Por Reinaldo Azevedo
Basil em que um deputado
evangélico se transforma no inimigo público nº 1 da imprensa e dos descolados -ele pode não ser a voz de Deus, mas os que querem linchá-lo não são a voz do
povo! — porque é contra o casamento gay (“Oh! Como pode? Que escândalo!”), os
que trataram e tratam os cofres públicos como se fossem assunto privado não têm
com que se preocupar. Vejam lá João Paulo Cunha e José Genoino, condenados e
cassados (questão de tempo), na Comissão de Constituição de Justiça. São
tratados pelo jornalismo como príncipes, como pensadores. Setenta e três milhões
de reais só do Banco do Brasil foram para o ralo dos larápios. Mas Genoino diz
que não houve dinheiro público naquela sem-vergonhice. Nem Ricardo Lewandowski
acreditou. Assim, não é de estranhar que Erenice Guerra — ex-braço-direito da
então ministra Dilma e depois ela própria chefe da Casa Civil, demitida na
esteira de um escândalo — esteja de volta. E mais poderosa do que nunca!
Reportagem publicada na edição
de VEJA desta semana mostra que Erenice montou um escritório de lobby numa mansão
de Brasília, desfila num carrão avaliado em R$ 200 mil, reúne-se com empresários
e agentes públicos e continua, atenção!, INFLUENTE NO PALÁCIO DO PLANALTO. Mais
do que isso: ela também lida também com questões que dizem respeito à campanha
eleitoral de 2014.
Não é a primeira que foi
defenestrada do governo e que volta com força. Dilma devolveu os ministérios do
Trabalho e dos Transportes a prepostos dos ex-ministros Carlos Lupi e Alfredo
Nascimento, respectivamente. Os dois saíram do governo tangidos por escândalos.
Como Dilma quer contar com o PDT e com PR na eleição do ano que vem, como quer
o seu tempo de TV, fez o que estava a seu alcance para contentar as duas
legendas: entregou-lhes cargos públicos; deu-lhes uma fatia da administração.
Eles, naturalmente, ficaram gratos, vão apoiar a campanha pela reeleição de
Dilma e dirão que o fazem em defesa do povo.
Como só um homem mexe com o
senso de justiça da imprensa — Marco Feliciano! —, essas negociações, assim,
meio pornôs no que respeita à moralidade pública, foram feitas a céu aberto.
Ninguém espera que o PDT ou o PR apresentem uma bula de princípios éticos para
Dilma, não é mesmo?
Com Erenice, no entanto, é um
pouco diferente. Ela não tem votos no Congresso nem tem minutos na TV. Mas,
pelo visto, tem um lugar no coração de Dilma. Na Casa Civil, conheceu as
entranhas do Palácio. Voltou, assim, meio nas sombras, mas atuando já nas altas
esferas. Leiam trechos da Reportagem de Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin. Volto
em seguida.
*
Braço-direito de Dilma no governo passado, Erenice foi demitida em setembro de 2010, duas semanas antes da eleição, depois de VEJA revelar que ela integrava um bem articulado esquema de corrupção montado no Palácio do Planalto. Com a vitória de Dilma, reconstruiu a carreira longe dos holofotes. Hoje, ela atua como lobista de sucesso – que recebe em seu escritório autoridades de primeiro escalão para negociar projetos bilionários — e participa até mesmo das articulações eleitorais em curso. Na semana passada, Erenice esteve em Fortaleza com Dilma e a comitiva da presidente, que cumpriu agenda oficial na cidade. Erenice se hospedou no mesmo hotel reservado para a equipe presidencial e agiu como se ainda fosse, formalmente, uma das estrelas do time. Ela conversou com políticos e cobrou deles empenho na campanha pela reeleição da petista. Apresentou-se sempre como uma interlocutora do Planalto e quis saber quem simpatizava com Eduardo Campos (PSB), o aliado que pode virar adversário na corrida presidencial. Há mais do que mera lealdade à amiga Dilma nesse tipo de trabalho. Há. isso sim, uma boa dose de estratégia comercial. Erenice ganha para fazer lobby de interesses privados junto ao governo do PT, no qual tem uma extensa rede de contatos.
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Braço-direito de Dilma no governo passado, Erenice foi demitida em setembro de 2010, duas semanas antes da eleição, depois de VEJA revelar que ela integrava um bem articulado esquema de corrupção montado no Palácio do Planalto. Com a vitória de Dilma, reconstruiu a carreira longe dos holofotes. Hoje, ela atua como lobista de sucesso – que recebe em seu escritório autoridades de primeiro escalão para negociar projetos bilionários — e participa até mesmo das articulações eleitorais em curso. Na semana passada, Erenice esteve em Fortaleza com Dilma e a comitiva da presidente, que cumpriu agenda oficial na cidade. Erenice se hospedou no mesmo hotel reservado para a equipe presidencial e agiu como se ainda fosse, formalmente, uma das estrelas do time. Ela conversou com políticos e cobrou deles empenho na campanha pela reeleição da petista. Apresentou-se sempre como uma interlocutora do Planalto e quis saber quem simpatizava com Eduardo Campos (PSB), o aliado que pode virar adversário na corrida presidencial. Há mais do que mera lealdade à amiga Dilma nesse tipo de trabalho. Há. isso sim, uma boa dose de estratégia comercial. Erenice ganha para fazer lobby de interesses privados junto ao governo do PT, no qual tem uma extensa rede de contatos.
No Ceará, a ex-ministra teve
uma audiência com o vice-governador Domingos Filho (PMDB) para tratar de um
projeto de exploração de energia solar tocado no estado pelo empresário Eike
Batista. Mas a base de operações dela é mesmo em Brasília, numa luxuosa casa no
Lago Sul, um dos endereços mais exclusivos da capital. Ali, funciona o escritório
Guerra Advogados Associados, que Erenice mantém em sociedade com os irmãos. O
escritório é de advocacia apenas no nome. Erenice não aparece como advogada em
nenhum processo novo sequer, nem na Justiça local nem nos tribunais superiores
de Brasília. Não sem razão. A especialidade da casa é outra: fazer lobby.
Utilizando-se das boas relações que tem no governo federal e entre políticos
petistas e de partidos aliados, Erenice bajula e é bajulada por autoridades —
de senadores da República a funcionários do alto escalão do governo — e fecha
negócios valiosos envolvendo o setor público. Na quarta-feira, ela recebeu o
secretário executivo do Ministério da Previdência, o petista Carlos Gabas. “Foi
um almoço de amigos. Conversamos sobre a vida e o que estamos fazendo para
manter nossa sanidade mental”, disse Gabas, que chegou ao escritório em carro
oficial e é quem manda de fato na pasta. “Até onde eu sei, nada foi provado
contra ela.” Não é bem assim.
No Ministério Público, após
uma investigação sumária e repleta de falhas, o procedimento destinado a apurar
as peripécias da ex-ministra de fato foi arquivado. Mas um relatório da
Controladoria-Geral da União (CGU), órgão do próprio governo, acusou Erenice de
irregularidades graves quando esteve no comando da Casa Civil. Entre elas, ter
usado o cargo para viabilizar negócios de empresas que contratavam os serviços
de consultoria de seu filho Israel. Erenice agiu ainda para favorecer a Unicel,
companhia de telefonia que tinha seu marido, José Roberto Camargo, como
representante. Esse lobby rendeu frutos num primeiro momento, mas o grande negócio
— que era a venda da Unicel para a Nextel – foi barrado pela Anatel depois de
revelado por VEJA.
(…)
Voltei
Este blog publicou com exclusividade, no dia 1º de novembro do ano passado, a operação que havia sido montada para vencer a Unicel, uma empresa falida, à Nextel. Curiosamente, informei então, coisas desse fantástico mundo das coincidências em que transitam os petistas, a Nextel estava sendo beneficiada por uma decisão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que tinha tido o dedo — ou a mão inteira — de Erenice. A operação de compra e venda transitava na surdina. Revelada, a Anatel teve de intervir e impediu a operação. Legalmente ao menos, com certeza, ela não se realizou…
Este blog publicou com exclusividade, no dia 1º de novembro do ano passado, a operação que havia sido montada para vencer a Unicel, uma empresa falida, à Nextel. Curiosamente, informei então, coisas desse fantástico mundo das coincidências em que transitam os petistas, a Nextel estava sendo beneficiada por uma decisão da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que tinha tido o dedo — ou a mão inteira — de Erenice. A operação de compra e venda transitava na surdina. Revelada, a Anatel teve de intervir e impediu a operação. Legalmente ao menos, com certeza, ela não se realizou…
Encerro
Convenham, não é? O Brasil tem coisas mais importantes e urgentes, como punir as pessoas por delito de opinião.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"Convenham, não é? O Brasil tem coisas mais importantes e urgentes, como punir as pessoas por delito de opinião.
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