Por Augusto Nunes
Em
março de 2010, com poucas horas de diferença, os presidentes do Brasil e da
Costa Rica se manifestaram sobre o tratamento dispensado pela ditadura cubana a
presos políticos e oposicionistas em liberdade vigiada. Como atesta o post
reproduzido na seção Vale Reprise, o que Lula disse durante outra visita à
ilha-presídio e o que Óscar Arias escreveu num artigo publicado no jornal El País escancararam o abismo existente
entre um palanqueiro sem grandeza e um genuíno estadista.
Passados
quatro anos, chegou a vez de Dilma Rousseff ser exposta a uma desmoralizante
comparação com Óscar Arias, desta vez provocada por opiniões antagônicas sobre
a reação brutal do presidente Nicolás Maduro às manifestações de protesto
promovidas pela oposição venezuelana. Um comunicado oficial endossado pelo
governo brasileiro formalizou o apoio incondicional dos países do Mercosul ao
companheiro ameaçado por "atos de violência", "tentativas de desestabilizar a
ordem democrática" e "ações criminosas de grupos violentos que querem
disseminar a intolerância e o ódio na República Bolivariana da Venezuela, como
instrumento de luta política".
Na
sexta-feira, de novo com um texto publicado no jornal El País sob o título Venezuela: inferno de perseguição,
o costarriquenho premiado em 1987 com o Nobel da Paz implodiu mais um monumento
ao cinismo erguido pelo clube dos farsantes. Confira:
Quero juntar minha voz ao coro de preocupação que se ouve em grande
parte da nossa América.
Multidões de estudantes e cidadãos que se opõem ao governo do presidente
venezuelano Nicolás Maduro foram brutalmente atacados com armas de fogo pelas
forças de segurança.
Em nenhum país verdadeiramente democrático alguém é preso ou assassinado
por discordar das políticas do governo ou por manifestar em público seu
descontentamento. A Venezuela de Maduro pode fazer todos os esforços de
oratória para vender a ideia de que é efetivamente uma democracia. Cada
violação dos direitos humanos que comete nega na prática tal afirmação, porque
sufoca a crítica e a dissidência.
Todo governo que respeite os direitos humanos deve respeitar o direito
de seu povo de manifestar-se pacificamente. O uso da violência é inaceitável.
Recordemos a advertência de Gandhi: “Olho por olho e o mundo inteiro se tornará
cego”.
Sempre lutei pela democracia. Estou convencido de que, se não existe
oposição numa democracia, devemos criá-la, não reprimi-la e condená-la ao
inferno da perseguição, como parece fazer o presidente Maduro.
O governo da Venezuela deve respeitar os direitos humanos, sobretudo os
dos opositores. Não há nenhum mérito em respeitar apenas os direitos de seus
partidários.
Martin Luther King Jr. disse que “os lugares mais quentes do inferno
estão reservados àqueles que num período de crise moral se mantiveram neutros.
Num determinado momento, o silêncio se converte em traição”.
Estou consciente de que estas afirmações me deixarão exposto a todo tipo
de crítica por parte do governo venezuelano. Serei acusado de imiscuir-me em
assuntos internos, de desrespeitar a soberania nacional e, quase com certeza,
de ser um lacaio do império.
Sou, sem dúvida, um lacaio do império: do império da razão, da
tolerância, da compaixão e da liberdade. Sempre que os direitos humanos forem
violentados, não vou calar-me. Não posso calar-me se a mera existência de um
governo como o da Venezuela, uma afronta à democracia. Não vou calar-me quando
estiver em perigo a vida de seres humanos que apenas defendem seus direitos de
cidadão.
Vivi o suficiente para saber que não há nada pior do que ter medo de
dizer a verdade.
A
resposta de Dilma ao jornalista que quis saber em Roma se tinha algo a dizer
sobre a crise venezuelana reiterou que, como o padrinho, a afilhada não tem
compromisso com a verdade. "Não quero tratar de problemas internos de outro país",
mentiu a avalista do infame documento do Mercosul. O post de 2010 registrou que
Arias é um democrata exemplar, um devoto do Estado Democrático de Direito que
tenta moldar um mundo mais justo e generoso. Dilma só pensa na reeleição. O
ex-presidente da Costa Rica se guia por princípios éticos e valores morais.
Dilma não sabe o que é isso.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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