Por Augusto
Nunes
Ricardo
Lewandowski: "Presidente, nós estamos com pressa do quê? Nós queremos
fazer justiça".
Joaquim Barbosa: "Nós
queremos fazer nosso trabalho. Não chicana, ministro".
Ricardo Lewandowski: "Vossa Excelência está dizendo que estou fazendo chicana? Eu peço que Vossa
Excelência se retrate imediatamente".
Joaquim Barbosa: "Não
vou me retratar, ministro".
Se o temperamento não
falasse mais alto, Joaquim Barbosa poderia limitar-se a lembrar que toda
justiça lenta é injusta. Mas não há motivos para retratações, informa o
Dicionário Escolar da Língua Portuguesa editado pela Academia Brasileira de
Letras. No verbete reservado ao substantivo feminino que, nesta quinta-feira,
azedou de vez a discussão entre os dois ministros e provocou o abrupto
encerramento da sessão do Supremo Tribunal Federal, chicana aparece com duas acepções:
1. Sutilezas capciosas da interpretação da lei nos
processos judiciários. 2: Tramoia,
trapaça, sofisma, ardil.
Para dispensar-se de
desculpas, basta a Joaquim Barbosa avisar que usou a primeira acepção: desde o
início do processo, Lewandowski não tem feito outra coisa além de valer-se de
filigranas legais para interpretar a lei em favor de quem merece cadeia. Para
continuar amuado, ele teria de invocar a segunda acepção. Nessa hipótese,
correria o risco de ouvir de volta que quem interpreta textos legais
capciosamente acaba percorrendo trilhas desmatadas por tramoias, trapaças,
sofismas e ardis.
O revisor do mensalão
perdeu há muito tempo o direito de considerar intoleravelmente ofensiva a
palavra usada por Joaquim Barbosa. Como constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, ofensiva é a
procissão de manobras destinados a adiar para o próximo ano, ou para o próximo
século, o desfecho do processo aberto em agosto de 2007. Intolerável é ver um
juiz do STF no papel de advogado de defesa em combate permanente pela revogação
do castigo merecidamente imposto aos culpados.
Lewandowski não pode exigir
retratação de ninguém. É ele quem deveria desculpar-se com os milhões de
brasileiros que só exigem justiça.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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