Por Ricardo Noblat
Já valeu!
No país da jabuticaba e do jeitinho,
do esperto que leva vantagem em tudo e da impunidade que beneficia os mais
influentes e endinheirados, dá gosto ver 38 notáveis do governo passado
enfrentando anos de incerteza quanto ao seu futuro próximo.
Na condição de réus são acusados
pelos crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato,
evasão de divisas, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.
Acabarão condenados?
Convenhamos: foram condenados, embora
possam ser absolvidos pela Justiça.
Lembra-se de Fernando Collor?
Acusado de corrupção, renunciou ao
cargo de presidente para escapar do impeachment no Senado. Ignorou-se sua
carta-renúncia. Decisão política, meus caros!
O mandato de Collor foi cassado por
larga margem de votos. Mais tarde, o Supremo Tribunal Federal (STF) o absolveu
por falta de provas de que prevaricou.
Mudou a situação de Collor? Ele
passou a ser apontado como uma triste inocente vítima de escandalosa injustiça?
Collor pode se reeleger senador em
seu Estado quantas vezes queira ou quantas os alagoanos desejem. E ser tratado
pelos poderes da República com as mesuras reservadas a todo ex-presidente.
Pouco importa. Daí não passará.
Está escrito com tinta irremovível na
memória coletiva que ele deixou roubar antes e durante o seu governo. E que
desfrutou do roubo. Isso é suficiente para impedi-lo de sonhar com a
recuperação da sua imagem.
Mesura nada tem a ver com respeito.
Tem a ver com protocolo. Collor é um morto-vivo, um fantasma que vaga pelos
corredores do Senado.
As prerrogativas dele são iguais às
dos seus colegas. Nem por isso Collor é igual a eles. Faz parte de um passado
que desejamos envergonhadamente esquecer.
O "caçador de marajás" foi
uma fraude. Hipnotizou a maioria dos brasileiros ansiosos por mudanças. Os
candidatos da mudança foram para o segundo turno. Collor derrotou Lula.
Por que Lula, que considerou
"prática inaceitável" o suborno de parlamentares, confessou sentir-se
traído por antigos companheiros e foi à televisão pedir desculpas?; por que
ele, agora, se refere ao "mensalão" como uma farsa montada com o
único propósito de derrubá-lo? O que o fez mudar de lado?
Não vale responder que Lula é uma
"metamorfose ambulante". E que se reconhece como tal.
A verdade - ou algo parecido: o
julgamento dos mensaleiros é também o julgamento de Lula e do PT. Lula quer ser
lembrado como o "pai dos pobres". Não como o chefe dos mensaleiros.
Nem dos aloprados. Nem...
O julgamento marcado para começar
nesta quinta-feira não revelará o PT que temos por que esse já sabemos qual é.
Revelará o STF que temos. Um STF capaz de ignorar o clamor popular pela
condenação dos acusados - e assim afirmar sua independência. Ou um STF capaz de
ouvir o clamor - e assim dar o basta mais forte à impunidade.
Da redemocratização do país para cá,
dois dos três poderes da República se viram expostos a sucessivas avaliações da
sociedade - o Executivo e o Legislativo. Esse último foi reprovado todas as
vezes.
Chegou a hora do Judiciário, o poder
mais refratário a qualquer tipo de exame. O mais fechado. O mais autocrático.
Oremos por ele!Fonte: "Blog do Noblat"
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