Por Augusto Nunes
Dilma Rousseff perde o sono
em dia de pesquisa e perde o controle dos nervosos em noite de debate. É
compreensível que se apavore ao imaginar-se conversando com um jornalista
independente. Ao escapar do encontro com o excelente William Waack, a fugitiva
do Jornal da Globo poupou o cérebro baldio do colapso que seria inevitavelmente
consumado pelas perguntas que aguardavam a entrevistada. Confiram:
1. Os últimos índices
oficiais de crescimento indicam que o país entrou em recessão técnica. A
senhora ainda insiste em culpar a crise internacional, mesmo diante do fato de
que muitos países comparáveis ao nosso estão crescendo mais?
2. A senhora continuará
a represar os preços da gasolina e do diesel artificialmente para segurar a
inflação, com prejuízo para a Petrobras?
3. A forma como é feita
a contabilidade dos gastos públicos no Brasil, no seu governo, tem sido
criticada por economistas, dentro e fora do país, e apontada como fator de
quebra de confiança. Como a senhora responde a isso?
4. A senhora prometeu
investir R$ 34 bilhões em saneamento básico e abastecimento de água até o fim
do mandato. No fim do ano passado, tinha investido menos da metade, segundo o
Ministério das Cidades. O que deu errado?
5. Em 2002, o então
candidato Lula prometeu erradicar o analfabetismo, mas não conseguiu. Em 2010,
foi a vez da senhora, em campanha, fazer a mesma promessa. Mas foi durante o
seu mandato que o índice aumentou pela primeira vez, depois de quinze anos. Por
quê?
6. A senhora considera
correto dar dentes postiços para uma cidadã pobre, um pouco antes de ser feita
com ela uma gravação do seu programa eleitoral de televisão?
O que há com Aécio Neves
que até agora não formulou nenhuma dessas perguntas - claras, concisas e
contundentes - em debates na TV ou no horário eleitoral? O que espera o
terceiro colocado nas pesquisas (e em queda) para acrescentar à sequência de
interrogações dezenas de outras amparadas no colosso de casos de polícia
protagonizados pelo governo em decomposição? Por que não força a candidata à
reeleição a afundar agarrada a respostas bisonhas e álibis mambembes? Para
continuar sonhando com o segundo turno, Aécio deve gastar muito mais chumbo com
a presidente sem rumo do que com Marina. É Dilma a concorrente a ser
batida.
A onda cavalgada por Marina
parece exibir força e fôlego suficientes para alcançar a praia do Planalto. É
na onda antipetista, de dimensões igualmente impressionantes, que Aécio Neves
talvez consiga surfar. Aí reside a chance derradeira. O PT está cada vez mais
grisalho e enrugado. Sumiu o Lula que instalava postes em qualquer gabinete.
Quase todos os companheiros candidatos a governador estão mal no retrato.
Alguns resfolegam na zona do rebaixamento. Em São Paulo, por exemplo, Alexandre
Padilha, produzido e dirigido pelo chefe supremo, nem chegou aos dois dígitos.
Até agora, os milhões de
indignados com os fora da lei no poder não têm porta-voz na temporada de caça
ao voto. Nenhum candidato à Presidência ou a governos estaduais traduz o que
vai pela mente e pela alma dos humilhados e ofendidos por 12 anos de
corrupção, descaramento, cinismo, inépcia, parcerias obscenas, cafajestagem,
arrogância, agressões à liberdade e ao Estado Democrático de Direito, fora o
resto.
Na paisagem eleitoral,
falta o candidato da indignação. Talvez haja tempo para que Aécio Neves se
transforme no que desde sempre deveria ter sido e não foi.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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