Josias de Souza
borracha.
Quando o destino dá as caras, naquela fração de segundo em que o sinal muda de
verde para amarelo, o sujeito precisa decidir se pisa no freio ou no
acelerador. Faça o que fizer, não dá para apagar depois. O sinal piscou para o
PSDB no momento em que se descobriu que, em 1998, quando o governador mineiro
Eduardo Azeredo guerreava pela reeleição, as arcas de sua campanha foram recheadas
por um esquema igual ao que o PT utilizaria quatro anos depois. O mesmo
operador (Marcos Valério), a mesma casa bancária (Rural), os mesmos métodos
(empréstimos simulados, para encobrir desvios de verbas públicas).
Apanhado no contrapé,
Azeredo saiu-se à Lula: "Eu não sabia". Com isso, legitimou o lero-lero usado
pelo então soberano quando os companheiros foram pilhados comendo melado com as
mãos: "o PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil
sistematicamente." Nessa época, Azeredo era senador. Presidia o PSDB federal. E
o tucanato tratou-o a golpes de silêncio. Em vários momentos, os tucanos
disseram que discutiriam a situação de Azeredo, hoje um obscuro deputado
federal. E nada.
Em 2014, o PSDB terá de
fazer por pressão o que não fez por convicção. O STF julgará, finalmente, o
mensalão do tucanato mineiro. Conforme já noticiado aqui, são grandes as chances de Azeredo arrostar uma
condenação. Em pleno ano eleitoral, numa fase em que se espera dos partidos que
exponham suas virtudes políticas, o PSDB terá de explicar porque preferiu
manipular a moralidade alheia a olhar para o próprio rabo.
Em novembro de 2012, quando
o PT soltou uma nota acusando o STF de julgar companheiros politicamente,
condenando-os sem prova, o PSDB expediu uma contranota. Escreveu: "O Supremo
Tribunal Federal vem cumprindo o seu papel e tem contribuído enormemente
para o fortalecimento das nossas instituições e da democracia no Brasil.
O julgamento do mensalão honra as instituições brasileiras e aponta
na direção de um país mais igual, no qual a impunidade não prevalece."
Se é verdade que o destino
é caprichoso, os mensaleiros do PT estarão na cadeia no instante em que o STF
condenar o tucano Azeredo por ter cruzado o sinal vermelho na campanha de 1998.
E certas pessoas talvez compreendam a aversão das ruas de 2013 aos políticos
tradicionais. A rapaziada perdeu a paciência com dois fenômenos: tudo "o que é
feito no Brasil sistematicamente" e esse silêncio retumbante.
Fonte: "Blog do Josias"
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