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quarta-feira, 20 de março de 2019

Sobre o CinemaScope


O primeiro filme visto em Feira de Santana na então revolucionária tecnologia foi "Trapézio" (Trapeze), de Carol Reed, 1956, com Burt Lancaster, Tony Curtis e Gina Lollobrigida. O Cine Íris foi reformado para instalar a tela grande em sua sala. Corria o ano de 1958. 
Foi há 54 anos, em 1953, que a 20th Century Fox, lançou o processo CinemaScope (lente anamórfica) com "O Manto Sagrado" (The Robe), de Henry Koster, com Richard Burton, Jean Simmons e Victor Mature. O cinema era retangular e espetacular.
Nos anos 1950, a televisão começava a ocupar deu lugar nos Estados Unidos. Assim, o cinema foi sacrificado. Naquele tempo, o cinema era quase quadrado, com a proporção de 1 metro por 1,33 da tevê. O enquadramento de rosto fica perfeito, ou de um personagem do torso para cima.
Então, nesse mesmo período, os estúdios de Hollywood precisavam transformar cinema em espetáculo para trazer de volta o público às salas. Em 1952, veio o Cinerama, que resolvia o problema da tela larga mas era tecnicamente caro e complicado. No ano seguinte, houve a corrida pelo CinemaScope.
Henry Chrétien, ótico francês, tinha nas mãos uma lente que fazia tela larga em câmera comum das que todos já tinham. Os executivos da Fox chegaram em seu escritório antes dos da Warner e, de lá, saíram com um contrato de licença da patente mais suas lentes que foram direto para testes nos estúdios onde já se rodava o "Manto Sagrado". Era a lente anamórfica, que distorcia a imagem no filme de 1 por 1,33. Na hora de projetar o filme, uma lente com o efeito contrário alargava e o 1,33 dobrava em comprimento: 2,66 para cada 1 de altura.
Por uma série de questões técnicas, os filmes anamórficos hoje são menos compridos, 1 por 2,35. Continua um formato. Com o surgimento do videocassete, institucionalizou-se a política já adotada pelas redes de televisão de cortar os filmes widescreen pelos lados para que encaixasse no quadrado da telinha. Se no filme comum já se perde, num filme anamórfico joga-se fora, principalmente nos filmes mais antigos, metade da tela.
Quando é bem feito este corte, a cada quadro seleciona-se que trecho há de aparecer. Em muitos casos, corta-se sempre o quadro do meio e pronto - assim, às vezes, aparecem só os narizes de dois atores que conversam. Em alguns casos, como no clássico "A Leste do Éden", de Elia Kazan, incluiu-se minutos a mais no filme para que algumas cenas onde havia ação nos dois cantos da tela aparecessem duas vezes. Primeiro um lado, depois o outro.
No tempo do DVD a cultura vai mudando. Não é regra, principalmente no Brasil. Nos EUA, em que o mercado é maior, é comum que alguns filmes sejam lançados em duas versões - uma com as faixas pretas em cima e embaixo que preservam tudo que o fotógrafo viu, outra cortada. No Brasil é meio caótico, não há critério. Às vezes, um filme de ação comum para o público geral pode ser lançado em widescreen.
Mas envelheceu bem o CinemaScope e, na sala escura, continua a proporcionar grandes espetáculos. Pena que salas grandes, daquelas onde a tela envolve o público, já não existam mais.

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