Editorial
Se, no primeiro ano de governo, Dilma
teve de enfrentar a questão ética e política de conviver ou não com
"malfeitos" - resultantes do fisiologismo adotado na montagem de sua
equipe -, agora ela é confrontada por uma onda de greves no setor público, num
desafio a suas intenções de manter o equilíbrio fiscal, e, com isso, a própria
estabilidade da economia.
Em 2011, Dilma fez o que devia ser
feito, foi até o limite de compromissos político-partidários e investiu contra
esquemas de corrupção incrustados em ministérios (Transportes/PR;
Esporte/PCdoB; Agricultura/PMDB; Turismo/PMDB). Agora, depara-se com um
problema tão ou mais complexo, pois tem de enfrentar corporações sindicais
atuantes no funcionalismo, bastante fortalecidas nos últimos nove anos de
compartilhamento de poder em Brasília.
A onda grevista apanha o governo, e o
país, em mau momento: perda de velocidade na arrecadação, devido ao
desaquecimento econômico, bem como a efeitos da concessão de vários incentivos
fiscais, para reduzir custos das empresas afetadas pela desaceleração. Só as
duas medidas provisórias de incentivo aprovadas na Câmara esta semana implicam
renúncia fiscal de R$ 20 bilhões. À frente, o crescimento repõe a perda. Mas
leva algum tempo.
Acostumadas às benesses obtidas na gestão Lula, principalmente no fim do último governo, categorias de servidores querem continuar a avançar sobre o Orçamento. Não é apenas inapropriada a conjuntura econômica para fazer um emparedamento sindical do Planalto. Também os números frios das folhas de salários não o justificam.
Acostumadas às benesses obtidas na gestão Lula, principalmente no fim do último governo, categorias de servidores querem continuar a avançar sobre o Orçamento. Não é apenas inapropriada a conjuntura econômica para fazer um emparedamento sindical do Planalto. Também os números frios das folhas de salários não o justificam.
Pode haver uma ou outra disparidade
dentro do setor público, mas os servidores ganham, na grande maioria das
funções, mais que o assalariado das empresas privadas em atividades idênticas.
E ainda têm a vantagem da estabilidade.
As greves se alastram na
administração direta e estatais. Estimava-se, terça-feira, em 135 mil os
funcionários em greve, dos quais 105 mil professores universitários. As
reivindicações - como costuma ser - são irreais. Um exemplo: na Eletrobrás,
pede-se 10,7%, quando a oferta é de 5,1%.
Se, numa hipótese absurda, todas as
demandas fossem atendidas, as folhas de pagamento dariam um salto de R$ 92
bilhões, dos quais R$ 60 bilhões no Executivo - quase tanto que todo o
orçamento da Saúde. Impossível, é claro.
A presidente Dilma, há pouco,
alertou: "Não se deve, neste momento, brincar à beira do abismo." E a maneira
mais fácil de se cair nele é não reativar, como tem sido prometido, os
investimentos - os públicos e, por tabela, os privados -, e se insistir em
manter as despesas de custeio à rédea solta.
Infelizmente, o problema continua,
informou anteontem o jornal "O Estado de S. Paulo". Por não desatar nós
gerenciais para enfim deslanchar os investimentos, e, devido ao choque em
várias despesas (Previdência, linhas assistencialistas) causado pelo grande
aumento do salário mínimo, as despesas em custeio continuam lépidas. Se o
governo fraquejar diante da pressão sindical, o quadro ficará mais grave.
Dilma está numa encruzilhada que pode
definir a fase final de seu governo: em 2014 o país poderá estar na direção do
crescimento sustentado ou atolado na mediocridade de baixas taxas de expansão,
pois os investimentos exigidos pela infraestrutura, as desonerações tributárias
mais amplas, etc. não terão sido feitos.
Fonte: O Globo
Um comentário:
Se está na encruzilhada, é galinha de despacho.
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