neto de Lula 48 horas antes de o ex-presidente trocar a faixa com Dilma Rousseff e descer a rampa do Planalto.
Garcia colocou na voz o gesto top-top com que será lembrado pela história. O tema tem tamanha relevância que os filhos do ex, depois de serem cobrados pela mídia e pela OAB, dedicaram várias linhas no twitter a promessas de devolução do documento. Afirmam que nunca usaram a regalia e, de quebra, que a culpa de tudo é da imprensa golpista.
Integrantes do time de elite do ex e da atual presidente, Jobim e Garcia foram e são mais do que amigos leais. São mantenedores de uma acintosa apropriação do público pelo privado, algo que Lula semeou e adubou com maestria e enorme sucesso. A ponto de se sentir à vontade de, como ex, perpetuar os abusos.
Análises mais elegantes explicam o comportamento de Lula como o de quem não consegue desencarnar do cargo. Verdade. Mas os adjetivos usados por seus fiéis escudeiros mostram que é mais do que isso. Lula se tem em altíssima conta; está convencido de que merece todas as regalias, mordomias e benesses porque foi o melhor, o mais popular, o mais povo. Ele, que já não tinha lá muito apreço pelas leis, não vai agora se satisfazer com regras que limitam seus mimos para o uso de no máximo oito servidores e dois carros.
Quer mais e terá. Afinal, como diz Garcia, as críticas são coisa "daqueles 3% ou 4% que consideram o governo Lula ruim ou péssimo". Reforça assim a tese tão difundida durante a gestão de seu ex-chefe de que a popularidade vale mais do que a lei.
Pior. Dilma, ao que parece, alia-se a essa premissa. A presidente não disse uma só palavra. Nem mesmo deu um pequeno pito em seus dois ministros quanto à defesa da indecente emissão de passaporte vermelho ou da transformação da base militar em resort familiar. É de se supor, portanto, que ela comungue das mesmas idéias e dos mesmos adjetivos. Com isso, perdeu a primeira chance de erguer um governo substantivo.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo", em Brasília. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'
Fonte: "B log do Noblat"
Um comentário:
Pois é, quem cala consente. Como eu lhe havia dito antes, Dimas, é agora ou nunca que Dilma terá que decidir sôbre ser ou não, uma presidente que faz a diferença, que tem(?) competência, e colocar um freio nessas aberrações. Pelo que ouvi a jornalista Cristiana Lôbo da Globonews dizer ontem, ela tenta não aparecer, não se manifestar, quem sabe, fazer vistas grossas. Se esta situação continuar, ficará mais claro do que nunca, que ela é DE FATO um poste e que poderá cair na primeira ação do govêrno que prejudique o bolso do povão, eleitor lulista. E que caia na cabeça de toda a cúpula lulista!
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