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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poesia de Eurico Alves Boaventura


Cinema

No domingo descansado, depois
que a luzes da cidade cigarrearam,
o cinemazinho sorriu possante lâmpada de duzentas velas à porta.
Cine-teatro Sant'Anna, que me fez sonhar, outrora,
Com bandidos roubando a minha coleção de selos
E com certa lourinha mordendo-me a ponta do nariz!...
Tom Mix e os bandidos vão boxear na tela
Do pequeno cinema da rua Direita.
Repletos os camarotes.
E a platéia, completa ânsia febril de ávidas atenções crianças.
A senhorinha de vermelho-claro ajeita vaidosa o cabelo.
A careca da frente, luzidia, polida,
Está tentando um cascudo camarada.
O escriturário do armazém sacode o lenço no rosto sem suor,
Para sacudir o extrato francês made in São Paulo no rosto do vizinho.
Entra, às vezes, um cheiro de rua pelos ventiladores...
Depois do espetáculo,
Na noite calada e adormecida como mulher boêmia,
Os meninos fortes incharão o peito infantil,
Quebrarão, ao lado, o chapéuzinho de feltro,
Porão as mãos em atitude de ataque
Aos outros que, ao alto, levarão as mãos inermes,
Imitando sisudos a perigosa mentira do filme americano.
1932.

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