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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

"Dilma e as pesquisas: situação confortável com uma Copa do Mundo no meio do caminho"



Por Reinaldo Azevedo
Duas pesquisas vieram a público neste fim de semana: no sábado, a do Ibope, com a avaliação do governo Dilma, e, no domingo, a do Datafolha, com simulações para a disputa presidencial. Dilma tem com o que se preocupar? Alguma preocupação sempre existe porque políticos tendem a gostar da unanimidade, o que é impossível. Antes dos protestos, iniciados em junho, a situação da presidente era, claro!, muito mais confortável, mas ela não foi a única a sofrer uma queda de popularidade.
Dilma não tem por que bater a cabeça na parede, não, embora exista, sim, um motivo de preocupação. Já explico. Não precisa ficar muito tensa porque, hoje, naquele que é o cenário mais provável da eleição, ela venceria no primeiro turno e com folga. Teria 47% dos votos, contra 17% do tucano Aécio Neves e 12% de Eduardo Campos, do PSB. É claro que esses números têm uma importância muito relativa. A presidente está na televisão todo dia; Aécio e Campos são bem menos conhecidos. Em tese ao menos, independentemente da qualidade da propaganda eleitoral, quando a campanha começar, eles têm mais a ganhar com a exposição do que ela.
Mas é evidente que os números para os adversários de Dilma não são bons. Aécio chegou a marcar 21% em outubro do ano passado, passou para 19% em novembro, e agora tem 17%, empatado com brancos e nulos, que chegam a 18%. Campos já chegou a 16%, caiu para 11% e agora está praticamente no mesmo lugar, com 12%. É bem verdade que Dilma, nesse levantamento, tem os mesmos 47% de novembro, mas a diferença é gigantesca.
A presidente vence em todas as simulações, menos em uma, que não vai acontecer. Já chego lá. Nem Marina Silva como a candidata do PSB tiraria de Dilma a vitória no primeiro turno: a presidente marcaria, nesse caso, 43%, contra 23% da ex-senadora - que já chegou a ter 29% em outubro de 2013. Nessa simulação, Aécio ficaria com 15%. Só para constar: em qualquer cenário, Lula também venceria no primeiro turno se fosse o candidato do PT: a sua melhor marca é 54%.
Existiria, hoje, alguma hipótese de haver segundo turno? Sim, mas só num cenário impossível, em que Marina Silva fosse a candidata do PSB, e o ministro Joaquim Barbosa, do STF, entrasse na disputa. Nesse caso, Marina teria 17%; Barbosa, 14%, Aécio, 12%, e Dilma 40% - ou seja, seus adversários somariam 43%. Mas isso é coisa da Carochinha. Não vai acontecer. O candidato do PSB será Campos, e o ministro Joaquim Barbosa vai continuar no Supremo.
Dilma pode, então, nadar de braçada? Não é bem assim. A eleição ainda está longe, e há motivos para alguns cuidados. Segundo pesquisa Ibope, caiu de 43% para 39% os que acham seu governo bom ou ótimo - no Datafolha, são 41%. No Ibope, saltou de 21% em dezembro para 24% agora os que o consideram ruim ou péssimo - no Datafolha, são 21%. Esses números são ainda confortáveis, mas estão muito longe daqueles 57% a 60% de ótimo e bom que ela chegou a ter antes de junho. Tudo indica que não há mais tempo nem motivos para que a presidente recupere aquele patamar que a tornava inatingível. E há o fator Copa, de que falarei agora.
 Copa do Mundo
A Copa do Mundo se transformou na variável do imponderável. Uma coisa é certa: sem ela, a situação de Dilma seria mais confortável. Aliás, quando o Brasil se lançou nessa aventura, ninguém imaginou que pudesse ser uma fonte permanente de dor de cabeça. Ao contrário: Lula apostou no evento como uma espécie de consagração da era petista.
A pesquisa do Ibope aponta, por exemplo, que é muito estreita a margem dos que acham que a Copa trará mais benefícios do que prejuízos: 43% contra 40%. Segundo o levantamento, 58% ainda apoiam a realização do torneio no Brasil, mas amplos 38% pensam que seria melhor que acontecesse em outro país. No Nordeste, o placar é amplamente favorável à realização do evento: 72% a 25%; na região Sudeste, no entanto, é de 49% a 46%.
Ora, as manifestações que hoje rendem dor de cabeça ao Planalto estão ancoradas justamente nos protestos contra o torneio. Ainda que seja uma simplificação, pegou a tese de que a realização da disputa no Brasil consome dinheiro que deveria estar sendo canalizado para serviços públicos precários, como saúde e educação.
O governo terá nas mãos uma operação de risco. Se tudo sair mais ou menos nos conformes, é possível que a grandiosidade do evento acabe mitigando as criticas e o descontentamento. Eventuais escorregões e trapalhadas, por outro lado, servirão para alimentar o sentimento de que a Copa do Mundo implicou um enorme desperdício de dinheiro público, sem ganhos para a população. O acontecimento pensado por Lula para ser a apoteose petista é hoje, em suma, a principal fonte de preocupação da candidata Dilma Rousseff. Pode ser a pedra do meio do caminho.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"

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