Por Ricardo Noblat
Curioso. Líderes do PT dizem não ser
"adequado" ligar Lula a Rosemary Nóvoa de Noronha, indiciada na
semana passada pela Polícia Federal por crime de corrupção ativa, e ameaçada de
ser presa a qualquer momento.
Ora, pois. Por que não seria
adequado?
Foi Lula que escolheu a moça para ser
sua secretária depois de ela ter secretariado durante 12 anos o ex-ministro
José Dirceu. Rosemary era reconhecidamente uma moça prendada.
Foi Lula que mais tarde nomeou a moça
para a chefia do gabinete da Presidência da República, em São Paulo. Ali quem
desejava vê-lo tinha de passar antes pelo crivo de Rosemary, a dona da maçaneta
da porta presidencial.
Foi Lula, apesar de dispor de gente
habilitada para isso em Brasília, quem incumbiu Rosemary de acompanhá-lo em
viagens a 24 países entre 2008 e 2009 - em média uma por mês.
Foi Lula que forçou o Senado a
desrespeitar o seu próprio regimento interno para que Paulo Vieira, indicado
por Rosemary, ganhasse uma das diretorias da Agência Nacional de Águas (ANA).
Foi Lula, mais uma vez acionado por
Rosemary, que também empregou Rubens, irmão de Paulo, como diretor da Agência
Nacional de Avião Civil.
Paulo está preso desde a semana
passada, apontado pela Polícia Federal como chefe de uma quadrilha que fraudava
pareceres técnicos de agências reguladoras e de órgãos federais.
Rubens também está preso por fazer
parte da quadrilha, assim como outro irmão dele, o empresário Marcelo
Rodrigues.
Foi Lula que interferiu junto a Dilma
para que Rosemary permanecesse como chefe do gabinete da Presidência, em São
Paulo.
A Polícia Federal gravou 122
telefonemas trocados entre Lula e Rosemary de março do ano passado a outubro
deste ano. Uma ligação a cada cinco dias. Fora e-mails passados por
Rosemary com referências a Lula.
Sabe como Rosemary chamava Lula? De
presidente? Não. José Dirceu chamava Lula de presidente. Antonio Palocci
chamava Lula de presidente. Gilberto Carvalho, idem. Rosemary chamava Lula de
"Luiz Inácio". E ainda chama.
Quem reclamava da sua falta de
cerimônia no tratamento conferido ao presidente da República, ouvia dela muitas
vezes: "Tenho intimidade com ele. Trato como quero. E daí?".
Não exagerava. Com frequência, sempre
que viajava ao exterior acompanhando Lula, Rosemary se hospedava em apartamento
próximo ao dele. Assim poderia atendê-lo com a presteza necessária.
Como, portanto, não seria adequado
ligar Lula a Rosemary?
Não separe o que o destino uniu!
Lula deu uma de fraco, de cínico e de
dissimulado ao comentar a propósito da enrascada em que Rosemary se meteu:
"Eu me sinto apunhalado pelas costas".
Que falta de originalidade!
Quando estourou o escândalo do
mensalão e Lula falou em cadeia nacional de rádio e de televisão para pedir
desculpas aos brasileiros, ele disse que fora traído. E acrescentou:
- Fui apunhalado pelas costas.
Sob a ótica religiosa, Lula é o São
Sebastião da política nacional, flechado por todos os lados. Sob a ótica pagã,
é o Tufão, personagem da novela "Avenida Brasil", enganado pelas
mulheres.
Rosemary leva vida modesta. Empregou
o marido e uma filha no governo, mas não tem dinheiro para fazer face a uma
eventual emergência médica, por exemplo.
Na condição de interlocutora
privilegiada de Lula, recebia mimos aqui e acolá. Eram retribuições de favores
que ela fazia. Nada de grande valor. E, no entanto, em pedindo tudo lhe seria
dado. Quem duvida?
Ela pediu para Paulo Vieira o emprego
na ANA. Mas quem pediu a Rosemary para que pedisse a Lula o emprego almejado
por Paulo?
Carlos Minc, na época ministro do
Meio Ambiente, sugerira a Lula o nome de uma técnica para a vaga que acabaria
ocupada por Paulo. Lula desprezou a sugestão de Minc. Que no último fim de
semana fez uma espantosa confissão:
- Naquela época, o nome desse cara
(Paulo Vieira) já não cheirava bem.
Por que Minc não procurou Lula
naquela época para adverti-lo de que o nome de Paulo cheirava mal? Por que Minc
não conta agora o que sabia a respeito dele?
Por que Lula não explica seu esforço
para emplacar Paulo na ANA?
Ao chegar no Senado o nome de Paulo,
líderes do PMDB procuraram líderes do Democratas e do PSDB e propuseram:
- Vamos derrubar a indicação?
"Eu topei porque meu negócio
como líder do Democratas era derrotar o governo sempre que pudesse", relembra
José Agripino Maia (RN), hoje presidente do partido. Pelo mesmo motivo, topou o
líder do PSDB, Arthur Virgílio.
Na votação em plenário deu empate. No
mesmo dia, ao se repetir a votação, a indicação foi derrotada pela diferença de
um voto. Não poderia haver uma terceira votação, segundo a Comissão de
Constituição e Justiça do Senado.
Dali a quatro meses houve, sim, por
insistência de Lula. O Democratas e o PSDB foram pegos de surpresa. O PMDB havia sido
apaziguado por ação direta dos senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros
(AL).
A sombra de José Dirceu pesa sobre a
história investigada pela Polícia Federal desde o ano passado, revela a
procuradora federal Suzana Fairbanks.
Em 2003, primeiro ano do primeiro
governo Lula, Paulo Vieira filiou-se ao PT. No ano seguinte, teve 55 votos e
não se elegeu vereador em Gavião Peixoto, cidade de menos de cinco mil
habitantes a 310 quilômetros da capital paulista.
Paulo tirou a sorte grande em 2005:
foi nomeado pelo então ministro chefe da Casa Civil José Dirceu para o cargo de
assessor especial de controle interno do Ministério da Educação.
Rosemary sempre recorria a Dirceu
para atender interesses da quadrilha comandada por Paulo, assegura a
procuradora Fairbanks. Costumava citá-lo como "JD".
Paulo usou o nome de Dirceu para
tentar obter a ajuda de Cyonil da Cunha Borges, auditor do Tribunal da Contas
da União e, ao fim e ao cabo, delator do esquema desmontado pela Polícia
Federal.
Cyonil chegou a receber R$ 100 mil
dos R$ 300 mil que Paulo lhe prometera em troca de um parecer favorável à
Tecondi, empresa que opera no Porto de Santos. Dirceu prestava consultoria à
empresa, de acordo com Paulo.
Como os R$ 200 mil restantes não lhe
foram pagos, Cyonil bateu às portas da Polícia Federal, devolveu os R$ 100 que
embolsara e entregou todo mundo.
Dirceu nega tudo.
Lula nada diz.
Rosemary jura inocência e ameaça
falar caso seja presa.
Sai de cena o Escândalo do Mensalão.
Entra o Rosegate. Alguma sugestão
melhor de nome?
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Pouca Vergonha Petralha I, II, III,etc.
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