Por Reinaldo Azevedo
Tá bom, né? Vamos ver.
Tá bom, né? Vamos ver.
Houve protestos ontem no Rio e em São Paulo contra
a permanência legal e democrática - se gostam ou não dele, aí é outra conversa - do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara. Na Cidade Maravilhosa, os organizadores do evento
afirmaram que 1.500 manifestantes saíram às ruas. Não há outras
estimativas. Na Cidade da Garoa, os promotores da passeata falaram em 4 mil, a
CET em 500, e a Polícia Militar, que costuma ter números mais precisos porque
tem de se preparar para garantir a segurança, em apenas 150. Essa gente está
cutucando evangélico com vara curta.
Na hora em que eles decidirem botar o bloco na rua,
aí então se vai saber o que é massa. Atenção! Eu não acho que a quantidade
define quem está certo ou quem está errado. Apenas chamo a atenção para o fato
de que aquele que promove um ato público está procurando demonstrar musculatura
popular - ou bastaria fazer os protestos virtuais; estes, sim, rendem milhares
de radicais do teclado. Ou postar uma foto nas redes sociais. Os evangélicos
respondem pelas maiores manifestações públicas do país. Digamos que tenham ido
mesmo 1.500 ao protesto do Rio… E se, por hipótese, os que querem que Feliciano
fique na comissão reunirem, sei lá, 30 mil, 50 mil? Se a intolerância de uma
maioria é fascismo, a de uma minoria é ditadura. Um evangélico chegou à
presidência da comissão por mecanismos garantidos pela democracia e não pode
ser deposto por métodos ditatoriais. É simples assim. Anima essas manifestações
essa máxima que se vê nas fotos acima: "Não me representa" - com a variante "não nos representa". Certo!
A frase não passa de uma tolice autoritária, típica
de gente que não entende o que é o processo democrático e pretende vencer no
berro, e um emblema desses tempos de minorais mimadas pela imprensa e pelos
Poderes constituídos. É claro que Feliciano não representa esses gatos pingados
que vão às ruas ou os milhares de radicais do teclado. Os representantes dessa
turma são outros - Jean Wyllys, por exemplo, que chegou à Câmara sobre uma
montanha de 13 mil votos. Feliciano não os representa, é certo, mas tem a
representação, em primeiríssimo lugar, de 212 mil pessoas que votaram nele - voto a voto, vale por mais de 16 Jeans Wyllys, ora essa!
Então, que se diga de saída: Feliciano não
representa os que protestam, mas representa outros grupos, que também podem
decidir se manifestar e ir às ruas, não é mesmo? Mas essa é ainda uma visão
pobre, reduzida, mesquinha mesmo, do processo democrático.
Wyllys não representa apenas os seus 13 mil
eleitores - em 2014, ele lava a égua porque raros políticos tiveram tanta
propaganda gratuita nos últimos tempos -, já que sua militância expressa
pensamentos e anseios de milhares, quem sabe de alguns poucos milhões,
Feliciano também não vale só por seus 212 mil votos. Ele é a expressão de muito
mais gente - e estes não são poucos milhões; são muitos.
Assim, quando um tolinho - lamento ter de escrever
assim - levanta o cartaz "não me representa/não nos representa", está
supondo que o regime democrático deve servir apenas aos propósitos do seu
umbigo; existe apenas para satisfazer as suas vontades; compraz-se em cumprir a
sua pauta. Ou é assim, ou eles decidem ir lá na Câmara e pegar o parlamentar
pelo colarinho; ou é assim, ou eles resolvem que é chegada a hora de cassar o
mandato do eleito - "afinal, ele não nos representa".
Pergunta até tola de tão óbvia: se os evangélicos
saírem em marcha bradando cartazes de Jean Wyllys com a frase "não nos
representa", isso seria expressão de homofobia? "Ah, só porque ele é gay…" E
Feliciano? Só porque é evangélico??? "Não, Reinaldo! É porque ele é homofóbico
e racista". Lamento de novo! As duas acusações são improcedentes. No fim das
contas, E É ESTE O JOGO QUE SE PRATICA, EMBORA NÃO SE QUEIRA DIZER O NOME, essa
celeuma toda existe porque ele é evangélico e tem uma pauta que não coincide
com as dos militantes. Sim, ele não os representa, mas representa outros
brasileiros, em número estupidamente maior.
"Então ficamos com o critério da maioria e pronto?" Não! Ficamos com o critério da razoabilidade e da convivência entre os
diferentes.
A outra dimensão
Tratei até agora de duas dimensões da representação: a da representação dos eleitores reais e a da representação do eleitorado potencial. Há uma terceira: a da representação de um dos Poderes da República - no caso, o mais importante deles, aquele onde a democracia tem de ser mais viva.
Tratei até agora de duas dimensões da representação: a da representação dos eleitores reais e a da representação do eleitorado potencial. Há uma terceira: a da representação de um dos Poderes da República - no caso, o mais importante deles, aquele onde a democracia tem de ser mais viva.
Feliciano é um deputado do Parlamento brasileiro.
Tem prerrogativas. A menos que cometa um dos crimes que resultam em cassação de
mandato - e isso não está configurado -, seu mandato é intocável! Apelando à
metáfora religiosa (só metáfora, viram, policiais de consciências?!), sua
investidura é sagrada no que concerne ao estado de direito. Tentar diminuí-la
ou agredi-la significa desconsiderar os fundamentos da própria democracia.
"Ah, mas a gente não gosta dele!" Paciência! Dado o
jogo democrático, terão de engoli-lo - caso ele se mostre mesmo disposto a
resistir ao maior massacre de que tenho memória na imprensa para quem não
cometeu crime nennhum. Há muito o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN),
presidente da Câmara, deveria ter posto um fim àquela pantomima. Caso se forme
um grupo de 50 que decida impedir as sessões da Câmara exigindo que Alves
responda politicamente pelos crimes de que é acusado, ele faz o quê?
a) Renuncia ao posto?;
b) estimula a baderna;
c) chama a Policia Legislativa
a) Renuncia ao posto?;
b) estimula a baderna;
c) chama a Policia Legislativa
Alguém tem alguma dúvida sobre qual alternativa ele
escolheria? Ora… Alves decidiu aderir à pauta da imprensa e das celebridades
para ver se os jornalistas esquecem, como esqueceram, a sua biografia. Está
usando o caso Feliciano como lavanderia da própria reputação. É só mais uma
feiura que se junta a essa comédia de erros.
Tolice
Vamos parar com essa tolice de "não me representa". O Parlamento, queridas minorias mimadas e celebridades, não existe com o fito exclusivo de representa-las. Também representa os outros, muito especialmente as… maiorias. A questão é saber se se vai buscar o diálogo ou o confronto.
Vamos parar com essa tolice de "não me representa". O Parlamento, queridas minorias mimadas e celebridades, não existe com o fito exclusivo de representa-las. Também representa os outros, muito especialmente as… maiorias. A questão é saber se se vai buscar o diálogo ou o confronto.
Feliciano só é presidente da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara porque os petistas deram de ombros pra ela, não a
quiseram. O PSC pleiteava outra, mas os "cúpidos do bem" - desesperados para
abarcar áreas mais influentes - não quiseram negociar. Foi o que restou aos
aliados. Antes mesmo que Feliciano dissesse um "a", começou a gritaria nas
redes sociais, com Jean Wyllys à frente e a adesão quase unânime da imprensa ao
linchamento.
Li no Globo, acho, que Wyllys admitiu que Feliciano
ocupa a presidência da comissão de maneira legal - e também legítima,
acrescento; ou se demonstre o contrário. É mesmo, é? Se é assim, por que este
senhor não toma seu assento e faz os debates necessários no âmbito da comissão?
Venham cá: os descontentes com Dilma podem tentar inviabilizar seu trabalho no
berro? Não! Quem o fizer vai em cana.
O que quer dizer "não me representa"? Que o sujeito
discorda das ideias do outro? E daí? Nesse particular, a Dilma não me
representa. O Lula nunca me representou. Mas jamais propus que fossem depostos
por isso (o Apedeuta deveria ter caído, mas por causa do mensalão de Genoino e
João Paulo, os dois condenados que estão na CCJ). A governanta não ME
representa, já que não votei nela, mas representa um Poder. Igualzinho ao
Feliciano! A|ignorância supostamente ilustrada do que seja democracia,
especialmente das celebridades, é de lascar! Vão se instruir um pouquinho!
Tentem saber como funciona o regime democrático.
Ah, sim, quase me esqueço: o Feliciano também não
me representa. Como sou um democrata, acho que ele tem de cumprir seu mandato.
É possível discordar de alguém sem aderir a uma campanha de linchamento. É
possível fazer-se ouvir no Congresso sem agredir os fundamentos da democracia.
A propósito: as celebridades que estão emprestando
a sua fama à causa representam quem mesmo?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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