Por Reinaldo Azevedo
A cada vez que vejo a baderna promovida no Rio pelo
sindicato dos professores, com o apoio dos black blocs, chego a sentir
vergonha. Nem é tanto a tal vergonha alheia (no caso, das lideranças do
sindicato). A imprensa, com as exceções de praxe, está fazendo um trabalho
lastimável nesse caso, ainda contaminada pelo espírito bronco das ruas, que não
nos deu nada e ainda nos tirou o que restava de civilidade no trato de
questões, vá lá, sociais. E isso é muito constrangedor. Quando penso que aquela
gente arruaceira, truculenta e ignorante responde pela educação de crianças e
jovens, sou tomado por certo desalento, por certa melancolia. Dou-me, então,
conta de como estamos longe, como sociedade, de dar uma resposta para um
problema que todos, à direita, à esquerda e ao centro, consideram definidor de
nosso futuro: a educação.
A VEJA.com publica uma entrevista de Cláudia Costin, secretária municipal de
Educação. Trata-se de uma profissional séria, compenetrada, que não se entrega
a chicanas. Ali estão sintetizados os pontos principais do plano de carreira
enviado à Câmara Municipal pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), já aprovado. É um
bom plano - dos melhores que há no país.
O sindicato, tomado por extremistas de esquerda,
notadamente o Psol (do santinho do pau oco Marcelo Freixo, o queridinho de
intelectuais da envergadura de Caetano Veloso, Chico Buarque e Wagner Moura),
com o apoio indisfarçado do PT, partiu para a guerra. Mantém uma greve
(parcial, é bom deixar claro) irresponsável, promove manifestações que incitam
a violência e se associa, como evidenciam os cartazes, aos bandidos mascarados
dos black blocs (aqueles que "fazem parte", como diz Caetano). A Polícia
Militar do Rio de Janeiro, sob o comando do antes santificado (JAMAIS POR
MIM!!!) José Mariano Beltrame, dá o seu show particular de incompetência e
truculência. Eu sei: é só uma minoria dos professores que protagoniza aquelas
baixarias; da mesma sorte, é uma minoria da PM que envergonha a farda. Mas são
eles a conduzir a narrativa, a dar o tom do conflito. E o bom senso que dane!
A cobertura da imprensa, especialmente das TVs,
chega a ser asquerosa. Patrulhada por todos os lados, boa parte do jornalismo
brasileiro está, literalmente, fora do eixo, tomada pela estética Ninja e pelo
padrão moral de Capilé. Se o outro-ladismo, na forma como era exercido, já era
perverso, o alinhamento ora em curso com todo mundo que sai gritando na rua
expressa um entendimento tosco, demagógico e vigarista do "direito à
manifestação". Direito que é exercido de maneira absoluta, ignorando o conjunto
de outras garantias ao qual ele próprio pertence, direito não é. Trata-se, isto
sim, de exercício de truculência. Não compreender esse primado básico
corresponde a não acatar os próprios fundamentos do regime democrático. "Regime
democrático"? Mas do que estou a falar aqui? Os heróis de Freixo, Chico,
Caetano e Moura são "socialistas", ora bolas! Logo, não reconhecem nem mesmo a
existência do "outro". São eles os donos da história.
Tudo se esgota, no fim das contas, em dar a versão
de "um lado" (os professores) e dos outros lados (a Prefeitura e, quando há
pauleira, a polícia). Até agora, por incrível que possa parecer, por mais
escandaloso que se nos afigure, ninguém se interessou pela história dos
estudantes, aqueles que estão sem aula, cujas vidas são efetivamente
prejudicadas pelo sectarismo desses barnabés da porrada, do confronto, do
conflito. Alegam isso e aquilo contra o plano - desculpas escancaradamente
ocas, intelectualmente delinquentes -, mas não aceitam mesmo, e este é o ponto
central de sua recusa, a premiação por mérito. Exercitam ainda aquela arenga
cretina de que políticas que premiam o desempenho violam princípios sagrados da
educação.
Reverentes ao espírito truculento das ruas, com
medo da gritaria de meia-dúzia de celerados que saem por aí a acusar "a mídia" por todos os males da humanidade, esses setores da imprensa de que falo acabam,
ao fim e ao cabo, investindo no obscurantismo, na estupidez e na ignorância.
Trata-se, antes de mais nada, de um exercício de covardia e também de crueldade
de classe. "Crueldade de classe, Reinaldo Azevedo?" Sim! Afinal de contas, os
filhos dos socialistas abastados do Leblon, de Copacabana e de Ipanema estão
imunes aos malefícios decorrentes dos desatinos desses trogloditas. Estudam em
escolas privadas. Os bem-pensantes, munidos de sua má-consciência, podem tomar
o seu champanhe, sentindo a brisa do mar, cientes de que fizeram a coisa certa
ao se alinhar com os supostos "interesses do povo". Isso é uma caricatura? É,
sim! Mas a "militância" que toma conta desse jornalismo também é caricatural.
"Interesses do povo"? Representados por quem? Pelos
extremistas do Psol e grupelhos afins? Não, senhores! O "povo" mesmo está lá
nos cafundós do Judas, sem aula, entregue a seu próprio destino, sem direito a
uma escola que contribua para que se livre da pobreza, do atraso e dos
dissabores de uma vida acanhada. O Brasil tem um crescimento mixuruca,
políticas públicas mixurucas e um governo mixuruca. Também o jornalismo dá
exemplos, com frequência espantosa, de mixuruquice. Está abrindo mão de pensar.
Está abrindo mão de fundamentos básicos do estado democrático e de direito, os
mesmos que, diga-se, o legitimam. Está se deixando pautar por aqueles que a
detestam e que não o reconhecem como apanágio das sociedades livres.
Tudo isso poderia ser irrelevante, mas não é. Os
sindicatos de professores são hoje um dos principais entraves a impedir uma
reforma da educação que possa tornar o Brasil (e olhem que não seria para já…)
ao menos… contemporâneo. País afora, a categoria é assombrada por
corporativistas violentos, por partidários de ideologias mortas, por militantes
de teses estapafúrdias, que não vigoram em país nenhum do mundo.
E que se note: o salário-base por 40 horas semanais
dos professores do Rio passa a ser de R$ 4.147,00. Segundo dados do IBGE de
maio deste ano, o salário médio do brasileiro é de R$ 1.792,61. O dos
profissionais com ensino superior (17,1% dos trabalhadores) é de R$ 4.135,06. O
dos sem-diploma (82,9%), R$ 1.294,70. Não se pode, pois, nem mesmo condescender
com a hipótese de que os greveiros ganhem um salário de fome. Basta olhar à
volta. De resto, as pessoas sempre são livres para concluir que a carreira que
abraçaram não está mais adequada às suas ambições. Uma coisa é certa: os alunos
não podem pagar por isso.
Chegou a hora de o jornalismo descobrir que o
conflito que envolve professores extremistas, policiais despreparados e
banditismo de arruaceiros esconde as verdadeiras vítimas dos desatinos: os
estudantes. Há anos escrevo o que agora reitero: o patrão do servidor público é
o povo, e a mercadoria que ele produz é o serviço essencial que presta. Quando
decide fazer greve, quem está do outro lado não é o "capitalista, que vai
deixar de ter lucro", MAS O CIDADÃO, QUE VAI DEIXAR DE EXERCER UM DIREITO.
Chega dessa pantomima! Esses sindicalistas precisam
de um pouco de vergonha na cara. E os setores da imprensa que fazem uma
cobertura demagógica e covarde também!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário