Por Josias de Souza
Na semana passada, reunido com os líderes partidários da Câmara, o
deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) assumira o compromisso de moderar a própria
língua. Na noite de segunda-feira, 15, em entrevista de 40 minutos ao
apresentador Ratinho, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
não esboçou nenhuma intenção de manusear panos quentes.
Feliciano irritara parte dos seus colegas, entre eles presidente da
Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ao declarar num culto que, antes de
sua chegada, quem dava as cartas na comissão era Satanás. Ao Ratinho, disse que "essa comissão foi usada durante quase 18 anos para beneficiar um grupo." Qual? "O movimento LGTB." Por quê? "Porque essa comissão era usada como
quartel-general deles para outras coisas."
Pôs-se a desfiar o mesmo episódio que relatara no culto evangélico. Um
seminário realizado em outubro do ano passado. Chamava-se "Diversidade Sexual
na Primeira Infância". Uma "mulher de uma grande autarquia" lecionou: "Se um
menininho na creche tiver vontade de tocar no órgão genital de outro menininho,
ninguém pode impedir, porque criança não nasce homem nem mulher, nasce gênero."
Feliciano soou mais severo do que no culto em que evocara o Tinhoso: "Isso em outro tempo chamava-se pedofilia, Ratinho. E eu me posicionei contra.
Então, o tumulto que deu com a minha eleição para presidência da Comissão de
Direitos Humanos é que eu sempre bati de frente com algumas coisas que esse
grupo pensa. Direitos sim, Ratinho, privilégios não."
Ratinho mandou exibir cenas de manifestantes vociferando contra
Feliciano na comissão. O entrevistado lembra que o deputado Ratinho Júnior,
filho do entrevistador, é filiado ao seu PSC. E emenda: "Vimos aí várias
manifestações, queria que você me mostrasse algum pai de família ali. Não tem.
Não tem um pai de família se manifestando contra mim porque pai de família tem
que estar trabalhando, para colocar o pão dentro de casa, para dar estudo aos
seus filhos."
Noutro trecho, após insinuar que seus rivais são desocupados, Feliciano
acusou-os de se vender. Disse isso ao relatar que a maioria dos líderes com os
quais se reuniu na semana passada manifestou-se a favor de sua permanência no
comando da comissão - "até porque, se eu saísse, desmoralizaria o Congresso
Nacional. Qualquer grupinho é comprado com R$ 2 mil. Com R$ 2 mil você compra
15 pessoas em Brasília hoje, ativistas, para irem lá e brigar… R$ 50,00 o dia,
mais o lanchinho e o refrigerante. As pessoas iam entrar em qualquer comissão,
contra qualquer projeto e iria virar uma bandalheira aquilo. Então eu
permanneci."
Feliciano esmiuçou a passagem da reunião com os líderes em que deu um
xeque-mate no líder do PT, José Guimarães (CE). "Lá dentro, um dos líderes, o
líder do PT, bateu na mesa dizendo assim: 'você precisa sair, você tem que
renunciar.' Aí eu não aguentei, porque não tenho sangue de barata."
O deputado prosseguiu: "Eu disse: em que tribunal fui julgado? Eu não
tenho crime nenhum, minha ficha é limpa. Mas existem dois do seu partido [José
Genoino e João Paulo Cunha] que estão condenados e estão aí [na Comissão de
Constituição e Justiça]. Então, eu fiz uma troca. Eu disse: para o bem da nação
eu renuncio aqui se os dois renunciarem ali. Mas não aceitaram a proposta. Eu
permaneço na comissão."
No início da conversa, Feliciano disse que a mídia discrimina os
evangélicos. Queixou-se de que os repórtres só se referem a ele como pastor.
Ora, esqueceu de dizer que é assim, como "Deputado Pastor Marco Feliciano" que
ele se identifica no site da Câmara. Lero vai, lero vem disse que a polêmica
deu "visibilidade" ao PSC, informou que a legenda terá candidato à sucessão de
Dilma e declarou que, por ora, não cogita senão concorrer à reeleição para a
Câmara.
Fonte: "Blog do Josias"
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