Cinema
No domingo descansado, depois
que a luzes da cidade cigarrearam,
o cinemazinho sorriu possante
lâmpada de duzentas velas à porta.
Cine-teatro Sant'Anna, que me fez
sonhar, outrora,
Com bandidos roubando a minha
coleção de selos
E com certa lourinha mordendo-me
a ponta do nariz!...
Tom Mix e os bandidos vão boxear
na tela
Do pequeno cinema da rua Direita.
Repletos os camarotes.
E a platéia, completa ânsia
febril de ávidas atenções crianças.
A senhorinha de vermelho-claro
ajeita vaidosa o cabelo.
A careca da frente, luzidia,
polida,
Está tentando um cascudo
camarada.
O escriturário do armazém sacode
o lenço no rosto sem suor,
Para sacudir o extrato francês
made in São Paulo no rosto do vizinho.
Entra, às vezes, um cheiro de rua
pelos ventiladores...
Depois do espetáculo,
Na noite calada e adormecida como
mulher boêmia,
Os meninos fortes incharão o
peito infantil,
Quebrarão, ao lado, o chapéuzinho
de feltro,
Porão as mãos em atitude de
ataque
Aos outros que, ao alto, levarão
as mãos inermes,
Imitando sisudos a perigosa
mentira do filme americano.
1932.
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