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sexta-feira, 14 de junho de 2019

Falência dos clubes sociais

Imagens da 25 de Março, Euterpe Feirense, Feira Tênis Clube e Cajueiro

Por Evandro J. S. Oliveira
O surgimento de clubes sócias, foi sempre baseado em atividades motivadoras de pessoas com os mesmos interesses, clube de caça, automóvel clube, clube de regatas, clube do selo, clube de futebol..., na maioria dos casos construíam um prédio para festas, reuniões sociais, dependendo da época, quadras esportivas, piscinas, bares...
Em Feira de Santana as Filarmônicas foram a base para os primeiros clubes sociais, "25 de Março", "Vitória" e "Euterpe", esta por um grupo da sociedade feirense com o objetivo de não ter coloração política (ver postagem sobre história neste Blog Santanópolis em 29.03.2019), dominando quase dois séculos, até 1944, quando foi construído o "Feira Tênis Clube".
Dizem que uma das razões para a criação do FTC, foi o engajamento de vertentes políticas nas Sociedades Filarmônicas, criando divisão radical na sociedade.
Era moda na época clubes de tênis, esta atividade esportiva estava em alta em todo o país. Mas havia motivos mais importantes, como espaço para festas. O crescimento, vertiginoso da cidade exigia locais adequados para as festividades. Em 1943 já havia festas na quadra coberta do Colégio Santanópolis (Foto 1).
No início da década de 50, Hermínio Santos, sócio da maior empresa comercial de Feira, Marinho, Santos e Cia, apaixonado pela Filarmônica Euterpe, doou um terreno na rua Direita e liderou a construção, então o mais alto edifício da Princesa do Sertão, inclusive dotado do primeiro elevador [1], adaptando-se às novas finalidades do clube, com belas festas, atrações famosas e Micareta com grande participação.
Na década de sessenta, Osvaldo Torres que já tinha sido presidente do FTC, tentando retornar à direção, perde a eleição para Wagner Mascarenhas. Um grupo tendo à frente Osvaldo resolve construir o Cajueiro, onde juntamente com o FTC e em menor brilho a Euterpe, proporcionou por cerca de quatro décadas, homéricas festas.
Mas, em todo o país os clubes sociais entraram em decadência, a sociedade mudou, as mulheres passaram a ter mais liberdade, frequentando bares, boates, inaceitáveis antes, muitas casas passaram a construir piscinas. Os presidentes querendo marcar suas obras, abriam para sócios remidos, com estes recursos construíam piscinas quadras esportivas e outros melhoramentos, mas estes sócios não pagavam aos clubes sociais mensalidades, diminuindo sobremaneira as receitas.
O ponto da hecatombe dos clubes sociais na Bahia, foi o Clube Português em Salvador, os débitos eram tantos que no final a Prefeitura resgatou e voltou a ser praia, que nunca deveria deixar de ser.
Este episódio acendeu a luz vermelha nas outras instituições. Todas passaram a elaborarem projetos alienando parte da sede para empresas comerciais, tentando manter a atividade no residual. Bahiano de Tênis, Associação Atlética, Associação Atlética Banco do Brasil...
No caso de nossa terra, o Feira Tênis Clube já tinha perdido uma área por uma questão trabalhista. Posteriormente perdeu todo o Clube para outra trabalhista. A Prefeitura fez decreto de tombamento, impedindo a destruição do edifício sede, consequentemente os adquirentes, deixaram de fazer manutenção degradando a área.
Recentemente o prefeito Colbert Martins, declara de utilidade pública o prédio do FTC, com o objetivo em transformá-lo em Centro de Educação, parabéns Prefeito será uma grande obra.
O Cajueiro, também teve sorte de não ser demolido, para finalidades puramente empresariais.
O Clube tinha enormes dívidas, trabalhistas, tributárias, comerciais e outras. Apareceu um corretor com proposta de compra, querendo saber o valor, apresentou documento de intenção de compra, mas não revelou o pretendente da transação.
Foi convocado Assembleia Geral, esta determinou um corpo jurídico, para fazer um levantamento do total da dívida, como orientação e também consulta a avaliadores, tendo noção de estabelecer o preço a ser pedido. Nesta reunião também foi escolhida uma comissão, tendo Monteiro como presidente para continuar as negociações.
Passados tempo o corretor veio informar a desistência da compra, por parte do pretendente comprador.  O motivo foi a exigência do Dnit para obras de acesso, inclusive complexo de viadutos. Fala-se que o comprador era o apresentador Ratinho, com a finalidade da construção de um terminal de cargas.
A Comissão, então aproveitou o desejo demonstrados por vários empresários, alguns que criticaram não ter havido concorrência. Publicou edital, tornando público a venda. Corretores foram acionados esperando propostas, ofertando o terreno, nenhuma proposta apareceu. Houve a desconfiança que alguns sabendo do alto débito, o clube iria para "praça" com baixíssimo valor de arremate, como aconteceu com vários imóveis, nessa situação, exemplo o FTC com uma área de mais de 15.000 m², foi arrematado por R$ 1.800.000,00s (hum milhão e oitocentos mil reais).
Por sorte, apareceu comprador para parte do terreno, 13.601,70 m², a Moura Empreendimentos e Gestão Corporativa Ltda. (Honda), Pelo valor de R$ 3.949.219.00.
Com estes recursos, o CCC pode pagar todas as dívidas constantes na justiça, e proporcionar acordos com vários devedores. Mais importante, se alguém esperava o patrimônio ir para a "praça" a preço vil, ficou frustrado. Posteriormente livre de débitos, inclusive com a Justiça Federal, foi publicado nos jornais locais a venda da área remanescente de 37.420,30 m², vendida à proposta vencedora União de Ensino de Feira de Santana Ltda. pela quantia R$ 6.300.000,00.
O saldo, R$ 5.110.141,00, foi distribuído entre os associados que tinham direito estatutários, definidos em Assembleia e executado pela Comissão de Liquidação [2], eleita pela mesma Assembleia, sendo presidente José Monteiro Filho. Conheço alguns casos de liquidações de instituições, mas nenhuma tão detalhistas como a do Clube de Campo Cajueiro, em sua lisura.
Finalmente estaremos, se a Prefeitura de Feira concretizar a intenção de transformar o Feira Tênis Clube em instituição educacional, dando um destino, na minha opinião, muito melhor do que originalmente Clube Social, passando ser instituição educacional.
Sei que o prefeito Colbert Martins, conta com auxiliares, dos mais interessados feirenses na preservação de nossa memória, exemplos, Carlos Brito e Arsênio Oliveira entre outros. 
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[1] O elevador, dada a novidade foi tema até de piada sobre Hermínio. Conta-se que Hermínio procurando saber a um fabricante de elevadores, quanto custaria um equipamento, a resposta do fabricante foi "uns 50.000.000,00 de cruzeiros, para cima" a que Hermínio redarguiu "e para baixo quanto seria..." 
[2] Fico a vontade de parabenizar a lisura da distribuição, era associado fundador contribuinte, sendo sempre contra sócio remido, mesmo quando diretor do FTC, não era ético, me aproveitar quando dos lançamentos desta forma de associação. Um ano antes passei minha conta para terceiros, pois não frequentava mais o clube, portanto não fiz parte do rateio distribuído.
Fonte: Blog Santanópolis

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