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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Auguste Rodin: um contorcer de músculos e cérebros

Por Nívia Maria Vasconcellos

Vários dos escultores e pintores, principalmente os clássicos, já exploraram as saliências e reentrâncias da musculatura humana. Pode-se notar isso no robusto Moisés e no vigoroso e, ao mesmo tempo, elegante Davi, ambos de Michelangelo. Rodin, que muito foi influenciado por esse artista renascentista, não foge à regra, no entanto apresenta um diferencial que, a meu ver, apresenta-se como uma de suas marcas centrais: a forma como ele dispõe o corpo de seus modelos, levando-os, muitas vezes, à dor e à exaustão. Essa ação o faz conseguir posições as quais denotam um verdadeiro redescobrir do corpo humano, o que resulta em esculturas que substituem a ideia de inércia por uma impressão de movimento, de gesto, de energia mais intensa.
Uma cena do filme Camille Claudel é reveladora de tal prática. Nela, Rodin fez girar o rosto do modelo até uma extremidade que espantou a senhorita Claudel a ponto de ela intervir alegando que seu mestre acabaria machucando o modelo. A essa intervenção Rodin lhe responde – com veemência e tom professoral - que, por poupar muito aqueles que lhe servem de modelo, ela não consegue expressões mais fortes e originais em suas obras.
Vejo nessa “lição” uma das características que doam mais expressividade e originalidade aos trabalhos de Auguste Rodin. Como o traço que doa singularidade a obra de um pintor, por meio dessa técnica, ele conseguia empregar sua marca, a sua inventividade e escapar do retratismo e do imobilismo dos bustos honoríficos e, por conseqüência, atribuir novos efeitos de imagem, luz e sombra.
São justamente essas constatações e essa cena acima mencionada que me vêm à mente quando, durante a visita ao Palacete Rodin Bahia, deparei-me com O Pensador, uma das 62 peças lá expostas. Observada de perto e por vários ângulos diferentes, essa obra pode ser utilizada como uma comprovação do uso desse processo de criação. Normalmente, ao pensar, coloca-se o braço direito sobre a perna direita, posição mais fácil, cômoda e lógica. Todavia, essa afamada escultura apresenta uma postura mais complexa, o membro superior direito apóia-se sobre o membro inferior esquerdo, o que salienta as curvaturas das costas e apresenta uma posição que se esquiva do trivial.
O Torso da sombra, escultura em bronze que está localizada no jardim do Palacete Rodin Bahia, é outro dos seus trabalhos que também serve de exemplo. O próprio nome remete a um duplo sentido, “torso” pode significar busto, estátua sem membros e cabeça (o que realmente descreve o trabalho em questão), mas também pode ter o sentido de algo torcido, algo torto. Projetado para frente e levemente pendente para a esquerda, o Torso da sombra oferece a quem o contempla um novo ângulo do corpo humano.
Essa inteligente e criativa exploração da anatomia humana pode ser encontrada em outras peças expostas em terras soteropolitanas. Em A Danaide, por exemplo, o escultor em questão submete a sua própria amante e aprendiz Camille Claudel, que lhe servia de modelo, a um dobrar-se sobre si mesma. O resultado é uma pequena, porém expressiva obra que considera ipsis litteris a palavra contorcer. Mais que essa, entretanto, não poderia deixar de ser citada A mulher agachada. Essa pequena escultura além de já ser apresentada de cócoras, uma posição nem um pouco confortável para uma pessoa despida, ainda tem sua posição agravada: braço direito para frente da perna direita, braço esquerdo para trás da perna esquerda, rosto encostado entre o joelho e a omoplata direitos, seu tronco parece formar uma diagonal entremeando suas pernas em paralelo. Postura incômoda com certeza para a mulher que lhe serviu de modelo, no entanto bastante capciosa para os contempladores do resultado final.
Outros tantos exemplos poderiam ser citados entre as mais de 6 dezenas de esculturas expostas no Palacete Rodin Bahia como: O desespero (tronco em posição côncava, perna esquerda levantada, mãos unidas segurando o pé erguido); Ninfa chorando (tórax sobre as cochas, cabeça pendida entre os joelhos); Cristo e Madalena (a personagem bíblica tem o tronco intensamente torcido para a direita) e vários dos detalhes que compõem a Porta do Inferno. Tais obras são o resultado de um energético pensar agindo por meio das mãos que criam.
Não se pode, claro, perder de vista outra característica que solta aos olhos nas obras expostas em Salvador e a qual o guia da exposição conferiu muita importância, ratificando-a a todo momento: a sua inacababilidade. Depois de se deparar com uma obra inacabada de Michelangelo, O escravo acordando, Rodin passou a deixar obras propositalmente “incompletas”. Suas obras inacabadas passaram a ser expostas e a marcar o movimento impressionista francês. O que foi uma grande ironia já que uma de suas primeiras obras, O homem de nariz quebrado, foi excluída do Salon de Paris justamente porque o júri a considerou uma obra inacabada. Por meio de tal prática, ele enfatiza a função do escultor e cria a concepção de non finito que vai permear toda a sua estatuária.
A obra A Mão de Deus ilustra muito bem o que foi supracitado. Nela, o momento da criação artística que é o tema. A mão em questão, símbolo de produção, de geração, não é a do Deus cristão, e sim a do escultor, responsável por dar vida ao gesso, ao bronze, ao barro.
Essa inacababilidade que o fez se desvincular do academicismo e a força expressiva alcançada pela “atitude” manifestada em suas esculturas foram responsáveis por renovar a arte de esculpir e o levou a ser considerado o pai da escultura moderna. Devemos acrescentar que não são muitos os artistas que conseguem gozar de fama e prestígio em vida como Rodin e isso se deve a sua própria inteligência e ambição: pegou para si a tarefa hercúlea de esculpir a Porta do Inferno de Dante, de onde foram destacadas muitas de suas principais obras (como O beijo).
Italo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio, fala de Goethe como “um escritor que certamente não punha limites à ambição de seus propósitos” (2003, p. 127) e comprova essa assertiva aludindo a uma missiva em que o escritor alemão confessa a sua amada Charlote Von Stein estar planejando um “romance sobre o universo” (GOETHE apud CALVINO, 2003, p. 127). Rodin não foi um escritor, mas um artista que não pôs “limites a ambição de seus propósitos”, o que dá jus ao nome atribuído a exposição: Auguste Rodin, Homem e Gênio. Afinal a arte, seja ela qual for, deve sempre se propor a objetivos desmedidos, mesmo que aparentemente estejam fora das possibilidades de realização, pois só assim se fugirá à mera imitação e haverá renovação, uma nova maneira de ver o mundo.
BIBLIOGRAFIA
CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo milênio. Tradução Ivo Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
* Nívia Maria Vasconcellos é professora, formada em Letras Vernáculas pela Uefs, escritora e poetisa

Links do site para o qual ela escreve, do seu blog e de "outras cositas a mais que produzo".
Site: http://www.gostodeler.com.br/curriculo/519/Nívia_Vasconcellos.html

Blog: http://www.artesemgeralpoesiaemparticular.blogspot.com/

Víde: http://www.youtube.com/watch?v=yANCu0Oa8CQ

4 comentários:

Nivia Vasconcellos disse...

Caro DImas,
Obrigada pelo espaço, pela divulgação.
Quando precisar, estou por aqui.
Abraço,
Nívia.

Elica Paiva disse...

Olá Dimas!
Muito bom mesmo o texto da professora Nívia Vasconcellos.
Um abraço:D
Elica Paiva

Anônimo disse...

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Anônimo disse...
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