Por
Reinaldo Azevedo
A Folha informa
na edição desta quinta que o ex-presidente voltou a reclamar de Dilma Rousseff
em conversa com sindicalistas no encontro de terça-feira. Já havia feito o
mesmo com dirigentes petistas na segunda. Ele estrila para que ela saiba, não
para que não saiba.
O chefão
decadente criticou a coordenação política do governo, a cargo de Aloizio
Mercadante, no que está certo (é ruim de doer mesmo), mas o fez, não duvidem
nunca, por motivos errados. Os sindicalistas, por sua vez, se queixaram da
falta de diálogo com o governo, e o Babalorixá de Banânia não se fez de rogado:
tornou-se o porta-voz da chiadeira no discurso que fez:
"Dilma, se estiver ouvindo, gostaria de dizer
o seguinte. Você precisa lembrar sempre que quem está aqui é o seu parceiro,
nos bons e nos maus momentos. A gente não quer ser convidado só para festa,
não. A gente quer ser convidado para discutir coisas sérias, para fazer boas
lutas e boas brigas."
As
palavras fazem sentido. Prestem atenção ao "se estiver ouvindo". Poderia ser
substituído por sua "teimosa", "cabeça-dura", "desobediente". Lula tem dito por
aí que Dilma está isolada no Palácio, que tem de andar mais e se aproximar dos
movimentos sociais. Ou por outra: ele quer que ela cole justamente nos setores
que pretendem mandar às favas o ajuste fiscal.
Isso é o
que Lula diz. E o que ele não diz? O homem quer voltar, sim, e acha que a ainda
aliada está obstruindo o seu caminho. Não é só ele. Boa parte da máquina
petista e da máquina sindical pensa a mesma coisa. Ou, na expressão de um
petista graúdo, conversando com um de seus pares: "Ela [muitos "companheiros" só se referem a Dilma por "ela"] vai conseguir o que a direita não conseguiu;
vai quebrar as pernas do PT".
Lula diz
por aí que, no primeiro ano de seu primeiro mandato, viveu circunstâncias até
piores do que as de Dilma, mas as venceu "conversando com a sociedade". É claro
que se trata de uma mentira. Entre outras delicadezas, o chefão se esquece de
que ele e o PT não tinham a memória de 12 anos de poder, com todos os seus
descalabros.
Um dos
luminares petistas lembra que o partido não dispõe hoje, e não disporá nos
próximos três anos e pouco, de uma alternativa a Lula para disputar a
sucessão de Dilma e que ouvi-lo antes de tomar decisões seria uma espécie de
obrigação da presidente. Com ironia, comentou com um interlocutor: "Só faltava
agora ela estar preocupada com a própria biografia. Há outras prioridades".
Dilma
tem, sim, de se preocupar com as ruas. Mas quem mais a ameaça hoje é Lula, que
não aceita o óbvio: seu tempo acabou!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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