Em 1980, o filme "Ser Tão", de José Umberto - que foi digitalizado pela
Fundação Senhor dos Passos, através do Núcleo de Preservação da Memória
Feirense, e será lançado em coletânea de DVDs "Fragmentos da História de Feira
de Santana" -, realizado um ano antes, teve Certificado de Produto Brasileiro
negado pelo Conselho Nacional de Cinema (Concine). Então, o cineasta apelou ao
ministro da Educação Eduardo Portella, no sentido de que aquela autoridade
examinasse a obra fílmica pessoalmente, pois refutou a resolução Concine 52/1980. "Peço que V. Excia. apure o significado da questão e, se possível, assista ao
filme para obter uma clareza de situação".
No item 3 do parágrafo IV dessa resolução, constava que "a obra
necessita versar tema objetivamente vinculado à realidade brasileira, de
natureza cultural, técnica, científica ou informativa".
Como assistente de direção do filme, Dimas Oliveira considerou em
matéria publicada no jornal "A Tarde" que "é realmente incrível a decisão do
Concine em denegar o certificado de produto brasileiro ao filme 'Ser Tão' -
também a 'Cantos Flutuantes', outro filme de José Umberto realizado no mesmo
ano". "Somente se pode acreditar em discriminação contra o cinema do Nordeste,
porque não se pode imaginar incompetência ou burrice dos membros da comissão.
Ou será que pode? É de ficarmos pasmos com tal decisão, que tem que ser
revogada".
José Umberto, na mesma matéria, completa esse raciocínio, quando
questionou se "a cultura popular sertaneja não estaria vinculada à realidade
brasileira?".
Em sua coluna na "Tribuna da Bahia", o crítico André Setaro considerou
que "a recusa, aparentemente, é inexplicável. O que pensar então? Picaretagem
de grupo? Claro e evidentemente que sim!".
Disse mais Setaro: "Um escândalo que vem ocorrendo nesse Departamento da
Embrafilme. Um basta faz-se mister. Os responsáveis pela política cultural (?)
do cinema brasileiro estão, na verdade, cooptando com a safadeza, a
mesquinharia e a picaretagem".
"Sertão" é um
documentário poético em torno do belíssimo mural do pintor Lênio Braga,
instalado no Terminal Rodoviário de Feira de Santana. "É um filme sobre a
beleza do imaginário da cultura popular sertaneja, através seus poetas de
cordel e repentistas", considera José Umberto.
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