Opção de transferência bancária para a Pessoa Física: Dimas Boaventura de Oliveira, Banco do Brasil, agência 4622-1, conta corrente 50.848-9

Clique na imagem

*

*
Clique na logo para ouvir

Pré-venda de ingressos - Orient CinePlace Boulevard

Pré-venda de ingressos - Orient CinePlace Boulevard
28/11 a 04/12: 14 - 16h10 - 18h20 - 20h30 (Dublado)

terça-feira, 11 de maio de 2021

De Olney Júnior para Pilar São Paulo


Pelo 11 de maio

É engraçado como as coisas são. A gente tá bem, lá num canto, tranquilo ou não, alegre ou não e vem um negócio e tira a gente de lá. A gente tá vivendo uma coisa boa ou má, vibrando, se desesperando, aí vem um sonho que diz pra a gente acordar. As vezes também à gente vem a dor e dói pra caramba e a gente nem tem mais força, nem de chorar nem de gemer, dói tanto que a gente nem sabe mais como sentir a dor, aí vem o sono e diz pra a gente dormir e a gente dorme e até sonha que não tem dor. As vezes sonha doendo também, mas no sonho a gente sempre vence. A gente termina descobrindo como sonhar bonito, como sonhar sem dor. A única dor que não consigo deixar de sentir no meu sonho é a dor do outro, as minhas eu nem sinto mais. Não consigo dormir bem na imaginação da dor do outro.

A dor da gente a gente mede, dá tamanho, intensidade, tempo e espaço.

A dor da gente tem corpo e a gente dá um jeito de cobrir, se não de sarar, pelo menos de calar. A dor do outro a gente não sente no corpo, só na alma e não dá pra a gente sossegar enquanto ela puder. Pois a dor do outro ela pode e ela é na gente, mas não é da gente. É uma coisa que existe só pra nos assombrar, pra gritar na voz do outro, pra sufocar no gemido do outro, pra não nos deixar dormir e esquecer.

A dor da gente é pra a gente doer, a dor do outro é pra a gente sofrer.

Eu digo isso porque eu tenho medo que o mundo deixe de se apavorar com a dor do outro. É como a Lua que muda de cara sem que a gente possa fazer qualquer coisa. A gente até queria poder fazer algo, mas não dá, não dá pra mudar o mundo como nos meus sonos, e meu medo é como o mundo muda, muda achando que vai poder dormir enquanto o outro dói.

É engraçado como as coisas são. A gente tava lá olhando o verde que a chuva trouxe e de repente…

Tchum. Um medo.

E portanto o sertão está lindo. A chuva traz o bonito. Está verde, aliás, está "verdes", pois são tantos verdes, está em outras cores também; tem a cor dos passarinhos, tem das flôres. E tem as garças e tem os urubus e tem muito sapo e tem lagoa cheia d'água.

E lagoa cheia é cheio de amor de sapo.

É engraçado como as coisas são. A gente tava lá olhando o Sol dormir e a noite chega trazendo o medo. E eu nunca tenho medo do escuro.

Talvez eu é que escureci e não vi.

A gente está lá olhando o tempo ser e vem uma cantiga do fundo da alma fazer a gente chorar. É engraçado como a alma da gente guarda tanta coisa.

Tanta coisa tão boa que quando chega de novo pra gente o único jeito de viver é chorar.

Será que a felicidade é o lamento da alma?

Será que dentro da gente tem um canto quente pra nós?

Lá fora tá um breu só. Agora só tem os cachorros latindo longe e a zoada dos sapos por aí. De vez em quando um pássaro de cantiga agourenta. Nem é. Não tem passarinho de cantiga agourenta. É que esse que cantou agora, faz um piau forte e solitário no meio da escuridão e isso dá medo de mau agouro.

Mas isso é bobagem. Bicho algum é agourento. Isso é coisa de tia velha que só sabe meter medo na gente.

E em noite de breu intenso a gente solta essas tias velhas de dentro da gente pra nos meter medo, como outrora.

Talvez a gente fique mais humano nos nossos medos infantis e por isso guardamos tantas tias já mofadas pela esperança.

Essa noite não tem Lua, ou essa noite é noite de Lua Nova. Acho que é por isso que meus pesadelos vieram passear comigo.

Dizem que a Lua Nova é novo ciclo, re começo, fase nova, momento de sei lá o que de reflexão.

Mas na verdade a Lua Nova está ali diante do Sol, entre o Sol e eu que não consigo ver a Lua.

Sei que ela está ali na frente em algum lugar, mas ela não me dá a mão.

Eu gosto quando ando e ando e ando e a Lua continua me seguindo, de mãos dadas comigo nessa minha ilíada Odisseia.

A Lua Nova, na falta da Lua, traz de novo, meus medos velhos. Mas eu sei que a Lua está.

É engraçado como as coisas são, estava com medo de não mais escutar meus medos, só meus pavores. Mas não.

Não me agourei de todo ainda.

É engraçado como as coisas são. Mesmo a Lua não estando, a Lua está.

É engraçado como as coisas são. Não estou com medo. Estou com saudades.

Com saudades da Pilar.

Feliz aniversário minha filha.

Uma Lua Nova e um novo tempo pra ti.

Nenhum comentário: