Por Socorro Pitombo
Que as
mulheres são poderosas, não há a menor dúvida, tanto que as questões que
envolvem o feminino são cada vez mais recorrentes e discutidas nos dias atuais.
Só o fato de gerar a vida e dar à luz já nos torna seres excepcionais desde
sempre. E sobretudo por isso, por essa condição especial, deveríamos ser mais
respeitadas.
O que nos
causa espanto é que, quanto mais se alardeia o poder da mulher, o chamado "empoderamento", termo tão em voga atualmente, mais ela se torna vulnerável
quando se trata das relações amorosas e familiares. Diariamente, somos
informados pela grande mídia, sobre agressões sofridas pelas mulheres, muitas
fatais, perpetradas pelos próprios companheiros (maridos, namorados, amantes,
ficantes, o que sejam).
Sim, porque é
no seio familiar, nas relações que deveriam ser afetivas, que elas encontram os
seus mais cruéis algozes. O feminicídio, como é denominado o homicídio contra
as mulheres, está se tornando cada vez mais corriqueiro, invariavelmente por
motivos banais. O ciúme é quase sempre o fator desencadeador desse tipo de
crime.
O grande
índice de assassinatos de mulheres não se trata de um problema isolado.
Representa, na verdade, o sintoma de um padrão de violência de gênero contra
elas em todo o país, resultado de valores machistas profundamente arraigados na
sociedade brasileira, conforme documento publicado pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (Cidh). Ainda segundo a organização, somente no início
deste ano, 126 mulheres foram assassinadas em razão do seu gênero no Brasil. A
situação exige do Estado medidas mais severas, tais como investigações sérias e
punição aos culpados.
O que nos
deixa extremamente chocados é que esse tipo de crime já se tornou banalizado. É
como se a vida, esse bem maior que nos foi concedido, não valesse mais nada.
Hoje, se matam mulheres como se fossem insetos, e o que é mais lamentável,
muitas vezes na presença dos próprios filhos. E não venham dizer que isso só
acontece nas camadas mais baixas da população, na periferia. Não mesmo!
Acontece, também, nos condomínios de luxo, entre pessoas bem-sucedidas
financeiramente e com bom nível de instrução.
É certo que a
mulher vem contabilizando muitas conquistas, tanto no plano pessoal como no
profissional. Alcançou a tão sonhada liberdade, conquistada palmo a palmo, para
se tornar uma pessoa produtiva, independente, não mais aquela senhora do lar –
não que isso seja demérito para quem escolhe e encontra a realização pessoal
nessa forma de vida. Talvez isso incomode os homens em geral, não todos, obviamente.
Numa sociedade patriarcal, como a nossa, deve ser difícil para muitos conviver
com essa nova mulher.
Se voltarmos
os olhos para tempos mais distantes podemos observar que a mulher não sofria
tantas agressões. Os dias corriam serenos entre os afazeres domésticos, o
cuidar das crianças e a atenção para o marido, o provedor da família. Mas os
tempos mudaram, a mulher se profissionalizou e vem disputando com muita garra o
seu lugar na sociedade. É bem verdade que ainda há um longo caminho a percorrer
nessa caminhada pela igualdade de condições entre os dois sexos, sobretudo no
que se refere a hierarquia e funções.
O mais
assombroso, e ao mesmo tempo alentador, "é comprovar que sempre houve mulheres
capazes de sobrepor-se às mais penosas circunstâncias, mulheres guerreiras,
aventureiras, criadoras, políticas, cientistas, que tiveram a coragem e a
habilidade de escapar a destinos tão estreitos como um túmulo", no dizer da
escritora espanhola Rosa Montero. São essas incontáveis facetas do universo
feminino que nos traz a esperança em dias melhores. Esperamos que
sejam.
Socorro
Pitombo é jornalista
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