No jornal
noticioso independente e literário "A Flor", edição de 7 de agosto de
1921, há quase 98 anos
Por
Aluizio REZENDE
No decorrer destes ultimos
tempos o cinema tem seduzido a humanidade, tornando-se a sua distração
favorita, a sua paixão predominante.
Raro é o jornalista, o poeta
e o rabiscador de croniquetas e rodapés, que ainda se não constitui amante de
uma estrela americana, da arte do silêncio.
A "Paratodos", revista
semanal que se edita com grande sucesso no Rio de Janeiro, traz-me agora, além
de outras notas curiosas acerca do cinema e sua gente romanesca, uma sessão de
sonetos feita por vates apaixonados por essas melindrosas da tela, na qual se permite que eles, pobres coitados,
derramem as suas mágoas a vontade.
Aqui em Feira mesmo, é
muitíssimo resumido o numero dos que não conhecem o arrojado Eddie Polo, o famoso Elmo Lincoln, o cínico conquistador Erich von Strohem, o irrisório Carlitos, a destemida Marie Walcamp, a genial Virginia (Brown Faire) e a debochada Priscilla (Dean).
Cada qual escolhe na tela
uma mulher bonita, e dela se faz admirador sincero e devotado. É uma amante que
se adquire facilmente, com quem se goza muito e gasta pouco.
Um mil reis para vê-la,
apenas um mil reis, é o preço de uma amante intrepida e formosa na tela do Sant'Ana. Às vezes, quando ela conta com
grande numero de diletantes no nosso meio, costuma o proprietario do referido
cinema aumentar o preço do ingresso
para mil quinhentos, dois mil reis. Mas isso ainda não é nada para se ver uma
mulher que se ama com fervor. Eu tenho dois camaradas que são os mais originaes
apreciadores do cinema, aqui na Feira. Conhecem a vida minuciosa de todos os
atores e atrizes.
Atrizes do cinema mudo Pearl White (1889-1938) e Priscilla Dean (1896-1987)
Fotos: IMDb
Um fez admirador de Pearl White, e o outro de Priscilla Dean, Por uma destas noites gélidas e tristes, emquanto eu lia atenciosamente um volume precioso do nosso delicado contista Afonso Arinos, começaram eles de falar acerca do cinema e do seu pessoal maravilhoso.
Casa qual queria elevar a
sua predileta sobre todas as outras.
O João Almeida, frequentador
incansavel do Sant'Ana, vitima
incauta da cine-mania, é um
verdadeiro manual enciclopedico da cinematografia. O tema principal das suas
palestras é o cinema. Discorre sobre ele com grande entusiasmo e claresa. Cita
o nome de quantas atrizes há, esmerando-se no sotaque gutural do inglez, la se
vai o nome de todas as coquettes que
posam films: Maude Wayne, Wanda Hawley, Marion Davies, Billie Burke, June
Caprice, nomes estes cuja pronuncia lhe parece a ele agradavelmente deliciosa,
tem para mim o que quer que seja de extravagante e de monótono...
O João Batista! Ah, este é o
mais impossivel de todos os impossiveis atacados desse mal em moda que se chama
americanismo.
(Mr. John) como eu lhe
chamo, fez idolatra ardente de Pearl White, e queria a todo custo convencer o
Almeida, de que a sua Perola Branca era
a mais bela e a mais celebre entre todas as deusas do moderno cinema.
O Almeida porém, que é
apaixonado de Priscilla Dean, não gostou muito do gracejo; e a discussão teria
infalivelmente dado em sopapos, se não fora a minha intervenção.
E, graças a um delicioso cálix
de Jerez finíssimo que ofereci a cada
um dos contendores, findou-se em paz o violento debate, no silencio da noite gélida
e sombria...
Aluizio
REZENDE (1900-1941), jornalista e poeta feirense
Registro resgatado na publicação "Memórias", de Carlos Mello e Carlos Brito, lançada pelo Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie E. Poppino.
Registro resgatado na publicação "Memórias", de Carlos Mello e Carlos Brito, lançada pelo Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie E. Poppino.
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