Por Augusto Nunes
"Os dois discursos de Dilma Rousseff estavam repletos de
frases inacabadas, períodos incompreensíveis e ideias sem sentido”.
“Dilma é a representante de todos os brasileiros - e não
apenas daqueles que a bajulam e temem adverti-la sobre sua limitadíssima
oratória".
"Dilma continuou a cometer desatinos gramaticais e atentados
à lógica".
"É possível imaginar, diante de tal amontoado de palavras
desconexas, a aflição dos profissionais responsáveis pela tradução simultânea".
"Depois, em discurso a empresários, Dilma divagou, como se
grande pensadora fosse, misturando Monet e Montesquieu – isto é, alhos e
bugalhos".
"A presidente julgou desnecessário preparar-se melhor para
representar de fato os interesses do Brasil e falou como se estivesse diante de
estudantes primários – um vexame para o País".
Embora
lembrem os textos de Celso Arnaldo Araújo, as seis frases foram extraídas do
editorial publicado pelo Estadão
na edição de hoje (quarta-feira, 26), sob o título Ela fala
pelo Brasil. Há poucos meses, o jornal descobriu o que esta
coluna repete desde que abril de 2009, quando nasceu: a presidente da República
não se expressa em português, mas em dilmês. Nesta quarta-feira, finalmente se rendeu à
constatação aqui reiterada há cinco anos: Dilma Rousseff não fala coisa com
coisa. Confira a íntegra do editorial. Volto em seguida.
Até mesmo o lusófono presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão
Barroso, deve ter tido sérias dificuldades para entender os dois discursos da
presidente Dilma Rousseff proferidos em Bruxelas a propósito da cúpula União
Europeia (UE)-Brasil. Não porque contivessem algum pensamento profundo ou
recorressem a termos técnicos, mas, sim, porque estavam repletos de frases
inacabadas, períodos incompreensíveis e ideias sem sentido.
Ao falar de improviso para plateias qualificadas, compostas por
dirigentes e empresários europeus e brasileiros, Dilma mostrou mais uma vez
todo o seu despreparo. Fosse ela uma funcionária de escalão inferior, teria
levado um pito de sua chefia por expor o País ao ridículo, mas o estrago seria
pequeno; como ela é a presidente, no entanto, o constrangimento é
institucional, pois Dilma é a representante de todos os brasileiros - e não
apenas daqueles que a bajulam e temem adverti-la sobre sua limitadíssima
oratória.
Logo na abertura do discurso na sede do Conselho da União Europeia,
Dilma disse que o Brasil tem interesse na pronta recuperação da economia
europeia, "haja vista a diversidade e a densidade dos laços comerciais e de
investimentos que existem entre os dois países" - reduzindo a UE à categoria de "país".
Em seguida, para defender a Zona Franca de Manaus, contestada pela UE,
Dilma caprichou: "A Zona Franca de Manaus, ela está numa região, ela é o centro
dela (da Floresta Amazônica) porque é a capital da Amazônia (…). Portanto, ela
tem um objetivo, ela evita o desmatamento, que é altamente lucrativo - derrubar
árvores plantadas pela natureza é altamente lucrativo (…)". Assim, graças a Dilma,
os europeus ficaram sabendo que Manaus é a capital da Amazônia, que a Zona
Franca está lá para impedir o desmatamento e que as árvores são "plantadas pela
natureza".
Dilma continuou a falar da Amazônia e a cometer desatinos gramaticais e
atentados à lógica. "Eu quero destacar que, além de ser a maior floresta
tropical do mundo, a Floresta Amazônica, mas, além disso, ali tem o maior
volume de água doce do planeta, e também é uma região extremamente atrativa do
ponto de vista mineral. Por isso, preservá-la implica, necessariamente, isso
que o governo brasileiro gasta ali. O governo brasileiro gasta um recurso
bastante significativo ali, seja porque olhamos a importância do que tiramos na
Rio+20 de que era possível crescer, incluir, conservar e proteger.”"É possível
imaginar, diante de tal amontoado de palavras desconexas, a aflição dos
profissionais responsáveis pela tradução simultânea.
Ao falar da importância da relação do Brasil com a UE, Dilma disse que "nós vemos como estratégica essa relação, até por isso fizemos a parceria
estratégica". Em entrevista coletiva no mesmo evento, a presidente declarou que
queria abordar os impasses para um acordo do Mercosul com a UE "de uma forma
mais filosófica" - e, numa frase que faria Kant chorar, disse: "Eu tenho certeza
que nós começamos desde 2000 a buscar essa possibilidade de apresentarmos as
propostas e fazermos um acordo comercial".
Depois, em discurso a empresários, Dilma divagou, como se grande
pensadora fosse, misturando Monet e Montesquieu - isto é, alhos e bugalhos. "Os
homens não são virtuosos, ou seja, nós não podemos exigir da humanidade a
virtude, porque ela não é virtuosa, mas alguns homens e algumas mulheres são, e
por isso que as instituições têm que ser virtuosas. Se os homens e as mulheres
são falhos, as instituições, nós temos que construí-las da melhor maneira
possível, transformando… aliás isso é de um outro europeu, Montesquieu. É de um
outro europeu muito importante, junto com Monet."
Há muito mais - tanto, que este espaço não comporta. Movida pela
arrogância dos que acreditam ter mais a ensinar do que a aprender, Dilma foi a
Bruxelas disposta a dar as lições de moral típicas de seu padrinho, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acreditando ser uma estadista
congênita, a presidente julgou desnecessário preparar-se melhor para
representar de fato os interesses do Brasil e falou como se estivesse diante de
estudantes primários - um vexame para o País.
Vamos
acabar vencendo porque temos razão, repito a amigos compreensivelmente afetados
por algum surto de pessimismo. Hoje ganhamos outra briga. Até agora, além desta
coluna, só o Blog do Planalto (cujos editores decerto morrem de medo de alterar
discurseiras da chefe) reproduzia sem qualquer correção ou retoque os
aterradores improvisos de Dilma Rousseff. O Estadão é o primeiro grande jornal a publicar exatamente o
que a presidente disse em dilmês, não o que os redatores imaginam que o
neurônio solitário queria dizer.
O
restante da imprensa não demorará a entender que traduzir para o português as
falas de Dilma é um desrespeito aos leitores e um pontapé no direito à
informação correta. Os brasileiros merecem saber que são governados por alguém
incapaz de explicar o que pensa. Se é que consegue pensar.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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