Por Reinaldo Azevedo
Dilma Rousseff foi a entrevistada de ontem do "Jornal Nacional". Não
vou analisar aqui a fala da candidata porque entendi, segundo seus próprios
pressupostos, que quem concedeu a entrevista foi a presidente da República.
Aliás, só isso explica o fato de que ela gozou de um privilégio que aos demais
não foi concedido porque nem haveria como: falou na biblioteca do Palácio da Alvorada,
não no estúdio do "Jornal Nacional", a exemplo dos demais. Entendo que a Globo
não deveria ter ou aceitado a exigência ou oferecido o benefício. Benefício? É
claro que sim! À diferença de Aécio Neves e Eduardo Campos, Dilma estava em
território conhecido; os outros não. Há mais: se era a candidata que falava,
então havia o uso claro de um aparelho público em benefício da campanha.
Vimos imagens de bastidores, não é? Aécio e Campos foram recebidos
por William Bonner em sua sala, na sede da TV Globo, no Rio. No Palácio,
suponho, a dupla de jornalistas é que foi recebida por Dilma. Ser o anfitrião,
nessas horas, faz diferença, sim - e fez (já chego lá). Não que a entrevista
tenha sido chapa branca. Não foi, não! Houve honestidade jornalística. Mas, em certo
momento, houve mais dureza do que objetividade. Nota à margem antes que
continue: não me venham com a cascata de que o Alvorada é a casa de Dilma, e
por isso a entrevista foi concedida lá. Por esse critério, Campos e Aécio
deveriam ter recebido os jornalistas, então, em suas respectivas residências.
Ou bem Dilma fala como candidata ou bem fala como presidente. Como um híbrido,
é que não dá. Até a luz que se via ali era pública, ora. Sigamos.
O ponto da entrevista mais escandalosamente significativo foi aquele
em que Dilma se negou a censurar o seu partido por ter defendido os
mensaleiros. Mais do que isso: lendo a transcrição de sua fala, a gente percebe
que ela não criticou nem mesmo os criminosos. Bonner foi incisivo:
"Então, me deixa agora perguntar à senhora. E em relação a seu partido? O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas, eu digo isso porque foram julgadas, condenadas e mandadas para a prisão pela mais alta corte do Judiciário brasileiro. Eram corruptos. E o seu partido tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?"
"Então, me deixa agora perguntar à senhora. E em relação a seu partido? O seu partido teve um grupo de elite de pessoas corruptas, comprovadamente corruptas, eu digo isso porque foram julgadas, condenadas e mandadas para a prisão pela mais alta corte do Judiciário brasileiro. Eram corruptos. E o seu partido tratou esses condenados por corrupção como guerreiros, como vítimas, como pessoas que não mereciam esse tratamento, vítimas de injustiça. A pergunta que eu lhe faço: isso não é ser condescendente com a corrupção, candidata?"
Observem que Bonner a chamou por aquilo que ela era naquele
momento: "candidata". E o que ela respondeu? Isto (a gramática é miserável, mas
o sentido é claro):
"Eu vou te falar uma coisa, Bonner. Eu sou presidente da República. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: sabe por que, Bonner? Porque a Constituição, ela exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de Poder, que nós respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos."
"Eu vou te falar uma coisa, Bonner. Eu sou presidente da República. Eu não faço nenhuma observação sobre julgamentos realizados pelo Supremo Tribunal, por um motivo muito simples: sabe por que, Bonner? Porque a Constituição, ela exige que o presidente da República, como exige dos demais chefes de Poder, que nós respeitemos e consideremos a importância da autonomia dos outros órgãos."
Acontece que os jornalistas a indagavam sobre o comportamento do
partido, não do Supremo. Bonner insistiu duas outras vezes que eles haviam
feito uma indagação sobre o partido. Ela não mudou a resposta. Faltou ao
editor-chefe do "Jornal Nacional" deixar claro que a pergunta era dirigida à
candidata, não à presidente. Isso não foi dito. Convenham: afinal de contas,
candidatos à Presidência não frequentam a biblioteca do Palácio da Alvorada. Na
prática, entre os corruptos punidos e o Supremo que os puniu, Dilma preferiu
decretar um empate, embora saibamos que ela não teria autonomia para criticar
os criminosos ainda que quisesse.
A presidente se enrolou na pergunta sobre a saúde, mas não sei se
o telespectador percebeu desse modo. Os entrevistadores fizeram uma síntese das
calamidades da área e lembraram que o partido está há 12 anos no poder. A
presidente, então, acionou a tecla do programa "Mais Médicos" para demonstrar
como seu governo é operoso, embora tenha dito, num dado momento, que a saúde
não é "minimamente razoável". Pois é… Não é minimamente razoável depois de 12
anos de poder petista.
É nessa hora que faltou um tanto de objetividade, números mesmo:
entre 2002 e 2013, houve uma redução de 15% na taxa de leitos hospitalares
(públicos e privados) por mil habitantes. Entre 2005 e 2012, o SUS perdeu mais
de 41 mil leitos. Isso quer dizer que os hospitais privados pediram seu
descredenciamento porque não conseguem conviver com a tabela miserável paga
pelo sistema. Atenção! Há apenas 0,15 leito psiquiátrico por mil habitantes no
país. É a metade do que havia quando o PT chegou ao poder. E já era pouco. Nos
países civilizados, a média é de um leito psiquiátrico por 1.000. Isso quer
dizer que o Brasil tem menos de um sexto do necessário. Esses poucos leitos, de
resto, estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste. Os médicos cubanos são a
resposta para isso? É claro que não!
Mas ok. Hoje começa o horário eleitoral gratuito. Em razão de uma
legislação indecente, que não vem de hoje - é evidente - Dilma terá mais de 11
minutos, quase o triplo de Aécio, que vem logo a seguir, com mais de quatro
minutos. O PSB terá pouco mais de 2 minutos. Dilma poderá falar, então, à
vontade, sem ser contraditada por ninguém. É nessas horas que dá o seu melhor.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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