Por
Percival Puggina
Excelência, fale apenas por si. A nós, o que
nos deixa indignados é o tráfico!
A execução de alguém
é, sempre, um ato de extrema violência, que agride nossa sensibilidade. Na
madrugada de ontem, na Indonésia, um cidadão brasileiro sentiu o peso da lei
local que aplica a pena máxima para o crime de tráfico de drogas. Há dez anos,
Marcos Archer entrara no país com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de
uma asa delta. Apanhado pelo raio-x do aeroporto, conseguiu fugir, mas foi
capturado dias depois. Simultaneamente, também foram executados um holandês, um
malauiano, um nigeriano, uma mulher vietnamita e uma cidadã do próprio país.
Nossa presidente, a
mesma pessoa que sugeriu mediação internacional (por que não foi por conta
própria?) para resolver a sequência de crimes contra a humanidade que estão
sendo cometidos pelos fanáticos do Isis, primeiro pediu clemência, depois se
disse "consternada e indignada" e, por fim, engrossou ainda mais
chamando nosso embaixador em Jacarta para consultas. O Itamaraty afirmou que o
fato estabelecia "uma sombra" nas nossas relações com a Indonésia.
Excelências, sombrio é o tráfico!
Não é paradoxal? Nem
uma só palavra foi dirigida por nosso governo para desculpar-se ante as
autoridades de lá pelo fato de um cidadão brasileiro haver tentado levar para
dentro do país delas o pó da morte que passeia arrogantemente pelas esquinas,
ruas e estradas do Brasil. Foi o governo da Indonésia, com suas leis duras
contra o tráfico, que indignaram o governo brasileiro.
Certamente, para cada
traficante morto na Indonésia, um país onde esse mal deve ter proporções
pequenas, morrem no Brasil dezenas de milhares de seres humanos, vítimas da
droga e do ambiente criminoso que em torno dela se estabelece. A pergunta que
faço é: o que é melhor? Punir o tráfico com tal severidade que o sentido de
preservação da própria vida acabe com ele, ou perder milhares de vidas por ano,
executadas direta e indiretamente pelos traficantes? A quem deveria convergir
mais firmemente nossa sensibilidade, racionalidade e indignação?
Note-se que nas
execuções havia apenas uma pessoa da Indonésia. As demais eram estrangeiras.
Não disponho de estatísticas mais amplas do que essa pequena amostra, mas ela
sugere que os indonésios não andam muito dispostos a enfrentar a lei local
nesse particular.
A leniência com a
criminalidade, que se expressa tanto na nossa legislação quanto nas proteções e
garantias que oferecemos aos criminosos, transformaram o Brasil numa terra sem
lei, a partir do topo da pirâmide social.
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