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sexta-feira, 8 de março de 2019

Mulheres: Entre poderosas e agredidas


Por Socorro Pitombo
Que as mulheres são poderosas, não há a menor dúvida, tanto que as questões que envolvem o feminino são cada vez mais recorrentes e discutidas nos dias atuais. Só o fato de gerar a vida e dar à luz já nos torna seres excepcionais desde sempre. E sobretudo por isso, por essa condição especial, deveríamos ser mais respeitadas.
O que nos causa espanto é que, quanto mais se alardeia o poder da mulher, o chamado "empoderamento", termo tão em voga atualmente, mais ela se torna vulnerável quando se trata das relações amorosas e familiares. Diariamente, somos informados pela grande mídia, sobre agressões sofridas pelas mulheres, muitas fatais, perpetradas pelos próprios companheiros (maridos, namorados, amantes, ficantes, o que sejam).
Sim, porque é no seio familiar, nas relações que deveriam ser afetivas, que elas encontram os seus mais cruéis algozes. O feminicídio, como é denominado o homicídio contra as mulheres, está se tornando cada vez mais corriqueiro, invariavelmente por motivos banais. O ciúme é quase sempre o fator desencadeador desse tipo de crime. 
O grande índice de assassinatos de mulheres não se trata de um problema isolado. Representa, na verdade, o sintoma de um padrão de violência de gênero contra elas em todo o país, resultado de valores machistas profundamente arraigados na sociedade brasileira, conforme documento publicado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Cidh). Ainda segundo a organização, somente no início deste ano, 126 mulheres foram assassinadas em razão do seu gênero no Brasil. A situação exige do Estado medidas mais severas, tais como investigações sérias e punição aos culpados. 
O que nos deixa extremamente chocados é que esse tipo de crime já se tornou banalizado. É como se a vida, esse bem maior que nos foi concedido, não valesse mais nada. Hoje, se matam mulheres como se fossem insetos, e o que é mais lamentável, muitas vezes na presença dos próprios filhos. E não venham dizer que isso só acontece nas camadas mais baixas da população, na periferia.  Não mesmo! Acontece, também, nos condomínios de luxo, entre pessoas bem-sucedidas financeiramente e com bom nível de instrução.
É certo que a mulher vem contabilizando muitas conquistas, tanto no plano pessoal como no profissional. Alcançou a tão sonhada liberdade, conquistada palmo a palmo, para se tornar uma pessoa produtiva, independente, não mais aquela senhora do lar – não que isso seja demérito para quem escolhe e encontra a realização pessoal nessa forma de vida. Talvez isso incomode os homens em geral, não todos, obviamente.  Numa sociedade patriarcal, como a nossa, deve ser difícil para muitos conviver com essa nova mulher.
Se voltarmos os olhos para tempos mais distantes podemos observar que a mulher não sofria tantas agressões. Os dias corriam serenos entre os afazeres domésticos, o cuidar das crianças e a atenção para o marido, o provedor da família. Mas os tempos mudaram, a mulher se profissionalizou e vem disputando com muita garra o seu lugar na sociedade. É bem verdade que ainda há um longo caminho a percorrer nessa caminhada pela igualdade de condições entre os dois sexos, sobretudo no que se refere a hierarquia e funções.
O mais assombroso, e ao mesmo tempo alentador, "é comprovar que sempre houve mulheres capazes de sobrepor-se às mais penosas circunstâncias, mulheres guerreiras, aventureiras, criadoras, políticas, cientistas, que tiveram a coragem e a habilidade de escapar a destinos tão estreitos como um túmulo", no dizer da escritora espanhola Rosa Montero. São essas incontáveis facetas do universo feminino que nos traz a esperança em dias melhores. Esperamos que sejam.  
Socorro Pitombo é jornalista 

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