Por Reinaldo Azevedo
Ai, ai,
vamos lá… Quando a gente se dá conta da máquina de assalto aos cofres públicos
em que se transformou o seguro-desemprego, é impossível deixar de apoiar as
novas regras, que dificultam o acesso ao benefício, diminuindo as
possibilidades de fraude. A matemática elementar evidencia que havia algo de
muito errado no setor: os gastos com seguro-desemprego explodiram no período em
que o desemprego caiu. Muito bem: até aqui, então, palmas para o governo.
Ocorre que as coisas são mais complexas do que isso.
Reportagem
da Folha desta segunda informa que
o governo já havia decidido dificultar o acesso ao seguro-desemprego em meados
do ano passado, mas deixou para anunciar a medida só depois da eleição. Tá. Até
aqui, vá lá, no limite do
pragmatismo, a gente ainda pode perdoar Dilma Rousseff. Afinal, se ela anuncia
a mudança antes, corria o risco de perder a disputa, e uma alteração que
favorece os cofres públicos poderia não não ter sido feita.
Mas o
busílis não está aí: Dilma fez duas coisas detestáveis, e a segunda é ainda
pior do que a primeira: 1) anunciou que não haveria nenhuma mudança nessa área;
2) atribuiu a seu adversário, Aécio Neves, intenções, segundo ela malévolas, de
cortar o que, sem dúvida, PT, CUT e assemelhados chamam de "benefícios
sociais". Aí não dá.
Notem,
então, que não foi a chegada de Levy Mãos de Tesoura ao governo que determinou
a mudança no seguro-desemprego. Isso já estava decidido, e Dilma só não
anunciou antes a medida porque sabia que ela poderia prejudicar a sua
reeleição. Até aí, reitero, ainda se pode compreender. Mas é imoral que tenha
acusado o adversário de ter uma intenção que era sua.
Aliás,
todos sabemos, não foi só nessa área. Dilma também disse que a promessa de
Aécio de levar a inflação, ao longo de quatro anos, para o centro da meta só
poderia ser alcançada com um choque de juros, que, segundo ela, conduziria os
brasileiros ao desemprego. Depois da eleição, a taxa já teve uma elevação de
1,25 ponto, o que custa ao Tesouro, em um ano, algo em torno de R$ 20 bilhões -
o valor do pacote fiscal. Era o que ela chamava de retrocesso. Foi além: disse
também que o tucano tinha a intenção de adotar medidas amargas, como elevar a
tarifa de energia elétrica e dos combustíveis, medidas que, como sabemos, a
própria Dilma adotou.
Não li o
livro "João Santana, um Marqueteiro no Poder", de Luiz Maklouf
Carvalho, em que o homem que fez a campanha do PT ataca seus críticos e
justifica os métodos da campanha vitoriosa de Dilma. Parece que ele se nega a
admitir que tenha participado da montagem de um formidável estelionato
eleitoral e que tenha comandado uma das campanhas mais sórdidas de que se têm
notícia. Bem, marqueteiros costumam ter sobre si mesmos uma opinião muito
generosa. Santana, sem dúvida, é talentoso no seu ofício. E emprestou esse
talento ao estelionato e à sordidez. Não se trata de juízo de valor. Os fatos
estão aí.
Fonte:
"Blog Reinaldo Azevedo"
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