Por
Reinaldo Azevedo
Duas pesquisas vieram a público neste fim de semana: no sábado, a
do Ibope, com a avaliação do governo Dilma, e, no domingo, a do Datafolha, com
simulações para a disputa presidencial. Dilma tem com o que se preocupar?
Alguma preocupação sempre existe porque políticos tendem a gostar da
unanimidade, o que é impossível. Antes dos protestos, iniciados em junho, a
situação da presidente era, claro!, muito mais confortável, mas ela não foi a
única a sofrer uma queda de popularidade.
Dilma não tem por que bater a cabeça na parede, não, embora
exista, sim, um motivo de preocupação. Já explico. Não precisa ficar muito
tensa porque, hoje, naquele que é o cenário mais provável da eleição, ela
venceria no primeiro turno e com folga. Teria 47% dos votos, contra 17% do
tucano Aécio Neves e 12% de Eduardo Campos, do PSB. É claro que esses números
têm uma importância muito relativa. A presidente está na televisão todo dia;
Aécio e Campos são bem menos conhecidos. Em tese ao menos, independentemente da
qualidade da propaganda eleitoral, quando a campanha começar, eles têm mais a
ganhar com a exposição do que ela.
Mas é evidente que os números para os adversários de Dilma não são
bons. Aécio chegou a marcar 21% em outubro do ano passado, passou para 19% em
novembro, e agora tem 17%, empatado com brancos e nulos, que chegam a 18%.
Campos já chegou a 16%, caiu para 11% e agora está praticamente no mesmo lugar,
com 12%. É bem verdade que Dilma, nesse levantamento, tem os mesmos 47% de
novembro, mas a diferença é gigantesca.
A presidente vence em todas as simulações, menos em uma, que não
vai acontecer. Já chego lá. Nem Marina Silva como a candidata do PSB tiraria de
Dilma a vitória no primeiro turno: a presidente marcaria, nesse caso, 43%,
contra 23% da ex-senadora - que já chegou a ter 29% em outubro de 2013. Nessa
simulação, Aécio ficaria com 15%. Só para constar: em qualquer cenário, Lula
também venceria no primeiro turno se fosse o candidato do PT: a sua melhor
marca é 54%.
Existiria, hoje, alguma hipótese de haver segundo turno? Sim, mas
só num cenário impossível, em que Marina Silva fosse a candidata do PSB, e o
ministro Joaquim Barbosa, do STF, entrasse na disputa. Nesse caso, Marina teria
17%; Barbosa, 14%, Aécio, 12%, e Dilma 40% - ou seja, seus adversários somariam
43%. Mas isso é coisa da Carochinha. Não vai acontecer. O candidato do PSB será
Campos, e o ministro Joaquim Barbosa vai continuar no Supremo.
Dilma pode, então, nadar de braçada? Não é bem assim. A eleição
ainda está longe, e há motivos para alguns cuidados. Segundo pesquisa Ibope,
caiu de 43% para 39% os que acham seu governo bom ou ótimo - no Datafolha, são
41%. No Ibope, saltou de 21% em dezembro para 24% agora os que o consideram
ruim ou péssimo - no Datafolha, são 21%. Esses números são ainda confortáveis,
mas estão muito longe daqueles 57% a 60% de ótimo e bom que ela chegou a ter antes
de junho. Tudo indica que não há mais tempo nem motivos para que a presidente
recupere aquele patamar que a tornava inatingível. E há o fator Copa, de que
falarei agora.
Copa do Mundo
A Copa do Mundo se transformou na variável do imponderável. Uma coisa é certa:
sem ela, a situação de Dilma seria mais confortável. Aliás, quando o Brasil se
lançou nessa aventura, ninguém imaginou que pudesse ser uma fonte permanente de
dor de cabeça. Ao contrário: Lula apostou no evento como uma espécie de consagração
da era petista.
A pesquisa do Ibope aponta, por exemplo, que é muito estreita a
margem dos que acham que a Copa trará mais benefícios do que prejuízos: 43%
contra 40%. Segundo o levantamento, 58% ainda apoiam a realização do torneio no
Brasil, mas amplos 38% pensam que seria melhor que acontecesse em outro país.
No Nordeste, o placar é amplamente favorável à realização do evento: 72% a 25%;
na região Sudeste, no entanto, é de 49% a 46%.
Ora, as manifestações que hoje rendem dor de cabeça ao Planalto
estão ancoradas justamente nos protestos contra o torneio. Ainda que seja uma
simplificação, pegou a tese de que a realização da disputa no Brasil consome
dinheiro que deveria estar sendo canalizado para serviços públicos precários,
como saúde e educação.
O governo terá nas mãos uma operação de risco. Se tudo sair mais
ou menos nos conformes, é possível que a grandiosidade do evento acabe
mitigando as criticas e o descontentamento. Eventuais escorregões e
trapalhadas, por outro lado, servirão para alimentar o sentimento de que a Copa
do Mundo implicou um enorme desperdício de dinheiro público, sem ganhos para a
população. O acontecimento pensado por Lula para ser a apoteose petista é hoje,
em suma, a principal fonte de preocupação da candidata Dilma Rousseff. Pode ser
a pedra do meio do caminho.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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