Por Dora
Kramer
Geralmente o ex-presidente Lula posiciona-se
melhor calado. Não por acaso preferiu o silêncio em momentos realmente cruciais
quando no exercício do poder de fato e de direito.
Não comentou de imediato nenhum dos
escândalos ocorridos em seu governo, bem como se manteve silente durante longo
tempo por ocasião do caos aéreo iniciado em 2006.
Lula é loquaz, mas se contém quando interessa
e os companheiros compreendem mesmo ao custo de sapos indigestos.
Sob a perspectiva estratégica é que deve ser
entendida a discrição do ex-presidente diante da restrição de liberdade imposta
pelo Supremo Tribunal Federal a José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.
Quando os adversários cobram dele "firmeza de
caráter" na prestação de solidariedade aos condenados fazem apenas jogo de
cena. Seriam os primeiros a criticá-lo se resolvesse oferecer de público o
ombro amigo.
Diriam que afronta a Justiça, que desrespeita
as instituições, que se associa a malfeitorias e assim por diante.
É verdade que na Presidência Lula por
diversas vezes fez declarações memoráveis em prol de gente envolvida em
escândalos, assim como defendeu abrandamento de instrumentos de fiscalização ao
setor público e ignorou a Constituição.
Ele jura que não assistiu à sessão em
que graúdos foram condenados
Ocorre, contudo, que a hora não é propícia ao
falatório. Não mudará as sentenças, não alterará a adversa circunstância e
ainda pode prejudicar a virada da página de que o PT tanto necessita para
seguir adiante com a vida.
Se Lula e Dilma são populares, o Supremo Tribunal
Federal e seu futuro presidente Joaquim Barbosa também passaram a ser. Afora as
regulares manifestações de desagrado, não seria oportuno ao PT dedicar-se ao
mau combate investindo com agressividade contra a Corte.
O esforço do partido nesse momento é o de
dissociar-se das sentenças, mostrar ao público que a condenação dos petistas
não pode ser estendida ao PT.
Daí Lula recorrer mais uma vez à sua
desassombrada incoerência para responder "não vi" à indagação sobre a sessão em
que se deu a definição das penas.
Não viu tanto quanto nada ouviria sobre o
julgamento - "tenho mais o que fazer", disse no dia 3 de agosto - a respeito do
qual trataria em reuniões de avaliação sobre a perspectiva de condenações e
possibilidades de penas mais brandas e, ao menos uma vez, levaria ao palanque
da eleição municipal.
Quando a estridência é burrice
Pouco antes do primeiro turno, em 27 de
setembro, disse que o processo do mensalão "não é vergonha" porque "no nosso
governo as pessoas são julgadas e tudo é apurado". Esta foi uma das duas vezes
em que se manifestou publicamente sobre o assunto.
A segunda ocorreu em entrevista ao jornal
argentino La Nación, publicada em 18 de outubro, para considerar-se
devidamente "julgado pelas urnas". Pouco antes, em 10 de outubro, classificara
de "hipocrisia" a condenação do núcleo político em conversas com
correligionários.
Referências sempre oblíquas de modo a não se
comprometer nem corroborar a promessa que fizera ao deixar a Presidência de
dedicar cada um de seus dias a provar que o mensalão não existiu.
Há outras formas de Lula ser solidário sem
fazer barulho. Mal comparando, é como disse Delúbio Soares no auge do prestígio
para derrubar proposta de o PT abrir as contas de campanha na Internet:
"Transparência assim é burrice".
No caso presente, a estridência também.
Vencido
José Dirceu anuncia que não se calará diante
da "injusta sentença" a ele imposta. O inconformismo, no entanto, não basta.
Quando deixou a Casa Civil em junho de 2006
anunciou que reassumiria o mandato de deputado para comandar a defesa e o
ataque do governo no Congresso Nacional.
Não conseguiu concluir o discurso de posse,
bombardeado por apartes de seus pares que seis meses depois lhe cassariam o
mandato.
Fonte: "O Estado de S. Paulo"
Um comentário:
E com tudo isto, me arrisco a dizer que, se esse carêta se candidatar novamente à presidência do Brasil, com êsse povão tão ignorante e alienado que adora ouvir baboseiras, poderá vencer. Não estão acostumados a ler ou ouvir notícias sérias. Lula não poderia é ter vencido a primeira vez.
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